Ana Paula Ribeiro - O Globo
Aumento do preço das matérias primas pressionam cotação; Bolsa subiu 0,69%
A queda do preço das matérias-primas no exterior e sinais de recuperação na economia americana fizeram o dólar avançar diante o real nessa quarta-feira, que voltou ao patamar de março de 2005. A moeda americana fechou em alta de 1,78%, a R$ 2,740 na compra e a R$ 2,742 na venda, maior cotação de fechamento desde os R$ 2,75 do dia 23 de março de 2005. Em dezembro, a divisa chegou a ser negociada acima desse patamar, mas sempre recuava e fechava em um valor menor. Já o Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, subiu 0,69%, aos 49.301 pontos.
Na avaliação de Luciano Rostagno, estrategista do Mizuho Bank, a queda forte do preço das commodities nessa quarta-feira aumentou a percepção de risco em relação ao países emergentes que são exportadores de matérias primas, como o Brasil. No caso do petróleo, a queda é de 5,23% no do tipo Brent, a US$ 54,88, e de 7,65% no caso do WTI, a US$ 48,99. No caso do minério de ferro negociado em Qingdao (China), o preço da tonelada caiu 1% para US$ 62,58, voltando ao patamar de maio de 2009.
— Os preços das commodities começaram a cair mais forte depois do anúncio do estoque de petróleo nos Estados Unidos, que ficou acima do esperado. A percepção é que haverá uma demanda menor por commodities — explicou Rostagno, lembrando que os estoques subiram em 6,3 milhões de barris, para 413,1 milhões.
Ainda no campo externo, a Grécia causa muita incerteza e, nos Estados Unidos, embora os dados de emprego no setor privado tenham ficado abaixo do esperado, ainda são considerados fortes, ou seja, mais um sinal de recuperação da economia americana, o que abre espaço para a alta de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
E os dados internos também não ajudam. Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora, lembra que também ocorre uma correção em relação ao pregão de terça-feira, em que a moeda caiu, mas sem estar respaldada em fundamentos.
— A queda de terça-feira, de 0,77%, foi exagerada. A tendência para o dólar é de alta no mundo todo. E internamente não tem nada bom, a balança comercial está ruim e as contas públicas também. E o ministro Joaquim Levy (Fazenda) já avisou que o governo não irá manter o dólar artificialmente valorizado — disse.
Nem mesmo o anúncio, por parte do Banco Central, de que o fluxo de recursos para o país ficou positivo em US$ 3,9 bilhões em janeiro aliviou o movimento de alta da moeda americana.
PETROBRAS E BANCOS PUXAM ALTA NA BOLSA
A principal notícia do pregão foi a renúncia da presidente da Petrobras, Graça Foster, e a reunião do Conselho de Administração da empresa na próxima sexta-feira., que irá escolher os novos diretores. As ações da estatal chegaram a subir mais de 7% nessa manhã, mas perderam a força no decorrer dos negócios. .
As ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras subiram 0,20%, cotadas a R$ 10,02, e as ordinárias (ONs, com direito a voto) registraram valorização de 1,12%, a R$ 9,90 - na terça-feira esses papéis já haviam subido mais de 15%. Os papéis da estatal estão em alta apesar da queda do preço da cotação do petróleo no mercado externo.
Na avaliação de Elad Victor Revi, analista da Spinelli Corretora, os investidores esperam por mudanças, e por isso a forte volatilidade nas ações da estatal.
— Entendo que o mercado trabalha na expectativa de mudança, mas eu ainda considero muito cedo especular sobre quais poderiam ser essas mudanças e o impacto disso na companhia — avaliou.
Pela manhã, a Petrobras divulgou um comunicado ao mercado afirmou que o Conselho de Administração se reunirá na próxima sexta-feira para eleger a nova diretoria "face à renúncia da presidente e de cinco diretores".
Para analistas, apesar da alta, a empresa enfrenta um momento difícil. "Independente de que vier assumir o controle da empresa, é importante lembrar dos problemas atuais, como: alto endividamento, problemas para liberação do balanço e possibilidade de execução antecipada de parte de sua dívida, possível perda do grau de investimento, o que dificultará novas captações, e a queda no preço do petróleo", avaliaram os analistas da Yield Capital.
CENÁRIO EXTERNO NEGATIVO
As ações do setor bancário, que possuem o maior peso na composição do índice, tiveram um pregão de recuperação. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco subiram 3,67% e os do Bradesco registraram avanço de 2,51%. No caso do Banco do Brasil, as ações dispararam 6,95%. De acordo com um operador, as ações do BB, por terem uma maior influência do governo, acabaram caindo muito nos últimos pregões, o que justifica a alta acima da média do setor nessa quarta-feira.
Já a as ações da Vale enfrentaram novo recuo. As preferenciais caíram 1,27% e as ordinárias recuaram 1,53%, acompanhando a queda no minério de ferro no exterior. De acordo com Revi, o que tem contribuído para o mau humor do mercado é a economia brasileira. Apesar das medidas de ajuste fiscal serem positivas para o crescimento de médio e longo prazo, ele deverá afetar o desempenho das empresas no curto prazo, o que justifica a forte volatilidade na Bolsa.
— O país requer esse ajuste fiscal, mas isso prejudica momentaneamente as empresas, seja por aumento do custo da energia ou de impostos. O mercado está reagindo a isso — disse.
No mercado externo, as atenções estão voltadas a China. O Banco Central chinês reduziu as taxas de compulsório em 0,5 ponto percentual, o que deve liberar aproximadamente US$ 80 bilhões no sistema bancário. Do lado negativo, no entanto, pesam preocupação com a situação da Grécia.
Os principais índices globais não apresentam um comportamento uniforme nessa quarta-feira. Na Europa, o DAX, de Frankfurt, fechou em alta de 0,19%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, subiu 0,39%. Em Londres, o FTSE 100 recuou 0,17%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones opera em alta de 0,23% e o S&P 500 cai 0,22%. As bolsas americanas operam até as 19h (horário de Brasília).