Não me entendam mal: existe homofobia, como existe racismo, e ambos são condenáveis. Mas está claro que há um excesso de barulho em torno dessas questões
Aquilo que começou como uma demanda legítima, a luta por direitos iguais para determinadas minorias, tornou-se um movimento organizado e intolerante que busca privilégios, rejeita a igualdade perante as leis e asfixia as liberdades individuais, ao ignorar a menor minoria de todas: o indivíduo.
O pêndulo exagerou para o outro lado, e hoje corremos o risco de viver sob uma ditadura do politicamente correto, em que a narrativa de vitimização coletivista impede qualquer debate racional. Gente rancorosa, sem senso de humor, sem capacidade de tolerar as divergências, tem tomado conta dessas bandeiras “progressistas” e, em nome das minorias, ataca com virulência todos aqueles que não rezam pela mesma cartilha.
Dois casos recentes demonstram como as coisas saíram do controle. No primeiro, uma torcedora do Grêmio se exalta em um estádio de futebol e xinga o goleiro de “macaco”, ato execrável que merece repúdio. Mas a reação é desproporcional. Os “fascistas do bem” assumem a face de herdeiros da abjeta Ku Klux Klan com o sinal invertido, e querem apedrejar sua casa, estuprá-la, queimá-la viva.
Uma turba ensandecida passa a aplaudir os “justiceiros”, como se não bastasse a punição legal. Querem sangue. Querem linchamento público. E todo esse ódio, claro, em nome de seu combate ao preconceito e à intolerância. São almas bondosas, dispostas a sacrificar alguns para purificar o mundo de todos os pecados.
No segundo caso, um jovem gay é assassinado em Goiânia, após sair de um bar. A patrulha não perde tempo: homofobia! E para adicionar insulto à injúria, logo surge nas redes sociais a acusação de que os cristãos “fanáticos” seriam os responsáveis por tudo. No afã de pintar os evangélicos como os demônios, vale até mentir: um bilhete comprovaria a motivação homofóbica.
O bilhete não existiu, e se soube depois que o assassino teve relação sexual com a vítima, que aceitou ir a um lugar perigoso com um completo estranho. Homofobia? Quando um gay mata outro? Claramente os raivosos se precipitaram, dispostos a usar o cadáver do rapaz como mascote de sua causa. Temos quase 60 mil homicídios por ano no Brasil, uma verdadeira guerra civil, mas apenas aqueles que têm homossexuais ou negros como vítimas parecem importar.
Não me entendam mal: existe homofobia, como existe racismo, e ambos são condenáveis.
Mas está claro que existe um excesso de barulho em torno dessas questões, graças aos movimentos organizados com obscuros interesses. Será que os gays e os negros realmente vivem sob um regime opressor no Brasil por serem gays e negros? Muitos dos males que assolam esses grupos também assolam os demais.
No entanto, se um alienígena chegar aqui hoje e ligar a TV ou abrir os jornais, terá a nítida impressão de que os temas mais relevantes da campanha eleitoral são os direitos dos gays, o racismo, a legalização do aborto e das drogas. Esqueça a questão da criminalidade, que torna a vida de milhões de brasileiros, independentemente de cor, sexo ou credo, um verdadeiro inferno. Esqueça a saúde pública em estado lamentável. Esqueça o transporte público tomando várias horas preciosas de todos nós a cada dia. Esqueça o ensino público na rabeira dos rankings internacionais, pura doutrinação ideológica.
Nada disso parece rivalizar com a pauta da esquerda radical, que não recebe votos, mas exerce profunda influência no debate político. Luciana Genro, do PSOL, é a candidata que abraça “in toto” tais bandeiras revolucionárias a favor das “minorias”. Quantos votos ela tem? Os poucos vêm, paradoxalmente, das elites brancas culpadas, dos “intelectuais” socialistas, dos artistas engajados. Uma elite que vive em uma bolha, desconectada das reais prioridades e demandas do povo brasileiro.
Ninguém aguenta mais o culto do coitadismo, a “revolução das vitimas”, o coletivismo das “minorias” que sempre apelam para uma indignação bastante seletiva — nenhum deles saiu em defesa de Joaquim Barbosa quando gente ligada ao PT o comparou a um macaco. Concluo com a observação de Edmund Burke em suas reflexões sobre a Revolução em França:
“Porque meia dúzia de gafanhotos sob uma samambaia faz o campo tinir com seu inoportuno zumbido, ao passo que milhares de cabeças de gado repousando à sombra do carvalho inglês ruminam em silêncio, por favor, não vá imaginar que aqueles que fazem barulho são os únicos habitantes do campo; ou que logicamente são maiores em número; ou, ainda, que signifiquem mais do que um pequeno grupo de insetos efêmeros, secos, magros, saltitantes, espalhafatosos e inoportunos.”
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal