'É que o governo brasileiro quis jogar truco com os imperialistas, aí a porta se fechou'
— Estou ansioso.
— Por quê?
— Nunca passei por isso antes.
— Fica tranquilo.
— Vou tentar. Mas não é todo dia que se encontra o presidente dos Estados Unidos.
— Como assim?
— Ué? É normal encontrar o presidente dos Estados Unidos? Você já o encontrou alguma vez?
— Não.
— Então? Não está ansioso?
— Não. — Tomou calmante?
— Não.
— A expectativa de encontrar o homem mais poderoso do mundo não te afeta?
— Não.
— Por quê?
— Acho que é porque eu não vou encontrar o homem mais poderoso do mundo.
— Não vai?! Mas a gente não está aqui pra isso? Você tem que vir com a gente.
— Eu vou estar com vocês o tempo todo.
— Ah, então você vai encontrar o presidente dos EUA.
— Não vou.
— Por quê?
— Porque você também não vai. Nenhum de nós vai encontrar o presidente dos EUA.
— Como assim?! A Casa Branca desmarcou a reunião?
— Não. — Então não estou entendendo.
— Não desmarcou porque não marcou. Entendeu agora?
— Estou confuso. Nós não viemos a Washington negociar a redução do tarifaço?
— Tipo isso.
— Então nós vamos conversar com quem? O presidente vai mandar o segundo dele pra se encontrar conosco?
— Não.
— O terceiro?
— Não.
— O quarto?
— Não.
— Ah, espera aí! Somos senadores da República! Negociar com o quinto escalão já é humilhação.
— Também não seremos recebidos pelo quinto escalão.
— Que loucura! Como vai ser a nossa agenda em Washington então?
— Fala baixo.
— Por quê?
— Porque a nossa agenda é secreta.
— Os chineses não podem saber?
— Os brasileiros.
promisso nos EUA?
— Uma reunião para discussão de estratégia.
— Pelo menos isso. Com quem vamos nos reunir?
— Com a gente mesmo.
— O quê? Por que a gente não fez essa reunião no Brasil?
— Não faz pergunta difícil. Vamos focar.
— Focar em quê?
— Na discussão sobre a nossa próxima reunião.
— Ah, já temos então outra reunião marcada. Que bom. Com qual autoridade norte-americana?
— Vamos encontrar uma autoridade brasileira.
— Na capital dos EUA?
— Sim. A embaixadora do Brasil.
— Ela vai nos colocar em contato com algum interlocutor do governo Trump?
— Não. Ela não tem contato com o governo Trump.
— Não é possível. Ela é a nossa embaixadora em Washington!
— É que o governo brasileiro quis jogar truco com os imperialistas, aí a porta se fechou.
— E o que ela fez? — Saiu de férias. — Então ela vai nos contar as férias dela?
— Já é um começo, né?
— É.
— Aí, depois, quem sabe a gente consegue uma audiência com o Obama.
— O Obama?! Mas ele é oposição. E está sendo processado pelo governo.
— Pois é.
— Você acha que mesmo assim ele pode nos ajudar a amenizar o tarifaço?
— Claro que não.
— Então pra que encontrar o Obama?
— Algum americano a gente tem que encontrar nos Estados Unidos, né?
— Tem razão. Mas será que não seria mais barato a gente ter feito isso lá do Brasil mesmo, pela internet?
— Que internet?
Guilherme Fiuza - Revista Oeste