À procura do teleprompter perfeito após a queda de popularidade apontada pelo Datafolha, a presidente Dilma Rousseff resolveu apelar ao marqueteiro da campanha mais suja da história e também autor de seu discurso de posse. O encontro de Dilma e João Santana, com quem ela não conversava desde então, está marcado para sexta-feira 13, segundo a Folha.
A data marcará o lançamento do programa governamental “Mais Marketing”.
A julgar pelo livro recém-lançado João Santana, um marqueteiro no poder, de Luiz Maklouf Carvalho, o homem cujas empresas receberam do PT nas últimas eleições um total de 158 milhões de reais (60,5 milhões só em 2014) fará uma avaliação do momento atual com base na emoção e no sentimento dos brasileiros, como fez durante o período das manifestações de 2013.
Nas duas ocasiões, a queda de popularidade de Dilma foi praticamente a mesma, mas as circunstâncias são bem diferentes.
No começo de julho de 2013, a perda de 21 pontos apontada pelo Datafolha abria, pela primeira vez, a possibilidade de segundo turno na eleição que viria em 2014. “Essa pesquisa tem o valor de uma vaia em estádio. Não passa de catarse temporária. Redobro a aposta: Dilma ganha no primeiro turno”, dissera Santana à Folha.
Como se sabe, a presidente só ganharia no segundo turno, mas, dois meses depois daquela pesquisa, seu índice já subira para 38% de “ótimo” e “bom”.
Na ocasião, Santana explicou sua previsão parcialmente acertada: “Eu vou pela nomenclatura de um dos caras mais geniais que leio, o António Damásio. É quem mais me influencia, quem mais me ajuda a pensar. Ele trata da questão emoção-sentimento. Junho era uma emoção, não era um sentimento. O sentimento das pessoas em relação a Dilma não foi modificado. Para isso precisaria de uma série de condições objetivas, concretas, que não aconteceram.”
O livro do médico neurologista e neurocientista que Santana cita, lido e relido, é Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos, de 2004: “As emoções ocorrem no teatro do corpo. Os sentimentos ocorrem no teatro da mente”, explica Damásio. “As emoções são ações ou movimentos, muitos deles públicos, que ocorrem no rosto, na voz, ou em comportamentos específicos […]. Os sentimentos, pelo contrário, são necessariamente invisíveis para o público”.
Santana contou a Maklouf que suas próprias pesquisas mostravam que a maioria dos atributos da presidente Dilma tinha avaliação positiva.
“É honesta? Tem comando? Tudo com mais de 70. O governo está gerindo bem, a economia está bem? Está. Eram resultados que confirmavam uma série histórica, com trações de continuidade. Se o país não entrou em default, se o salário das pessoas continua, se a inflação teve um soluço, mas não chega a ser desbragada, os protestos não podiam ser em relação a Dilma, especificamente. Então era emoção – e não sentimento.”
As diferenças para 2015
Agora o cenário é outro. Cerca de metade (47%) dos brasileiros considera Dilma desonesta, falsa (54%) e indecisa (50%); 77% acreditam que ela sabia do Petrolão; 44% classificam o governo como ruim ou péssimo; 43% veem a atuação do governo na economia como ruim ou péssima; 55% de brasileiros dizem que a economia vai piorar; 81% acham que a inflação vai aumentar (assim como os analistas do mercado financeiro, cuja projeção é de 6,60%, acima do teto da meta de 6,50); sem contar a perda de apoio entre pobres e nordestinos, dado que mais assustou a presidente, segundo a Folha.
Agora o cenário é outro. Cerca de metade (47%) dos brasileiros considera Dilma desonesta, falsa (54%) e indecisa (50%); 77% acreditam que ela sabia do Petrolão; 44% classificam o governo como ruim ou péssimo; 43% veem a atuação do governo na economia como ruim ou péssima; 55% de brasileiros dizem que a economia vai piorar; 81% acham que a inflação vai aumentar (assim como os analistas do mercado financeiro, cuja projeção é de 6,60%, acima do teto da meta de 6,50); sem contar a perda de apoio entre pobres e nordestinos, dado que mais assustou a presidente, segundo a Folha.
Em que pese a facilidade com que o povo brasileiro se deixa enganar de novo e de novo e de novo pelo marketing do governo e de seus “pacotes anticorrupção”, sua avaliação da presidente Dilma reflete hoje muito mais “sentimento” do que aquela “emoção” de 2013.
Manter aceso esse sentimento é dever moral da oposição e de todos os cidadãos de bem “dêsti paíf”, que têm um encontro nas ruas marcado para 15 de março. Preparem-se, porque a dose de maquiagem, cinismo e embuste promovida pelo marqueteiro terá de ser redobrada, assim como provavelmente o seu salário.
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