Depois do massacre na mercearia kosher, em Paris, onde quatro judeus foram mortos pelo terrorista islâmico Amedi Coulibaly na sequência do ataque contra o jornal satírico Charlie Hebdo, a Agência Judaica para Israel estimou que pelo menos 10.000 judeus residentes na França migrarão em 2015 para terras israelenses. Em 2013, foram 3.000 e, em 2014, 7.000.
Os motivos pelos quais cada vez mais judeus estão fazendo as malas em busca de refúgio ficaram ainda mais claros nesta terça-feira com a divulgação de um relatório da organização judaica francesa SPCJ sobre o antissemitismo no país em 2014. Em resumo:
1) O número de atos antissemitas cometidos em solo francês dobrou: foram 851 contra os 423 de 2013;
2) Os atos antissemitas violentos aumentaram em 130%: 241 contra 105.
3) De todos os atos racistas cometidos na França, 51% tiveram como alvo os judeus, ou seja: menos de 1% dos cidadãos da França foi alvo de mais da metade dos atos racistas cometidos no país;
4) O aumento de 30% da quantidade de atos racistas cometidos na França se deveu exclusivamente ao aumento da quantidade de atos antissemitas, até porque os demais atos racistas tiveram uma diminuição de 5% em sua quantidade em relação a 2013;
5) Algumas das cidades mais afetadas por atos antissemitas são Paris, Marselha, Lyon, Toulouse, Sarcelles, Estrasburgo, Nice, Villeurbanne e Créteil.
Na Inglaterra, o cenário tampouco é acolhedor e, como disse ao jornal The Guardian a comediante inglesa Maureen Lipman, que está pensando em imigrar para os Estados Unidos ou para Israel, “quando as coisas engrossam, os judeus fazem as malas”.
Uma pesquisa divulgada duas semanas atrás pelo instituto YouGov mostrou que metade dos britânicos tem alguma opinião antissemita. Em 2014, o número de ataques contra judeus no Reino Unido foi o maior dos últimos trinta anos e, só em julho, quando Israel invadiu Gaza, 130 casos foram registrados.
No dia 16 de janeiro, eu gravei a sempre ótima participação do embaixador de Israel nos EUA, Ron Dermer, no programa CNN Tonight, apresentado por Don Lemon, no qual ambos conversaram sobre a migração dos judeus da Europa para Israel. O vídeo em inglês segue abaixo. Traduzo e transcrevo em seguida os principais trechos.
A propósito: o último judeu a sair da Europa nem precisa apagar a luz, porque o terror islâmico ea esquerda ocidental já cuidaram disso.
Lemon pergunta se a declaração do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de que os judeus são bem-vindos a Israel era a mensagem correta naquele momento.
DERMER: “Ora, esta é a mensagem que todo primeiro-ministro de Israel mandou nos últimos 65 anos. Israel é a terra natal do povo judeu e a nossa mensagem para judeus de todos os lugares é que eles deveriam estar seguros onde estão, nós esperamos que os governos tomem as ações necessárias para que as comunidade judaicas tenham segurança, mas todos os judeus pelo mundo tem de saber que Israel é um lugar que eles podem chamar de lar. E quando eles vêm a Israel, eles não são tratados como estrangeiros que estão chegando, mas como pessoas que estão finalmente voltando para casa.”
Em seguida, Dermer explica que os quatro corpos dos judeus assassinados na mercearia kosher foram enviados a Israel por pedido das famílias “e eu acho que é um lugar muito especial para ser enterrado”.
Lemon pergunta por que não encorajar os judeus a ficar na França e enfrentar as ameaças terroristas: “A França não precisa da população judaica?”
DERMER: “Bem, eu acho que é bom para a França ter uma população judaica, e eu acho que o primeiro-ministro francês disse que se os judeus saírem da França, a França não será mais a França (…), mas uma coisa que ninguém está perguntando hoje sobre essa comunidade é: ‘eles têm algum lugar para ir?’ Houve judeus ao longo da história que enfrentaram perseguição e assassinatos, e eles não tinham lugar nenhum para ir, os portões estavam fechados para eles. Os portões da América e de outros países estavam fechados para eles. Israel foi estabelecida para certificar que judeus de todos os lugares tivessem um refúgio”.
Lemon mostra os números da imagem de abertura deste post e pergunta se os líderes europeus estão fazendo o suficiente para proteger a população judaica e condenar o antissemitismo.
DERMER: “Alguns estão. A chanceller [Angela] Merkel é um bom exemplo: ela apareceu em uma marcha alguns meses atrás na Alemanha e falou com muita veemência contra o antissemitismo. O presidente francês François Hollande e o primeiro-ministro francês falaram sobre o antissemitismo, mas, no fim do dia, o que está acontecendo com a comunidade judaica? Eles estão sendo protegidos? Este não é o primeiro ataque aos judeus na França. Dois anos atrás, tivemos aquele ataque terrível contra uma escola em Toulouse. Quatro pessoas foram mortas, três crianças foram mortas. Muitos compromissos foram feitos naquela ocasião, muitos declarações de solidariedade e apoio, mas infelizmente a comunidade judaica se sente muito insegura na França hoje e eu espero que isto sirva de despertador para acordar as autoridades francesas para não apenas falar, mas também fazer todo o possível para proteger sua comunidade. Eu acho que é importante para a França e para a comunidade judaica também.”
Lemon pergunta se os acontecimentos recentes fortalecem ou enfraquecem as relações entre os dois países.
DERMER: “Tenho certeza que fortalece. O primeiro-ministro [Netanyahu] veio a Paris porque quis expressar sua solidariedade com o povo francês e sua batalha contra o terror. Você sabe, Don, que Israel pede ao mundo que fique do nosso lado em nossa batalha contra o terrorismo e nós achamos que estamos, na verdade, envolvidos na mesma batalha. Então eu não tenho dúvida de que dessa experiência comum contra o terrorismo – o terrorismo islâmico militar, devo dizer -, Israel e França vão crescer juntos.”
Lemon pergunta sobre o apoio francês à Palestina.
DERMER: “Eu acho que isto foi infeliz. Acho que eles premiaram um mau comportamento dos palestinos. Uma das pessoas que estavam na marcha em Paris era o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e é ótimo que esteja marchando contra os ataques que ocorreram em Paris. O problema para o presidente Abbas é que ele está em um governo com uma organização chamada de terrorista: o Hamas, cujas escrituras pregam o assassinato de judeus por todo o mundo. Então que tipo de mensagem isto manda? Se é para ficar contra o terrorismo, que fique contra todo terrorismo, não apenas contra terrorismo contra não judeus, mas também contra terrorismo contra judeus.”
