sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A corrida para 2018

Sem Lula no páreo, a disputa pela Presidência está em aberto, segundo levantamento do instituto Paraná Pesquisas. O melhor candidato do PSDB é Doria, que ganha de Alckmin em todos os quesitos, tanto por representar o “novo”, quanto por não ter o nome citado na Lava Jato

A corrida para 2018

Germano Oliveira - IstoE

A um ano da eleição, ao menos dez pré-candidatos já se insinuam à disputa pela cadeira de presidente do Brasil. Se Lula estiver fora do jogo, caso venha a ser condenado em segunda instância, o que o tornaria um ficha-suja, seis deles ficarão embolados nas primeiras colocações – todos com chances reais de vitória. Essa é a principal conclusão do levantamento realizado pelo instituto Paraná Pesquisas, feito com exclusividade a pedido de ISTOÉ. A pesquisa também consolida a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC) e atesta a vantagem do prefeito de São Paulo, João Doria, sobre o governador Geraldo Alckmin, ambos aspirantes a candidatos ao Planalto pelo PSDB. Em todos os quesitos em que são confrontados, o prefeito toma a dianteira sobre o concorrente.
No cenário em que Doria é o candidato tucano, o deputado Jair Bolsonaro (PSC) figura em primeiro com 19,6% e Marina Silva (Rede) em segundo, com 15,4%. Em seguida, aparece o prefeito de São Paulo com 13,5%, neste caso, em situação de empate técnico com a candidata da Rede, já que a margem de erro da pesquisa é de 2%. Em quarto, vem Joaquim Barbosa, com 8,9%, seguido por Ciro Gomes (7,4%), Álvaro Dias (4,4%), Fernando Haddad (3,4%) e Henrique Meirelles (2,3%). Nessa sondagem estimulada, 21,3% dos entrevistados disseram que não votariam em nenhum dos candidatos apresentados e 4% não souberam opinar. Quando o candidato do PSDB é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Bolsonaro permanece em primeiro, mas com desempenho ligeiramente melhor: pula de 19,6% para 20,9% das intenções de voto. Em segundo, de novo, aparece Marina com 15,3%, uma insignificante variação de 0,1% em relação ao quadro anterior, seguida por Alckmin, com 9,7% – 3,8 pontos percentuais a menos do que Doria. O quarto lugar é novamente do ex-ministro do STF e relator do mensalão Joaquim Barbosa, só que, desta vez, empatado com o candidato tucano: salta de 8,9% no cenário com Doria para 9,7% com Alckmin. Na sequência vêm Ciro Gomes (7,4%), Álvaro Dias (4,6), Fernando Haddad (4%) e Henrique Meirelles (2,2%). Nesse quadro, o número de entrevistados que dizem não votar em ninguém e que ainda não definiram o candidato sobe de 25,3% para 26,2% – o que confirma a natureza volátil do pleito. “Sem Lula na disputa, a eleição fica completamente indefinida”, afirma Murilo Hidalgo, diretor da Paraná Pesquisas. “Além disso, aumenta a chance de Bolsonaro chegar ao segundo turno e abre possibilidades para um candidato do PSDB. O levantamento também mostra que há espaço para crescimento de nomes como Joaquim Barbosa, Álvaro Dias e Henrique Meirelles. Os três juntos somam 12%. Hoje, o melhor tucano é Doria, por representar o novo e não ter contas a prestar na Lava Jato”, acrescentou.
Caio Guatelli
“Os partidos devem levar em conta o potencial político-eleitoral dos candidatos” Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República
Nas últimas semanas, a queda-de-braço no tucanato pela candidatura ao Planalto foi acirrada – cada qual apresentando suas armas. Se as pesquisas forem determinantes para definição do candidato do PSDB à Presidência, hoje Doria é o favorito. No levantamento por regiões, Doria bate Alckmin no Norte/Centro-Oeste (38,8% a 27,2%), no Sudeste (40,8% a 28,1%) e no Sul (43,4% a 30%). No Nordeste, há um empate técnico: Alckmin figura com 27,3% contra 26,1% de Doria.
