sexta-feira, 26 de junho de 2015

Consultor diz que trabalhou de graça para a campanha de Pimentel. Quadrilha Lula-Dilma operando de graça? Nem morta!

Andréia Sadi - Folha de São Paulo


O consultor Mário Rosa, dono da MR Consultoria, disse nesta quinta-feira (25) que contratou a Oli Comunicação, pertencente à primeira-dama de Minas Gerais, Carolina Oliveira, para que ela o auxiliasse em uma das maiores "crises empresariais" dos últimos anos.

Ele pagou cerca de R$ 2 milhões para a empresa de Carolina –metade do faturamento da empresa dela, de 2012 a 2014. Por uma questão contratual, Mário não revela os nomes dos clientes.

A Polícia Federal aponta os grupos Marfrig e Cassino (controlador do Pão de Açúcar) como autores de repasses de R$ 595 mil e R$ 362,8 mil, respectivamente, para Carolina. Nesta quinta, a empresa de Mário foi alvo de busca e apreensão em Brasília.

Rosa nega privilégios com os clientes com contrato no BNDES –o banco estatal é subordinado ao Ministério do Desenvolvimento, à época comandado pelo governador Fernando Pimentel.

Rosa, que também é estrategista de comunicação, atuou como consultor informal na campanha de Pimentel. Ele diz ter trabalhado de graça.

"Tenho dois modelos de atendimento: os 'planos de saúde', que são as empresas privadas, cobro mediante contrato. E os que chamo de 'SUS', que são todos os demais e atendo de graça."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
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Folha - Você é um gerenciador de crises dentro de uma crise.
Mário Rosa - Sou conselheiro de escândalo há 20 anos. Sou um carteiro que está no meio de uma zona conflagrada. Situação curiosa. Acabo sendo parte, mas penso assim, sem pretensão: se você é o Massa e está correndo a Fórmula 1 e ele cai, só cai porque você está na Fórmula 1. Então é um acidente de trabalho, faz parte do jogo. Todo o meu dinheiro é declarado, eu pago todos os impostos e emito todas as notas fiscais.

Como foi a contratação da Carolina?
Por uma questão de regra contratual eu não posso mencionar os clientes privados que eu atendo, mas minha empresa contratou a empresa da Carolina quando ela não era agente público. Ela me ajudou muito em uma das maiores crises empresariais e privadas da história do país nos últimos anos, prestou aconselhamento, ajudou a fazer avaliação de cenário, era muito bem relacionada na imprensa. E nessa crise, no dia a dia, era importante monitorar ações do nosso contendor naquele momento, foi muito importante ter noção de imprensa naquele cenário. A solução desse conflito empresarial entre dois agentes privados foi solucionada em um ambiente privado. Não teve arbitragem nenhuma de nenhuma instância pública.

Mas Pimentel era ministro do Desenvolvimento na época.
Carolina trabalhou na maior empresa de comunicação do país, me ajudou muito a conduzir um trabalho que exigia discrição, qualificação e muito profissionalismo. O trabalho foi feito mediante celebração de contrato entre a minha empresa e a dela, com notas fiscais emitidas entre as empresas e todos os impostos recolhidos, dentro do que determina a legislação. Nunca recebi nenhum centavo de nenhum governo. Eu nunca tive um centavo da esfera pública.

Você conversou com Pimentel sobre esses casos?
Tratava com ela, eu a conheci numa crise de comunicação e lidei com ela como jornalista especializada em comunicação. Depois que ela saiu do governo e abriu uma empresa, aí fizemos contrato –que já terminou também. Foi apenas por um período específico também.
Mas ela participou de reuniões com este cliente privado, eu a consultava várias vezes ao dia, [fazia] telefonemas várias vezes ao dia.

Mas vocês não foram beneficiados pelo fato de Pimentel estar no Ministério do Desenvolvimento enquanto a mulher dele trabalhava com empresas que tiveram dinheiro do BNDES?
Acho que o fato de ela ter tido trajetória profissional diferenciada permitiu que tivesse acesso aos principais formadores de opinião do país, e o que eu precisava naquele momento era alguém que me ajudasse a ver como os jornalistas estavam vendo essa guerra, ela me ajudava nisso. Era uma pessoa que era receptora de demandas de jornalistas e extremamente importante. Essa batalha empresarial que eu citei era entre agentes privados, governo não teve participação nem favorável nem desfavorável. No caso específico, as relações pessoais dela não me ofereceram nem vantagem nem desvantagem.

Carolina recebeu metade do seu faturamento por esses serviços.
Ao longo de 2,5 anos minha empresa teve relação empresarial com ela. Posso garantir que meu faturamento neste período foi muito maior que qualquer pagamento que eu tenha feito a algum outro parceiro meu no atendimento dos meus clientes.

Você trabalhou na campanha do Pimentel?
Eu sou chamado para dar aconselhamento para políticos de todos os partidos em situação de crise de comunicação. Campanha politica é uma crise de comunicação, com dia e hora para acabar, que é o dia da eleição. Eu participei de decisões estratégias e reuniões, mas eu jamais recebi um centavo da campanha do Fernando Pimentel, de nenhuma empresa ligada a nenhum dos investigados. Jamais recebi dinheiro de campanhas. Emprestei meu conhecimento, como participei de outras campanhas em 2014 também.

Mas como? De graça?
Tenho dois modelos de atendimento. Os 'planos de saúde', que são as empresas privadas, cobro mediante contrato. E os que chamo de 'SUS', que são todos os demais e atendo de graça. Eu treino a minha mão: é como se fosse um perito forense. Nunca tive interesse comercial nessa área, mais curiosidade e aprendizado. As crises políticas são tão intensas e dinâmicas que isso me serve quando vou atender pessoas com problemas menos complexos. Sempre separei de maneira clara. Participava sem nenhum vínculo, doava o que era meu: o meu tempo.

Qual a relação do Bené na campanha do Pimentel? E a sua com ele?
Eu sabia que o Bené existia, mas eu lidava com a equipe de comunicação. Temos relação de amizade, por ele morar em Brasília e eu também, mas não tem nada a ver com esse pessoal de Minas.

Usou o avião do Bené?
Devo ter voado, já peguei várias caronas.

E com Danielle Fonteles, da Pepper?
É minha amiga, sou amigo do marido dela. Mas jamais recebeu dinheiro meu e vice-versa.