terça-feira, 2 de setembro de 2014

Bovespa fecha em alta de 1,23% com rumores eleitorais. Iminente derrota de Dilma impulsiona Petrobras e bancos

Rennan Setti - Globo

Ações do Banco Brasil encerram com valorização de quase 6%

pós ter iniciado a semana com um leve recuo, o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, encerrou em alta de 1,23% nesta terça-feira, aos 61.895 pontos. Foi a maior pontuação de fechamento desde 23 de janeiro de 2013, quando o índice terminou em 61.966 pontos. O pregão foi impulsionado por especulações eleitorais que fizeram subir com força ações de estatais e bancos, sobretudo Petrobras e Banco do Brasil.

Segundo analistas, os investidores acreditam que as pesquisas que serão divulgadas amanhã mostrarão Marina Silva (PSB) já à frente de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno e ampliando a vantagem em uma provável segunda etapa. Também estimulou o ânimo do mercado rumores sobre possível desistência da candidatura à Presidência de Aécio Neves (PSDB) — o que tornaria possível a vitória de Marina já no primeiro turno. O giro financeiro do pregão foi alto, de R$ 9,1 bilhões.

Os boatos políticos também provocaram valorização do real, levando o dólar comercial a registrar queda de 0,22%, cotado a R$ 2,238 para compra e a R$ 2,240 para venda.

Pela manhã, segundo Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença, a Petrobras caía por conta de um movimento de realização de lucros, depois das altas sucessivas que vem sustentando. Já à tarde, com os papéis um pouco mais em conta, os investidores que ainda não haviam embarcado na valorização da estatal com o clima eleitoral viram uma oportunidade de compra, na avaliação de Rogério Freitas, sócio na Teórica Investimentos. A petrolífera fechou em alta de 3,25% (ação ordinário, com direito a voto, cotada a R$ 23,21) e 3,06% (preferencial, sem voto; R$ 24,56).

— Recuperou-se o movimento de valorização, que só tende a continuar à medida que a candidatura de Marina Silva conquista a confiança do mercado. Ainda tem muita gente com pé atrás, mas a candidata vem dando, gradualmente, sinais positivos. Por isso acredito que, se ela sanar as interrogações que ainda pairam sobre seu possível governo, a Bolsa tende a continuar subindo — afirmou Freitas.

O mercado financeiro é, em grande parte, crítico à política econômica da presidente Dilma e, por conta disso, costuma reagir com bom humor a notícias desfavoráveis à sua reeleição.

— Circula uma especulação muito forte de que Aécio poderia desistir e apoiar Marina. Isso permitiria a ela vencer no primeiro turno, algo que o mercado aprovaria muito — disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

As ações do Banco do Brasil subiram 5,73%, cotadas a R$ 37,46, a maior alta diária desde 27 de março (quando subira 6,63%). Foi a também a sétima valorização consecutiva do banco, que acumula alta de 23,92% nesse período. A instituição anunciou ontem redução de juros para financiar veículos, a 0,97% ao mês para carros novos e a 1,18% mensais para usados. Além disso, o banco Credit Suisse passou a recomendar a compra dos papéis do BB nesta terça-feira.

— A notícia dos juros menos é neutra e pode até ser vista como negativa, pois pode ter motivação política caso o BB seja o único a fazer isso. É claro que a opinião de uma instituição como o Credit Suisse tem peso, mas também não foi isso o que influenciou. O que pesou mesmo foi a expectativa de que a próxima pesquisa mostrará avanço ainda maior de Marina — analisou Leandro Ruschel, diretor da Escola de Investimentos Leandro&Stormer.

Os outros bancos também surfaram no bom humor dos investidores com as eleições, embora em escala menor. O Bradesco avançou 2,01% (R$ 41,55), enquanto o Itaú Unibanco teve alta de 1,83% (R$ 41,24).


VALE CAI COM MINÉRIO DE FERRO MAIS BARATO

As ações da Vale caíram 0,69% (ordinária; R$ 28,75) e 0,97% (preferencial; R$ 25,50). O preço do minério de ferro, seu principal produto, caiu 0,5% nesta terça no mercado internacional, para US$ 86,70 a tonelada. Mas a companhia acredita que o barateamento do minério de ferro no mercado internacional é temporária, apostando que os grandes produtores globais continuarão reduzindo produção por causa do baixo valor atual, disseram os analistas Marcos Assumpção e André Pinheiro, da Itaú BBA, após participarem de “roadshow“ com diretor de relações com investidores da Vale, Rogério Nogueira.

— A queda da Vale, que em sido forte nos últimos dias, está diretamente associada à redução do folêgo econômico da China, seu principal cliente, o que empurra o preço do minério para baixo. Mas considero que a empresa está sendo mais castigada do que deveria, pelos fundamentos que a Vale oferece — acrescentou Ruschel.

Na Europa, as ações interromperam hoje a sequência de duas fortes altas, que foram estimuladas por rumores sobre aceleração dos estímulos econômicos no continente. O índice de referência Euro Stoxx fechou em alta de 0,17%, a Bolsa de Londres e a de Paris fecharam estáveis, e a de Frankfurt subiu 0,30%.

Em Wall Street, as ações tiveram resultado misto. O índice Dow Jones caiu 0,18%, e o S&P 500 ficou praticamente estável (-0,05%), com a queda de empresas petrolíferas. O preço do barril do petróleo Brent caiu a US$ 100,57, seu menor nível em 16 meses, com o temor de que a demanda pelo produto cairá com a lentidão do setor produtivo na China e na Europa. (A queda do Brent pode ter influenciado positivamente a Petrobras, já que a companhia sofre com a defasagem dos preços que pratica diante dos valores internacionais). Já o Nasdaq valorizou-se em 0,39%.