Castello Branco tem pós-doutorado pela Universidade de Chicago e já ocupou cargos de direção no Banco Central e na mineradora Vale. Também fez parte do Conselho de Administração da Petrobras e desenvolveu projetos de pesquisa na área de petróleo e gás. Veja abaixo os sete desafios que o novo presidente da Petrobras terá pela frente:
Redução da Dívida
O novo presidente da Petrobras já disse em entrevistas que precisa continuar reduzindo a dívida da companhia, que passou de US$ 126,2 bilhões em 2015 para US$ 88,1 bilhões em setembro de 2018. Atualmente, o prazo médio de financiamento é de 9,1 anos e a taxa média é de 6,2% ao ano.
A intenção é reduzir a atual relação entre dívida líquida e geração de caixa operacional (Ebitda) de 2,96 para 1,5 em 2020 – ou seja, se a empresa tivesse que pagar a dívida inteira de uma vez em 2020, teria que usar a receita obtida com um ano e meio de operações. Em 2015, essa relação chegou a 5,11.
Desinvestimento
Contrário à privatização da Petrobras neste momento, Castello Branco quer acelerar o processo de venda de ativos. A ideia é se desfazer de operações que não estão ligadas a sua atividade-fim, que é a produção e exploração de petróleo. A companhia vem, no entanto, enfrentando resistências para vender parte desses ativos.
Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a venda de controle de subsidiárias de estatais sem a aprovação do Congresso. Com isso, a Petrobras teve de suspender o processo de venda do controle de quatro refinarias e da rede de gasodutos no Nordeste (TAG), por exemplo. Além disso, está revendo o processo de venda da Liquigás (que vende botijão) ao grupo Ultra por determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A meta da Petrobras é vender US$ 26,9 bilhões entre 2019 e 2023. Nos dois últimos anos, a estatal arrecadou US$ 8,3 bilhões, abaixo da meta de US$ 21 bilhões.
Blindagem política
Após os escândalos de corrupção na Petrobras, a estatal teve de mudar uma série de regras internas e criar novas normas decompliance . Contratou escritórios especializados em governança, abiu um canal anônimo de denúncias e criou uma diretoria para cuidar do tema.
Com o novo governo, Castello Branco terá o desafio de ampliar as regras de governança e manter a estatal fora do radar de indicações políticas e de seu uso para intenções do governo.
Desde as mudanças na governança interna da companhia adotadas a partir de 2015, não tem tido nomeações políticas para os cargos da diretoria. Os que não são dos quadros da estatal, que seriam selecionados por questões técnicas, são escolhidos no mercado por meio de empresas especializadas em recrutamento.
Redução de custos
Com uma dívida elevada, a estatal partiu para o corte de custos. Somente nos primeiros nove meses de 2018, as despesas caíram 6% para R$ 6,6 bilhões.
Uma das metas de Castello Branco é continuar com a redução dos custos - seja na atividade exploratória, com diminuição no tempo de perfuração e renegociação de contratos com fornecedores, seja nas despesas corporativas, com a redução das atividades no exterior e com fechamento de escritórios pouco rentáveis.
Por isso, Castello Branco terá que acertar ainda o futuro das sondas da Sete Brasil, que segue sem ter seu plano de recuperação judicial aprovado.
Cessão onerosa
Outro grande desafio de Castello Branco é chegar a um entendimento com a União sobre o valor do excedente da cessão onerosa. A cessão onerosa é uma área na bacia de Santos que foi cedida pelo governo à Petrobras em 2010, quando houve a capitalização da empresa. Na época, a estatal teve o direito de explorar até 5 bilhões de barris de petróleo nessa região.
União e Petrobras vêm discutindo há quase dois anos uma espécie de acerto de contas, devido à queda no preço do petróleo após a declaração de comercialidade dos campos, quando o barril estava a US$ 100. Ficou decidido que a estatal terá de ser ressarcida por causa da queda na cotação, mãs não foi definido o valor.
Além iddo, verificou-se que a reserva de petróleo na área da cessão onerosa é maior do que o previsto. O governo, então, deciidiu leiloar parte das reservas ali encontradas. Para isso, também precisa chegar a um acordo com a estatal.
Política de combustíveis
Quando Pedro Parente assumiu a presidência da Petrobras, em junho de 2016, o executivo garantiu que a companhia teria total independência em fixar seus preços dos combustíveis sem interferência do governo federal. Mas, com as variações diárias dos preços da gasolina e do diesel, essa nova política de preços acabou sendo um dos estopins para a greve dos caminhoneiros em maio do ano passado, o que levou à renúncia de Parente do cargo.
Para reduzir os impactos da volatilidade dos preços internacionais do petróleo e do câmbio, a Petrobras decidiu adotar um mecanismo financeiro de proteção que permite manter os preços fixos em suas refinarias em até 15 dias para a gasolina e de sete dias para o diesel.
A nova equipe chefiada pelo ministro da Economia Paulo Guedes já tem sinalizado que pretende adotar uma mudança na política de preços dos combustíveis. Uma das ideias em estudos é a criação de um imposto flexível que funcionaria como uma espécie de colchão: nos momentos de alta dos preços do petróleo, o imposto cobrado sobre os combustíveis seria mais baixo, e seria mais alto nos momentos de preços menores do petróleo.
Diretoria
Um dos desafios que Castello Branco deverá tratar no curto prazo é em relação à equipe de diretores da companhia. Das sete diretorias, duas estão vagas desde o último dia 31 de dezembro: a de Refino e Gás, com a saída de Jorge Celestino, e a de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão, que era ocupada por Nelson Silva.
Da equipe atual, a diretora de Exploração e produção, Solange Guedes, e Hugo Repsold, diretor de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia, são os mais antigos nos cargos. Eles assumiram suas funções em 2015, quando toda diretoria da estatal renunciou junto com a então presidente Maria das Graças Foster.
Solange Guedes acumula interinamente a diretoria de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão. Eberaldo de Almeida Neto, diretor de Assuntos Corporativos, ocupa interinamente o cargo de diretor de Refino e Gás. De acordo com fontes próximas, a saída dos diretores Nelson Silva e de Jorge Celestino teriam sido resultado já das mudanças a serem implementadas por Castello Branco.
Mas Castello Branco já está enfrentando baixas também no Conselho de Administração. No último dia 1º de janeiro, o presidente do Conselho de Administração, Luiz Nelson Guedes de Carvalho, e o conselheiro Francisco Petros Oliveira Lima Papathanasiadis apresentaram cartas renunciando aos seus cargos.
Os dois conselheiros que renunciaram, segundo essa fonte, teriam divergências em relação à forma de gestão de Castello Branco.
Redução de custos
Redução da dívida
Bruno Rosa e Ramona Ordoñez, O Globo