sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Delatores da JBS dizem que PGR queria acabar com PMDB

Sérgio Lima - 7.set.2017/AFP
Joesley Batista, dono e presidente da JBS, o maior embalador de carnes do mundo, chega ao aeroporto depois de falar como testemunha do procurador-geral do Brasil, Rodrigo Jano, em Brasília, em 7 de setembro de 2017. Testemunho dos executivos da indústria de carnes, que dizem que administraram um enorme suborno rede, está no cerne do caso contra o presidente brasileiro Michel Temer
O executivo Joesley Batista


Folha de São Paulo


Prestes a fechar o acordo de delação premiada que lhe rendeu imunidade penal, Joesley Batista entrou no carro entusiasmado com a negociação com os procuradores da PGR (Procuradoria-Geral da República). Pretendia amanhecer o dia seguinte em Nova York.

O ânimo do empresário está registrado em uma conversa resgatada do gravador do sócio da JBS, divulgada nesta sexta (29) pela revista "Veja". O áudio sugere que ele havia acabado de entregar as gravações que fez do presidente Michel Temer (PMDB) e do senador Aécio Neves (PSDB).

Nessa nova peça, Joesley está no carro, a caminho do aeroporto, conversando com os advogados Fernanda Tórtima e Francisco de Assis e Silva e o executivo Ricardo Saud.

Os três avaliam a reação dos procuradores ("eles gostaram, querem evitar o máximo mostrar que gostaram, mas a pressa deles mostra", diz Tórtima; "eles gostaram pra cacete", opina Silva), especulam sobre o futuro e os efeitos da "bomba" que tinham acabado de soltar.

Também sugerem ter mais gravações, além das feitas por Joesley, que escolheram ocultar dos investigadores.


TRECHOS

"Você [Saud] quase pisou na bola, falou que gravou. Cai fora. Deixa só eu gravando", diz o empresário a seu funcionário.

"Sorte que não encompridou [sic] a conversa. Deixa que sou eu porque aí, pronto. Um filho da puta de plantão e acabou", disse o empresário.

No final do áudio, de cerca de meia hora, Joesley diz que tem que abastecer o carro. Murmura: "Quatro horas e quarenta de gravação".

Não contava que viriam a público os registros que iriam comprometer os benefícios legais, como a imunidade penal, que acordaram com a Justiça.

O acordo de delação dos empresários suspenso pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no início de setembro. Joesley e seu irmão, Wesley Batista, estão presos na carceragem da PF (Polícia Federal) em São Paulo.

Veja, abaixo, os principais temas abordados no diálogo.


DELAÇÕES

"Agora eu vou para Nova York. Vou amanhecer em Nova York. Eu vou ficar aqui, você tá louca? Soltar uma bomba dessas e ficar aqui fazendo o quê?".
Os efeitos da "bomba", explicou Joesley, começariam com o operador Lúcio Funaro, que acabaria fechando seu próprio acordo de delação premiada.

"O que eu vou provocar, além de tudo? Uma: quem gravou. Não é que foi o garçom que gravou, porra. Foi o maior empresário brasileiro, 11h da noite e tal", diz o empresário.


Ele se refere à conversa noturna em que gravou Michel Temer, no Palácio do Jaburu.

"O segundo é o seguinte: quando isso explodir, vai quebrar a aliança Eduardo Cunha e Lúcio [Funaro]. Vamos parar de pagar o Lúcio", continua Joesley.

Na conversa com o presidente, ele sugere que mantinha pagamentos a Cunha e Funaro, ao que o peemedebista responde "tem que manter isso aí".

Em outro áudio, também divulgado nesta sexta pela "Veja", Joesley Batista fala sobre como enxerga a "onda" de delações: "Começou os operadores, depois os empresários, agora os políticos. Depois dos políticos, não sei quem vai delatar. Vai ser o Judiciário". E ri.

Ainda animado com a perspectiva de acordo com a PGR, o empresário citou a possibilidade de anulação dos benefícios conquistados pela delação –o que acabou acontecendo.

Ele falava sobre a necessidade de tomar cuidado para não mencionar assuntos e pessoas –que poderiam vir a delatar– além do material que apresentavam ali aos procuradores.

"É a goleada deles [procuradores], sabe o que é? Você vir aqui, ajoelhar no milho, contar tuuuuudo e deixar um rabinho de fora. Aí vem outro, conta, e ele derruba seu acordo. Aí você ficou com cara de idiota. Ou seja: ele pegou tudo e te fodeu."


POLÍTICA

Ainda especulando se Rodrigo Janot aceitaria ou não o acordo de delação premiada, o empresário conversa com seus advogados sobre as relações políticas do ex-procurador-geral da República.

"Nós temos um risco. O risco é um: o comprometimento político de Janot com Tener", diz advogado Francisco de Assis e Silva.

"Eu acho que não existe", responde Joesley. Silva diz notar uma disposição dos procuradores em temas ligados ao PMDB.

"Eles querem foder o PMDB, eles querem acabar com eles", diz o advogado.

Minutos antes, Fernanda Tórtima tinha descartado a proximidade de Temer e Janot: "Ele não tem mais nenhum [compromisso], ele está saindo [da PGR]. E o candidato que ele gostaria de colocar no lugar dele, não vai conseguir".