sexta-feira, 12 de junho de 2015

Dilma pede compreensão ao PT e que militância saia em defesa do governo

MARINA DIAS, CÁTIA SEABRA e JOÃO PEDRO PITOMBO - Folha de São Paulo


Diante de dirigentes petistas insatisfeitos com a condução de sua política econômica, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta (11) que o PT deve "fazer a leitura correta da conjuntura" e pediu que a militância saia em defesa de seu governo.

Em discurso na abertura do 5º Congresso Nacional da sigla, em Salvador, a presidente justificou o ajuste fiscal e disse que essas são medidas necessárias para fazer o Brasil voltar a crescer.

"O PT é um partido preparado para entender que, muitas vezes, as circunstâncias impõem movimentos táticos para alcançar o objetivo mais estratégico, a transformação do Brasil em uma nação desenvolvida e mais justa."

No momento em que PT e Dilma parecem cada vez mais distantes, a presidente pediu que ambos caminhem unidos e que militantes "não se submetam aos que torcem pelo fracasso do governo e do partido". Segundo ela, os petistas precisam se "municiar de informações e argumentos que desmintam a informação de que o país está paralisado."

Em resposta aos grupos que afirmam que sua política é contraditória com seu programa de governo, ela disse que as medidas tomadas foram "fortes" e "conscientes" para que o governo "preserve os direitos dos mais pobres e daqueles que mais precisam do apoio do Estado."

Na lateral do auditório, um grupo de militantes estendeu uma faixa onde se lia "abaixo o plano Levy", em referência ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Pedro Ladeira/Folhapress
Presidente Dilma discursa durante abertura do 5º congresso nacional do PT, em Salvador,
Presidente Dilma discursa durante abertura do 5º congresso nacional do PT, em Salvador


DISPERSÃO

Dilma começou seu discurso perto das 23h, com o auditório cheio dos cerca de 520 delegados que compareceram à abertura do evento. A partir da metade de sua fala, de quase 50 minutos, a plateia ficou dispersa. Muitos começaram a ir embora.

No discurso do presidente do PT, Rui Falcão, na abertura, quase não se ouvia a fala do dirigente. Petistas formavam rodas de conversas paralelas, tiravam selfies, conversavam alto, em um clima de dispersão raro em reuniões da sigla.

O único discurso ouvido com mais atenção foi o do ex-presidente Lula, que disse que "há dez anos tentam matar o PT, mas o PT está vivo". Ele afirmou que o partido não pode decepcionar seus eleitores.

Mais uma vez Lula acusou a imprensa de atacar o partido. Ele listou demissões em empresas de comunicação e afirmou que esse é o setor que mais demite no Brasil.

"Só este ano tiveram 50 demissões de jornalistas na Folha de S.Paulo, 120 demissões no 'Globo' [trecho inaudível]. A revista mais sórdida deste país teve que entregar metade de seu prédio e fechar 20 títulos de suas revistas", afirmou ele, referindo-se à "Veja" e à Editora Abril.

"Esses veículos falam tanto do nosso governo, não são capazes de administrar a própria crise sem jogar o peso nas costas dos trabalhadores. E acham que podem ensinar como se governa um país com mais de 200 milhões de habitantes", completou Lula.

Em sua fala, anterior à de Lula e à de Dilma, Rui Falcão havia expressado insatisfação com a política econômica do governo petista, mas evitou fazer críticas diretas ao ajuste fiscal.

Ele disse que uma política econômica "firme com os fracos" e "frouxa com os fortes" seria inaceitável para a sigla. 

Apesar de insistir que o PT está "sob forte ataque" e que o partido está sendo "criminalizado", Falcão faz uma autocrítica ao dizer que o PT precisa "assumir responsabilidades e corrigir rumos".

Até sábado (13), 800 delegados petistas discutirão os novos rumos do partido durante o congresso.

Colaborou Mariana Haubert