O Globo com agências internacionais
Numa aliança incomum, novo premier fecha acordo com o pequeno Gregos Independentes, que também se opõe à austeridade
ATENAS — O novo premier grego, Alexis Tsipras, líder da esquerda radical, fechou acordo com um pequeno partido de direita, numa aliança incomum para obter maioria no Parlamento e enfrentar anos de dolorosa austeridade após a vitória de seu partido Syriza nas eleições de domingo. Os Gregos Independentes, agora parte da coalizão, também se opõe ao plano de resgate internacional. Tsipras fará seu juramento de posse às 16h (locais, 12h de Brasília).
— A partir deste momento, há um governo no país. Os Gregos Independentes dão um voto de confiança ao primeiro-ministro Alexis Tsipras. Existe um acordo de princípio — anunciou o líder do Gregos Independentes, Panos Kammenos, após conversas com Tsipras na sede do Syriza em Atenas.
Um acordo com o partido de direita faz uma aliança rara entre partidos em polos opostos do espectro político, mas unidos por uma insatisfação com o programa de resgate e a União Europeia.
O Gregos Independentes nasceu de uma divisão da Nova Democracia, mas logo popularizou-se com políticas mais à direita que as do partido do agora ex-premier, Antonis Samaras. Entre as principais políticas da legenda liderada por Kammenos, estão a rejeição à imigração e apoio ao ensino cristão. No entanto, assim como o Syriza, é contra as medidas de austeridade e também é forte crítico da União Europeia e do FMI. O GI também não segue a linha das políticas mais radicais do Aurora Dourada, de extrema-direita e inspiração fascista.
O sucesso do partido de Tsipras reacende o temor de novos problemas financeiros no país.
É a primeira vez que um membro da zona do euro — formada por 19 nações — será liderado por uma legenda que promete romper as políticas de austeridade, fortalecendo movimentos semelhantes em outros países. No entanto, o discurso foi usado de maneira mais comedida por François Hollande em sua campanha para a presidência da França, que acabou cedendo a pressões e optou por manter uma lógica pragmática.
Com 99% das urnas apuradas, o Syriza conquistou 149 assentos no Parlamento de 300 lugares, dois a menos que uma maioria absoluta, enquanto o Gregos Independentes obteve 13 cadeiras. O resultado marcou uma ampla rejeição aos anos de austeridade exigidos pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um resgate de 240 bilhões de euros.