A aversão a risco no exterior, puxada por noticiário desfavorável da Apple e desdobramentos dele, foi insuficiente para frear a Bolsa brasileira. Na máxima intraday, o Ibovespa chegou aos 91.596,28 pontos – novo recorde – ainda na resposta positiva à promessa de choque liberal do governo de Jair Bolsonaro.
As estatais sustentavam ganhos, à espera de privatizações e projetos mais rentáveis. Depois da abertura do mercado à vista em Nova York, porém, o Ibovespa se ajustou em baixa, mas ainda está próximo da estabilidade. O dólar negociado à vista cedeu as R$ 3,75, com o bom humor local e o investidor nacional reduziu de forma relevante sua exposição cambial comprada diante das perspectivas otimistas e de ingresso de recursos no País.
Mas já há ponderações quanto à possibilidade de esgotamento da animação. Nos juros, a manhã desta quinta-feira, 3, foi de ajuste em alta, refletindo a avaliação de que o presidente Jair Bolsonaro e equipe ainda não entregaram nenhuma medida concreta. Da primeira reunião com os 22 ministros no Palácio do Planalto, inclusive, ainda não há notícias. O mercado monitora encontro de eleitos do PSL. No exterior, a menor projeção de receita da Apple repercute desde quarta-feira, 2, porque reforça o receio do mercado sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China.
A atenção dada aos sinais locais ajudava no descolamento da Bolsa do comportamento negativo dos pares internacionais até a abertura dos mercados acionários em Nova York. Contribuíram para a virada, ações da Vale e outras exportadoras, que seguem a queda do dólar.
"A Vale é uma empresa global e acompanha mais o mercado lá fora, dependendo muito pouco de movimento político. Por outro lado, as empresas estatais federais e estaduais, como a Sabesp, são puxadas em movimento contínuo na expectativa de privatizações e projetos mais rentáveis", avalia Marco Saravalle, estrategista da XP Investimentos.
De acordo com Daniel Herrera, da Toro Investimentos, o mercado ainda trabalha esperançoso com as sinalizações de que o novo governo vai seguir com suas promessas de campanha, principalmente em relação às questões econômicas.
Mas, para analistas da Rico Investimentos, em relatório enviado a clientes, existe alguma cautela dos investidores em relação ao que foi falado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, do que foi lido como um plano B de combate aos gastos públicos, em caso de fracasso da reforma da Previdência. Isso ocorre em contraponto ao fato que animou os mercados na sessão da véspera com o apoio PSL, partido de Jair Bolsonaro, a Rodrigo Maia (DEM-RJ) na corrida à Presidência da Câmara dos Deputados.
Ainda segundo análise da Rico, o movimento é interpretado como positivo para o mercado, pois eleva a chance de avanço da pauta econômica na Casa. "O futuro Governo deve concentrar os seus esforços no Senado, que por sua vez, teve o lançamento da candidatura de Major Olímpio, que divide a oposição a Renan Calheiros." A eleição para o comando das casas está marcada para 1° de fevereiro.
Nesta quinta-feira também há expectativa dos investidores sobre o discurso de posse do novo presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, prevista para 16h na sede da companhia no Rio de Janeiro. Como especialistas disseram ao Estadão/Broadcast, a aposta é de que a Petrobrás manterá a política de preços baseada no mercado internacional e na variação do câmbio, além de acelerar o processo de desinvestimento da estatal.
Em tempo: Incorporada à Suzano, a Fibria tem seu último pregão hoje.
Simone Cavalcanti, O Estado de S.Paulo