quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Cúpula militar da Venezuela, atolada até a medula na corrupção Chávez-Maduro, dá apoio à ditadura bolivariana e acusa Guaidó de tentativa de golpe

TOPSHOT - Cercado pelos comandantes militares, o ministro da Defesa Vladimir Padriño López reafirma seu apoio a Maduro Foto: LUIS ROBAYO / AFP
TOPSHOT - Cercado pelos comandantes militares, o ministro da Defesa Vladimir Padriño López reafirma seu apoio a Maduro Foto: LUIS ROBAYO / AFP

CARACAS — Cercado por toda a cúpula militar da Venezuela, o ministro da Defesa da Venezuela, general Vladimir Padrino López, denunciou nesta quinta-feira que a autoproclamação do líder opositor Juan Guaidó como presidente interino é uma tentativa de "golpe de Estado".

— Alerto o povo da Venezuela que está ocorrendo um golpe de Estado contra a institucionalidade, contra a democracia, contra a nossa Constituição, contra o presidente Nicolás Maduro, presidente legítimo — afirmou o ministro em pronunciamento ao lado de nove comandantes da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb).
No pronunciamento, Padrino Lópes afirmou que a oposição é comandada pela extrema direita, que deseja impor um “governo de fato paralelo”, sem amparo constitucional ou jurídico.
— Ontem [quarta-feira] vimos um evento reprovável, um senhor erguendo a mão novamente e se autoproclamando presidente da República da Venezuela, como ocorreu em abril de 2002. Este é um assunto gravíssimo, que atenta contra o Estado de direito e a paz dos venezuelanos — afirmou, em referência ao fracassado golpe de Estado de 11 de abril de 2002, quando o então presidente Hugo Chávez foi detido ilegalmente por militares e o opositor Pedro Carmona se proclamou presidente. — É aberrante o que vimos.
A oposição, afirmou o general, procura dividir a Venezuela a partir de um "vulgar golpe de Estado contra o governo legitimamente constituído" e levar o país a uma guerra civil.
— Este plano criminoso chegou ontem a limites de altíssimo perigo — afirmou, acrescentando que a situação atual pode levar a “caos e anarquia”.
O general, no entanto, instou ao diálogo entre o governo e setores da oposição, porque "a guerra não é nunca a nossa opção, mas sim o instrumento de apátridas que não sabem o que ela significa".
— Não é a guerra que resolverá os nossos problemas.
Sem oferecer nomes, Padrino saudou países que buscam o diálogo para encerrar a crise institucional na Venezuela. Sua principal referência era a Uruguai e México, que, na noite de quarta-feira, propuseram atuar como mediadores entre governo e oposição venezuelanos.
O líder militar também acusou Guaidó de “infantilismo político” e de querer entregar a integridade territorial e a soberania do país, algo que a Fanb “não permitirá”.
Além da mensagem de Padrino, transmitida pela TV estatal, pouco antes, oito generais que comandam regiões estratégicas da Venezuela ratificaram sua "lealdade e subordinação absoluta ao presidente constitucional da Venezuela", em mensagens divulgadas pela emissora. "Leais sempre, traidores nunca", disse um deles.
Na quarta-feira, o general já defendera o governo em mensagem no Twitter. "O desespero e a intolerância atentam contra a paz da nação. Nós, soldados da pátria, não aceitamos um presidente imposto à sombra de interesses obscuros, nem autroproclamado às margens da lei", escreveu.
Na quarta-feira, Guaidó convocou as Forças Armadas para se colocarem "ao lado do povo que sofre e da Constituição", e voltou a estender a mão aos que abandonarem Maduro com uma oferta de anistia, objeto de lei aprovada pela Assembleia Nacional de maioria opositora.
Para analistas do Eurasia Group, obter o reconhecimento do alto comando militar é vital para que Guaidó possa liderar uma transição, de modo que uma "queda de Maduro não parece iminente".
— Pode haver desde uma reação a favor de Maduro por parte dos atores que o sustentam, até uma reação violenta contra Guaidó ou contra o Parlamento — comentou o cientista político Luis Salamanca à AFP.
Maduro planeja participar nesta quinta-feira de uma sessão no Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), de maioria governista, que ordenou nesta quarta-feira que o Ministério Público investigue criminalmente os membros do Parlamento, de maioria opositora, acusando-os de usurpar as funções de Maduro.

Da AFP