O peso da ética
Quando os pesquisadores perguntam “qual dos dois candidatos do PSDB teria mais chance de ganhar o seu voto para presidir o País”, Doria aparece com 36,9% e Alckmin 28%. O instituto Paraná Pesquisas também questiona qual dos dois teria mais chances de derrotar o PT. Neste caso, Doria ostenta 36,8%, contra 28,5% de Alckmin. Ainda para 55% dos entrevistados, Doria é quem representa o “novo” na política. Alckmin constituiria uma “novidade” para 17,7%. O levantamento também confirma que a questão ética terá um peso importante na eleição. Confrontados com a pergunta “O senhor votaria em um candidato mencionado na Lava Jato?”, 73,4% dizem que não e apenas 14% sim.
Outro item a favorecer o prefeito paulistano é a rejeição dos candidatos. Lula, com 54%, é o mais rejeitado. Ou seja, alguém em quem o eleitor “não votaria de jeito nenhum”. O segundo mais reprovado é Alckmin, com 47,2%. Neste quesito, considerado determinante para a definição do segundo turno das eleições, que é quando o pleito assume um caráter plebiscitário, o governador de São Paulo perde até para Bolsonaro, cuja rejeição é de 45,9%. Doria, por sua vez, é reprovado por 36,8% dos entrevistados. Além da vantagem numérica exibida em quase todos os cenários, o prefeito conseguiria atrair para ele os votos de Alckmin, caso o governador não venha a ser candidato a presidente. Doria teria 48,3% dos votos hoje direcionados a Alckmin. Já se Doria não vir a ser candidato, Alckmin conquistaria 34,9% dos votos do prefeito. Segundo a pesquisa, um número expressivo dos eleitores de Doria migraria para Bolsonaro: 16%.
Apesar de a peleja indicar um quadro sem o ex-presidente petista, o instituto não deixou de testar hipóteses com Lula em campo. Nos dois, também variou os candidatos do PSDB. Com Doria, Lula figura em primeiro com 26,6%, seguido por Bolsonaro (18,5%), pelo prefeito de São Paulo (11,5%), Marina Silva (9,7%), Joaquim Barbosa (7,5%), Ciro Gomes (4,3%), Álvaro Dias (3,8%) e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (1,5%). Com Alckmin, Lula aparece em primeiro com 26,5%, Bolsonaro em segundo com 20% e Marina em terceiro, com 9,8%. Só então vem Alckmin, em quarto, com 8,4%. Na sequência, surgem Joaquim Barbosa (8,3%), Ciro Gomes (4,5%), Álvaro Dias (3,9%) e Meirelles (1,6%).
Para o ex-presidente FHC, provavelmente um dos árbitros da refrega tucana entre Doria e Alckmin, os partidos devem levar em consideração o potencial político-eleitoral de cada um dos candidatos, na hora de definir com quem marchará para a disputa: “Estas pesquisas mostram as especulações dos eleitores hoje. O cenário muda quando o eleitor confronta candidaturas assumidas. Quando deixei o Ministério da Fazenda para ser candidato, em abril de 94, eu tinha 12% e Lula 40%. Em outubro, ganhei com 54% e Lula 30%. Idem em 98. Isso não quer dizer que as pesquisas de hoje sejam inefetivas. Quer dizer que os partidos devem tomar em conta o potencial político-eleitoral dos candidatos e não apenas as pesquisas de hoje”, afirmou. O instituto ouviu 2.040 eleitores em 164 municípios de 26 Estados e Distrito Federal, entre os dias 18 e 22 de setembro, e está registrada no Conselho Regional de Estatística, sob número 3122/17. A julgar pelos números, a despeito da aparente consolidação de alguns cenários, sim, há muito jogo ainda para ser jogado.