sexta-feira, 29 de setembro de 2017

"Os senadores esqueceram o diálogo entre Aécio e Joesley", por Raquel Landim


Pedro Ladeira - 26.set.2017/Folhapress
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foi afastado pelo Supremo
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foi afastado pelo Supremo


Folha de São Paulo

Joesley: Tenho que falar duas coisas com você. Primeira coisa, sua irmã teve lá [na JBS].

Aécio: Obrigada por ter recebido ela.

Joesley: Ela me falou de pagar dois advogados, mas não dá mais para ser assim. Eu consigo o que vem [dinheiro] das minhas lojinhas.

Aécio: Como é que a gente faz?

Joesley: Se for o Fred, eu ponho um menino meu. Se for você, vou eu. Tem que ser entre dois.

Aécio: Tem que ser um que a gente mata se ele delatar. Vamos combinar o Fred e alguém seu. Você vai me ajudar para caralho (...). Como é que o Fred faz?

Joesley: O menino entra em contato com o Fred e [entrega] 500 [mil reais] por semana. Eles se acertam.

Joesley: Segunda coisa, coincidentemente, o Dida [Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras] me disse que você vai indicar o presidente da Vale.

Joesley: Ele falou: "Porra, sei que você conhece o Aécio, fala meu nome. E eu disse: Dida, vamos ser pragmáticos (...), eu não vendo nem compro nada da Vale, você consegue arrumar esse valor aqui?" E ele: "Porra, deixa eu estudar." Hoje ele mandou uma mensagem dizendo que arruma.

Aécio: O nosso negócio é olho no olho. Vou falar para você o que não falei para ninguém. Nomeie o presidente da Vale hoje. Eu fiz um negócio raro para caramba. Coloquei o cara dentro do headhunter. (...)

Aécio: A Vale tem quatro grandes núcleos. Tudo bem que você não vende nada para a Vale, mas você tem interesses. Podemos encaixar ele mais para frente. Diga ao Dida que o negócio da Vale está resolvido, mas que a Vale é um mundo.

O diálogo acima é um pequeno resumo da conversa entre Joesley Batista e Aécio Neves no dia 24 de março em uma suíte do Hotel Unique em São Paulo.

Aécio pede dinheiro ao empresário, que solicita em troca influência numa grande empresa na órbita do governo. Difícil um exemplo mais bem acabado de corrupção e compadrio.

Dias mais tarde, o primo do senador pega uma mala com R$ 500 mil das mãos de um funcionário de Joesley. Tudo devidamente gravado e filmado pela Polícia Federal.

O Senado, que sequer apreciou o mérito da denúncia contra Aécio, vem sofrendo de uma oportuna amnésia. Parece ter esquecido que a conversa acima ocorreu.

Para "salvar" o colega das medidas cautelares impostas pelo STF, os senadores alegam defender a independência entre os poderes. Mas não resta dúvida de que eles estão defendendo é a própria pele.

Aécio é peça central para manter o apoio do PSDB ao governo Michel Temer. 

A permanência de Temer no poder, por sua vez, é fundamental para garantir a impunidade ou pelo menos atrasar os processos contra boa parte dos políticos investigados na Lava Jato. Entre esses políticos, estão vários dos nobres senadores.