Marcelo Corrêa e Alyne Bittencourt - O Globo
Órgão permite uso de 18.090 MWmed de termelétricas até 5 de setembro, enquanto chuvas não chegam
Com a perspectiva de poucas chuvas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) autorizou o acionamento das usinas térmicas para geração de até 18.090 MW médios, segundo informações do relatório semanal do órgão. O volume é o maior já registrado, superando em muito as cargas liberadas no mesmo período em 2013 (10.217 MWmed) e em 2012 (8.176 MWmed).
A quantidade de energia autorizada tem subido nas últimas semanas. Nos primeiros sete dias de agosto, o ONS autorizou a geração de 16.754 MWmed. Na semana passada, elevou para 17.714 MWmed. Historicamente, os meses de setembro a fevereiro têm mais chuvas, mas ainda é cedo para afirmar que os despachos das térmicas começarão a cair nos próximos meses.
— Estamos no fim do período seco. Esperaria que o nível de despacho (autorização) das térmicas seria menor, mas ainda é cedo — afirma Sami Grynwald, consultor da Thymos Energia.
Segundo o especialista, a fraca atividade econômica acabou contribuindo para que a crise não se transformasse em um problema de abastecimento. Dados de julho do ONS mostraram que a demanda de energia recuou em relação ao mesmo mês do ano passado, influenciado principalmente pela indústria, cuja produção acumula queda de 2,8% nos primeiros sete meses do ano.
— Obviamente, esse ritmo fez com que houvesse uma retração da demanda que aliviou a necessidade dos despachos — analisa Grynwald.
Levantamento da consultoria PSR, feito a pedido do GLOBO, mostra que a produção (e não apenas o valor planejado) das usinas térmicas chegou ao patamar de 14 mil MWmed ainda em fevereiro, chegando ao recorde histórico em agosto.
— Basicamente, o ONS está operando tudo o que pode — avalia Rafael Kelman, diretor da PSR.
ONS: PREVISÕES SEMANAIS PODEM SER REVISTAS
A falta de chuvas foi destacada no documento divulgado esta semana. Para o período que se encerra no dia 5 de setembro, a projeção é de chuva fraca a moderada nas bacias dos rios Uruguai, Jacuí, Iguaçu, Paranapanema e Tietê.
De acordo com o ONS, as previsões no relatório são ajustadas semanalmente. Os dados do primeiro comunicado do mês são definidos em reunião com agentes do setor para melhor ajustar as diretrizes — que não indicam quanto de energia será efetivamente gerado. Essas diretrizes, ainda de acordo com o órgão, podem ser revistas porque as previsões de chuva não podem ser feitas para o mês inteiro e, com sua variação, mudam também as projeções da geração térmica.
Segundo Mikio Kawai Jr., diretor executivo da consultoria Safira, a falta de chuvas deve ser percebida mais intensamente em setembro, que historicamente tem um volume maior de precipitação. Ou seja, as médias de setembro deste ano ficarão mais descoladas das registradas nos anos anteriores. O especialista afirma que o aumento da geração térmica é consequência da crise vivida pelo país desde o início do ano.
— Isso simplesmente espelha o momento de crise hidrológica que vivemos. Os reservatórios estão muito aquém do esperado — diz Kawai Jr.
O professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, destaca que a necessidade de mais uso das térmicas, que são mais caras, é fruto da forte dependência que o Brasil tem das hidrelétricas. Ele afirma que, se não fossem as térmicas, o país certamente estaria passando por problemas de abastecimento energético. Ele recomenda campanhas contra o desperdício:
— Ainda acho aconselhável uma política de economia de energia, ao estilo que a Light, do Rio, tem feito. Devia se tornar um programa do governo federal, para todo o país.