terça-feira, 2 de setembro de 2014

"Retração de investimentos não é ponto fora da curva", editorial de O Globo

A queda dos investimentos (de 5,3% em relação ao primeiro trimestre) foi o principal responsável pela retração de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) do período de abril a junho. Tal retração foi atribuída ao encolhimento da produção de caminhões, máquinas e equipamentos em decorrência, na visão otimista, de uma antecipação de demanda durante os meses em que esses bens de capital foram beneficiados por incentivos fiscais federais. Houve simultaneamente uma queda nos investimentos na construção civil, o que seria uma das consequências do término de obras de infraestrutura relacionadas à Copa do Mundo.

A queda dos investimentos no segundo trimestre talvez tenha se acentuado por esses fatores assinalados. Porém, não foi um ponto fora da curva. Trata-se do quarto trimestre consecutivo de retração dos investimentos, configurando uma tendência, o que é pior, pois compromete um potencial crescimento futuro da economia.

Embora modesto, o consumo das famílias registrou crescimento (0,3%) no segundo trimestre. Não é propriamente um problema de demanda que vem ocasionando a retração dos investimentos, mas sim a perda de confiança dos investidores.

A política econômico como um todo entrou em descrédito no mundo empresarial. Nos segmentos regulados, o intervencionismo desmedido também afugentou potenciais investidores, que não chegou a ser compensada nem pela oferta de créditos subsidiados por parte de instituições financeiras oficiais.

Para que a economia brasileira volte a se recuperar, será fundamental restabelecer uma clima de confiança que leve os investidores a acreditar novamente no potencial do país, que de fato existe. É uma missão para o próximo governo, independentemente de quem vença as eleições presidenciais de outubro, o que inclui a possibilidade de uma segunda administração Dilma Rousseff.

A revisão de princípios da atual política econômica, portanto, terá de correr até por quem se propõe a um governo de continuidade. Não faz sentido, por exemplo, que o governo queira determinar a taxa máxima de retorno em projeções de infraestrutura, quando o mais importante seria definir regras e obrigações de investimento, buscando-se, pela competição nas licitações, as melhores condições para o conjunto da sociedade. Não faz sentido que o governo discrimine investidores e deseje monopolizar nas mãos da Petrobras os investimentos na nova fronteira de exploração de petróleo no país (camada do pré-sal). Isso só para citar alguns exemplos em áreas atrativas apara investidores.

E nos fundamentos da macroeconômicos, é imperioso que as finanças públicas sejam postas novamente em ordem sem se recorrer aos recursos da chamada contabilidade criativa.