sexta-feira, 1 de agosto de 2025

'A missão brasileira na Lua', por Guilherme Fiuza

 'É que o governo brasileiro quis jogar truco com os imperialistas, aí a porta se fechou'


Ilustração: Revista Oeste/IA




— Estou ansioso. 

— Por quê? 

— Nunca passei por isso antes. 

— Fica tranquilo. 

— Vou tentar. Mas não é todo dia que se encontra o presidente dos Estados Unidos. 

— Como assim? 

— Ué? É normal encontrar o presidente dos Estados Unidos? Você já o encontrou alguma vez? 

— Não. 

— Então? Não está ansioso? 

— Não. — Tomou calmante?

 — Não. 

— A expectativa de encontrar o homem mais poderoso do mundo não te afeta? 

— Não. 

— Por quê? 

— Acho que é porque eu não vou encontrar o homem mais poderoso do mundo.

— Não vai?! Mas a gente não está aqui pra isso? Você tem que vir com a gente. 

— Eu vou estar com vocês o tempo todo. 

— Ah, então você vai encontrar o presidente dos EUA. 

— Não vou. 

— Por quê? 

— Porque você também não vai. Nenhum de nós vai encontrar o presidente dos EUA. 

— Como assim?! A Casa Branca desmarcou a reunião? 

— Não. — Então não estou entendendo. 

— Não desmarcou porque não marcou. Entendeu agora? 

— Estou confuso. Nós não viemos a Washington negociar a redução do tarifaço? 

— Tipo isso. 

— Então nós vamos conversar com quem? O presidente vai mandar o segundo dele pra se encontrar conosco? 

— Não. 

— O terceiro? 

— Não. 

— O quarto? 

— Não. 

— Ah, espera aí! Somos senadores da República! Negociar com o quinto escalão já é humilhação. 

— Também não seremos recebidos pelo quinto escalão. 

— Que loucura! Como vai ser a nossa agenda em Washington então? 

— Fala baixo. 

— Por quê? 

— Porque a nossa agenda é secreta. 

— Os chineses não podem saber? 

— Os brasileiros. 

promisso nos EUA? 

— Uma reunião para discussão de estratégia. 

— Pelo menos isso. Com quem vamos nos reunir? 

— Com a gente mesmo. 

— O quê? Por que a gente não fez essa reunião no Brasil? 

— Não faz pergunta difícil. Vamos focar. 

— Focar em quê?

— Na discussão sobre a nossa próxima reunião.

— Ah, já temos então outra reunião marcada. Que bom. Com qual autoridade norte-americana? 

— Vamos encontrar uma autoridade brasileira. 

— Na capital dos EUA? 

— Sim. A embaixadora do Brasil. 

— Ela vai nos colocar em contato com algum interlocutor do governo Trump? 

— Não. Ela não tem contato com o governo Trump. 

— Não é possível. Ela é a nossa embaixadora em Washington! 

— É que o governo brasileiro quis jogar truco com os imperialistas, aí a porta se fechou.

 — E o que ela fez? — Saiu de férias. — Então ela vai nos contar as férias dela? 

— Já é um começo, né? 

— É. 

— Aí, depois, quem sabe a gente consegue uma audiência com o Obama. 

— O Obama?! Mas ele é oposição. E está sendo processado pelo governo. 

— Pois é.

— Você acha que mesmo assim ele pode nos ajudar a amenizar o tarifaço? 

— Claro que não. 

— Então pra que encontrar o Obama? 

— Algum americano a gente tem que encontrar nos Estados Unidos, né?

 — Tem razão. Mas será que não seria mais barato a gente ter feito isso lá do Brasil mesmo, pela internet? 

— Que internet? 


Guilherme Fiuza - Revista Oeste