quinta-feira, 27 de março de 2014

Bolsa sobe mais de 2% e dólar cai a R$ 2,27 com queda de popularidade de Dilma

Dólar fecha em queda de 1,7% cotado a R$ 2,26, a menor cotação em quatro meses

 
  • Levantamento da CNI/Ibope mostrou queda da popularidade no governo Dilma e mercado reagiu positivamente
  • Ibovespa tem ganho de mais de 3%, a maior alta percentual do ano
João Sorima Neto - O Globo
Com agências internacionais
 
 
 
- O mercado dá novo sinal de que a campanha eleitoral já entrou na pauta dos investidores e reage positivamente a uma pesquisa que mostra queda de popularidade do governo da presidente Dilma Roussef, segundo analistas. A Bolsa de Valores tem forte valorização, enquanto o dólar recua quase 2%.

O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, abriu em alta e ganhou fôlego depois da divulgação da pesquisa. Às 16h05m, o índice subia 3,11% aos 49.458 pontos e volume negociado de R$ 7,6 bilhões. O Ibovespa não atingia o patamar dos 49 mil pontos desde o último dia 22 de janeiro, quando fechou aos 49.299 pontos. è a maior alta do ano em termos percentuais.

Na primeira pesquisa CNI/Ibope de 2014, a popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff caiu para 36%, contra uma avaliação de 43% no levantamento de novembro de 2013 e divulgada em dezembro do ano passado. A queda foi de sete pontos. O percentual daqueles que acham o governo ruim subiu a 27% de 20% na pesquisa anterior. A aprovação pessoal da presidente da República recuou para 51%, de 56%.

- O mercado questiona a postura que o governo toma em relação à deterioração do crescimento da economia, da inflação em alta e da parte fiscal. Hoje, temos um quadro diferente da eleição passada, quando se encerraram os oito anos do governo Lula. A situação econômica quando Lula saiu era muito boa. O que se criticava era a forma de conduzir uma coisa ou outra. Agora, nesta campanha eleitoral já há fatos concretos na economia mostrando deterioração, como inflação rodando acima de 6% e baixo crescimento econômico. O mercado vê a queda de popularidade do atual governo como uma janela a ser explorada pela oposição, aumentando a possibilidade de que não haja uma reeleição já no primeiro turno - diz Paulo Bittencourt, diretor da Apogeo Investimentos, uma empresa do grupo Vinci Partners.

Na semana passada, as ações de empresas estatais subiram quase 10%, em dois dias, e o Ibovespa se valorizou diante da expectativa de que um pesquisa eleitoral mostrasse uma diminuição nas intenções de voto para a presidente Dilma e um crescimento da oposição, o que acabou não acontecendo. Dilma manteve os 43% de intenção de voto do levantamento anterior.

- Hoje, a pesquisa da CNI trouxe o que o mercado queria: uma sinalização que a reeleição de Dilma não está liquidada - diz um analista de uma corretora de São Paulo, que cita o intervencionismo do governo em diversos setores (financeiro, elétrico e na própria Petrobras) como um fator que desagrada aos investidores.

As ações de estatais voltam a disparar. Os papéis ordinárias (sem direito a voto) da Eletrobras têm valorização de 7,59% a R$ 6,24, enquanto os papéis preferenciais da estatal sobem 3,90% a R$ 10,64. As ações ordinárias do Banco do Brasil sobem 7,01% a R$ 22,59, a quarta maior alta do Iboovespa. As ações da Petrobras, envolvida em diversas polêmicas, também disparam. Os papéis ordinários sobem 6,60% a R$ 14,69, enquanto as ações preferenciais avançam 6,45% a R$ 15,34.

As ações da Petrobras também sobem com a notícia de que a oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff no Senado pediu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a empresa. Segundo Henrique Kleine, analista-chefe da Magliano Corretora, as recentes denúncias envolvendo a Petrobras fazem os investidores enxergar a possibilidade de uma "limpeza" na companhia estatal.

Dólar volta a recuar frente ao real

O dólar comercial se desvalorizou frente ao real na sessão desta quinta-feira e fechou na menor cotação desde o dia 4 de novembro do ano passado, quando encerrou a R$ 2,245. A moeda americana recuou 1,73%, sendo negociada a R$ 2,266 na compra e R$ 2,268 na venda. Na mínima do dia, a moeda americana foi negociada a R$ 2,261 (baixa de 2,03%) e na máxima subiu até R$ 2,310 (alta de 0,08%). No exterior, a moeda americana também recuou em relação a divisas de países ligados a commodities.

