quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Angelina Jolie volta à direção com história de herói de guerra americano preso por japoneses

Eduardo Graça - O Globo

Orçado em US$ 65 milhões, ‘Invencível’ chega aos cinemas nesta quinta-feira


O filme ‘Invencível’, de Angelina Jolie, com Jack O'Connell e Domhnall Gleeson retrata a história real do atleta olímpico Louis Zamperini
Foto: Divulgação
O filme ‘Invencível’, de Angelina Jolie, com Jack O'Connell e Domhnall Gleeson retrata a história real do atleta olímpico Louis Zamperini - Divulgação


LOS ANGELES — “Invencível”, o segundo longa-metragem de Angelina Jolie, que chega aos cinemas amanhã, é um filme de estúdio, orçado em US$ 65 milhões, com roteiro dos irmãos Joel e Ethan Coen e grandiosas cenas de batalhas da Segunda Guerra Mundial. É, também, o outro lado da moeda da primeira direção assinada pela mulher de Brad Pitt, “Na terra de amor e ódio” (2011), passado na Bósnia, com trejeitos de indie, e estrelado por atores locais.

— Atuarei em cada vez menos filmes. Quando minha mãe morreu, em 2007, comecei a perceber que a Angelina atriz era uma extensão do desejo de atuar dela. Só segui em frente por causa da mamãe, que ficava tão feliz por mim. Sem ela, o prazer no mundo do cinema foi se dissipando, até que eu descobri a direção. “Invencível” foi a peça final desse quebra-cabeças. O que eu sou mesmo é diretora de cinema — afirma, solene, a cria da canadense Marcheline Bertrand com o ator Jon Voight, vencedor do Oscar por “Amargo regresso” (1978).
Após “Invencível”, inspirado na biografia do atleta olímpico e herói de guerra americano Louis Zamperini (1917-2014), virão, ainda sem títulos em português, “By the sea”, em que ela e Pitt vivem um casal em crise, e “Africa”, em torno da luta para preservar elefantes no Quênia.

Aos 39 anos, Jolie conta que não esperava — “honestamente” — ser escalada para dirigir “Invencível”, uma das apostas da Universal ao Oscar (as indicações saem amanhã, mas o filme, que não foi unanimidade de crítica, é, na melhor das hipóteses, um azarão).

Ela acredita ter sido percebida pela indústria mais como diretora iniciante do que realeza de Hollywood, até por conta do relacionamento complicado com o pai. A diretora acha graça de si mesma ao relembrar a determinação em levar sua versão da história de Zamperini para o cinema, ilustrada pelos layouts de longas cenas do roteiro detalhados por ela. E se emociona ao lembrar o dia em que finalmente recebeu sinal verde dos produtores e pediu que Pitt desfraldasse a bandeira americana no jardim da mansão do casal, senha para o vizinho Zamperini tomar ciência da aprovação do projeto.
Encarnado no filme pelo ótimo ator britânico Jack O’Connell, Zamperini morreu em julho, aos 97 anos, pouco antes de “Invencível” ficar pronto. Filho de imigrantes italianos, ele brilhou no atletismo, chegando a disputar as Olimpíadas de 1936, serviu como aviador no esforço aliado na Segunda Guerra, passou 47 dias à deriva no Oceano Pacífico, foi capturado e seviciado, durante dois anos, pelos japoneses, e se transformou, após a rendição nipônica, em militante pacifista. A diretora esteve ao lado da família nas últimas semanas de seu biografado e chegou a mostrar ao amigo uma versão prévia do filme, que ele aprovou com louvor.

— A história do Louis me fez refletir sobre o quão facilmente nos indignamos hoje em dia com o noticiário ou mesmo provocados pelo ódio disseminado por quem nos cerca, e nos sentimos completamente subjugados por essa opressão. Ora, é preciso, apesar de tudo, levantar a cabeça e seguir em frente. O Louis não foi um super-herói, mas uma pessoa comum, que usou sua força de vontade para dar passos de reconciliação e entendimento, e se tornou alguém, de fato, maior — diz Jolie.

Também foi crucial para o filme tal qual imaginado por Angelina a escalação de Miyavi, nome de guerra do ídolo pop japonês Takamasa Ishihara, para o papel do sargento Mutsuhiro Watanabe, militar de voz cadenciada, olhar penetrante e uma fixação doentia em Zamperini.

— Para protagonista, eu queria alguém com aquela masculinidade dos anos 1940, mas abertamente emocional, como o Jack. E o Watanabe precisava ser o oposto do estereótipo do comandante japonês. O Miyavi relutou em estrear no cinema, mas se entregou como poucos estreantes a um papel tão pesado — conta ela.

“NEM TUDO PRECISA TER PESO”

Jolie se prepara agora para finalizar “By the sea”, ao lado do marido e do mais velho de seus seis filhos, Maddox, de 13 anos. A produção em família será um lembrete, ela diz, para crítica e público pensarem duas vezes antes de tachá-la como diretora de “filmes de mensagem”.

— Nem tudo o que eu faço precisa ter peso. “By the sea” trata de perdas e dificuldades específicas da vida a dois em um casamento sem filhos nos anos 1970. É muito irônico e não tem nada de superficial, mas decididamente não é um filme político. Foi um exercício interessante, para o Brad e para mim, fazer um tipo de filme cada vez mais raro em Hollywood, centrado em diálogos e atuações — afirma.

O repórter viajou a convite da Universal Pictures