terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Moody’s mantém nota de risco do Brasil, mas alerta para crescimento da dívida

Moody’s mantém nota de risco do Brasil, mas alerta para crescimento da dívida


Agência de avaliação de risco de crédito diz que, caso débitos chegarem a 65% do PIB, a nota brasileira deverá ser reduzida


Ricardo Leopoldo - Agência Estado


A agência de classificação de risco Moody’s deve manter a nota do Brasil este ano, caso os indicadores econômicos fiquem parecidos com os de 2013. Pelos cálculos da Moody’s, o Brasil deve ter crescido 2,1% no ano passado e deve avançar 2% em 2014.
 
Ainda segundo a agência, o superávit primário (economia feita pelo governo para pagar os juros da dívida) ficou por volta de 1,8% no ano passado e deve subir para 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014.


"Se estes números da economia vierem em linha com as nossas projeções, então a perspectiva e o rating deverão ficar estáveis neste ano", comentou o vice-presidente da Moody’s, Mauro Leos, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.


Na avaliação de Leos, o ano eleitoral não deverá gerar mudanças significativas na tendência de expansão da economia e do superávit primário. "Se ocorrerem alterações nestes indicadores, devem ser em 2015, mas poucos sabem o que vai ocorrer no ano que vem", destacou. Sua análise da economia está centrada no desempenho em 2014.


Corte da nota. A Moody’s deverá reavaliar o desempenho da economia no fim do semestre. "Em meados deste ano, vamos ver se o PIB e o superávit primário estarão no curso das nossas expectativas", disse Leos.


A Moody’s espera que a dívida bruta brasileira aumente de 60,4% do PIB em 2013 para 61,9% em 2014. Mas se crescer muito mais do que isso, a nota brasileira será revista. "Não temos limites fixos, mas se a relação dívida/PIB se aproximar de 65% o Brasil pode sofrer um corte no rating (classificação de risco)", disse Leos à Dow Jones.


Em setembro do ano passado, a Moody’s mudou a perspectiva da nota de risco de crédito do Brasil de positiva – que previa chance de elevação da classificação – para estável. No mercado financeiro há o temor que a Moody’s ou outra grande agência de classificação de risco, como a Standard & Poor’s, corte a avaliação do Brasil.


Uma redução da classificação de risco pode provocar a saída de investidores estrangeiros do País. Também pode dificultar e elevar o custo de empréstimos das empresas e do governo brasileiro no exterior.


Novo relatório. Nesta segunda-feira, 6, a Moody’s soltou um relatório sobre o Brasil, em que manteve a nota brasileira em Baa2 e informou que a perspectiva se mantém estável.


O relatório também apontou a estabilização da dívida em relação ao tamanho da economia como fator decisivo para a nota do País. "Uma importante medida mostrando deterioração é a relação entre dívida e PIB, que tem subido para a marca de 60% e pode alcançar 62% em 2014", informou o relatório.


A Moody’s questionou se as autoridades brasileiras serão capazes de restaurar as condições que levem a uma queda no nível da dívida e destacou a "limitada flexibilidade fiscal" do Brasil, além da rígida estrutura de gastos públicos e o fardo "relativamente pesado dos juros".


"O principal desafio que as finanças públicas enfrentam é o persistente aumento dos gastos primários", informou a agência.


Segundo Leos, o relatório anual não indica mudança significativa na avaliação sobre o País, uma vez que a nota e a perspectiva não mudaram.


Principal analista responsável por acompanhar o Brasil, Leos classificou como "positiva" a manifestação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que não haverá mais ‘contabilidade criativa’ nas contas públicas. "A ordem neste ano e nos próximos é que uma transação deve também parecer correta. No caso de uma operação que seja perfeitamente correta, mas que não pareça, ela não será feita", disse o ministro em entrevista ao Estado.


"Essa declaração é importante, pois visa ampliar a confiança dos investidores no Brasil, o que é essencial para elevar os investimentos", declarou. Ele também elogiou os sinais de que o governo reduzirá os repasses do Tesouro para bancos oficiais, sobretudo para o BNDES. "Essas liberações de recursos pelo Tesouro para tais instituições financeiras do governo colaboraram bem para o aumento de 10 pontos porcentuais da dívida bruta em relação ao PIB", disse.


(Colaborou Stefânia Akel