A expectativa de mais fluxo de recursos entrando no país volta a derrubar a cotação da moeda americana, segundo operadores. O Tesouro Nacional confirmou que fez uma captação de 1 bilhão em euros, nesta quinta. O Tesouro captou 1 bilhão de euros, com a emissão de títulos que vencem em 2021. Foi a primeira operação na moeda europeia desde 2006 e teve o menor custo já registrado em uma captação soberana em euros feita pelo Brasil, segundo o Tesouro.

A pesquisa que mostrou a queda da popularidade do governo também influenciou o recuo da divisa americana, segundo analistas, bem como o fato de o BC ter vendido todos os contratos de swap cambial nos leilões de hoje.

- Foi só o Banco Central anunciar que vendeu todos os 4 mil contratos que ofereceu para o mercado voltar a especular com um dólar abaixo dos R$2,30. Ajudou também para a queda da moeda, a divulgação da pesquisa CNI/Ibope, que mostrou piora nas avaliações do governo Dilma. A interpretação por parte do mercado é de que um governo de oposição gerenciaria melhor as contas públicas brasileiras e a sua economia - diz Jefferson Luiz Rugik, operador de câmbio da corretora Correparti.

Além dos 4 mil contratos novos de swap cambial tradicional ofertados, o equivalente a US$ 198,2 milhões, o BC rolou mais 10 mil contratos que vencem em abril. A expectativa por parte do mercado era de que o BC repetisse a estratégia de ontem quando não aceitou taxas abaixo de R$ 2,30, o que acabou não acontecendo hoje.

Ontem, o BC sinalizou que não tem interesse num dólar abaixo de R$ 2,30, durante o leilão de novos contratos de swap cambial realizado pela manhã. A autoridade monetária rejeitou propostas abaixo de R$ 2,30. Com isso, dos 4 mil contratos ofertados, só foram vendidos 2,4 mil, totalizando R$ 118,9 milhões. Essa mudança de estratégia, fez o dólar inverter a tendência de queda e subir a R$ 2,31.
Em seguida, o BC ofertou os 10 mil contratos da rolagem de contratos que vencem em abril. O mercado comprou todo o lote porque existe a expectativa de que a autoridade monetária não role na totalidade os US$ 10 bilhões que vencerão no dia 1º do próximo mês.

- No leilão da rolagem, as propostas já ficaram em torno de R$ 2,31 e o BC conseguiu vender todos os contratos. Em seguida, a autoridade monetária voltou a ofertar os 1,6 mil contratos (totalizando R$ 79,1 milhões) que não tinham sido vendidos no primeiro leilão e conseguiu colocar todos no mercado por um valor acima de R$ 2,30. Foi uma mudança de estratégia do BC, mostrando que está confortável com um dólar entre R$ 2,30 e R$ 2,35, mas não quer que a moeda caía abaixo dos R$ 2,30 - analisa Ricardo Gomes, diretor da corretora Correparti.

O BC informou que não há mudança na política cambial.

O mercado também acompanha a divulgação de dados da economia americana. O Departamento do Comércio informou que o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, nos EUA, subiu 2,6% ante o mesmo período de 2012. O dado veio em linha com a previsão de analistas. No terceiro trimestre, houve expansão de 4,1% ante o trimestre anterior em termos anualizados.

Taxas dos contratos de juros futuros mais longos recuam

Os investidores também analisam o Relatório Trimestral de Inflação, referente ao primeiro trimestre de 2014, divulgado nesta manhã pelo Banco Central. Segundo o documento, a inflação prevista para este ano é de 6,1%, ante 5,6% do relatório anterior. No mercado de juros futuros, as taxas dos contratos mais longos recuam, enquanto nos papéis mais curtos, elas sobem. As taxas dos DIs com vencimento em janeiro de 2017 recuam de 12,38% para 12,3%. Já os contratos para janeiro de 2015 sobem de 11,14% para 11,15%.

Na avaliação do banco Goldman Sachs, o relatório de inflação sugere que o ciclo de alta da Selic (taxa básica de juros) talvez possa ser estendido para além da reunião de política monetária prevista para 27 e 28 de maio. Em relatório, o banco de investimentos diz que o tom usado pelo BC para tratar da política monetária ficou entre a neutralidade e a acomodação, destoando do fato de a inflação continuar elevada e da expectativa de uma desaceleração levemente mais lenta na alta dos preços.

"A inflação esperada para 2014 e 2015 piorou e continua acima de 5,5% até o final de 2015", apontou o Goldman Sachs, acrescentando que o BC vê chances mais altas - tanto no próprio cenário de referência quanto no cenário do mercado - de a inflação em 2014 superar o teto da meta, de 6,5%. "Isso deve levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a deixar a porta aberta para uma extensão do ciclo de alta em maio e até mesmo além disso", disse o banco.

O Goldman Sachs acredita que o BC elevará a Selic em 0,25 ponto porcentual na reunião de abril, a 11% ao ano.