
Não era o comandante-em-chefe, mas o senador Marco Rubio, republicano da Flórida, que quase três anos atrás foi derrotado pelo presidente Donald Trump na disputa pela candidatura republicana à Presidência, se tornou um estrategista e um porta-voz da fato da ousada e arriscada campanha dos Estados Unidos no atual embate político na Venezuela.
Por pura força de vontade e um esforço para envolver e convencer o presidente Trump, Rubio fez de si mesmo, na verdade, um secretário de Estado virtual para a América Latina, conduzindo a estratégia do governo e propagandeando-a diante de toda câmera de televisão que possa encontrar. Talvez nenhum outro indivíduo fora da Venezuela tenha sido mais crítico no atual desafio ao presidente Nicolás Maduro.
— Maduro escolheu uma batalha que não pode vencer — disse Rubio, de 47 anos, em uma entrevista na sexta-feira. — É só uma questão de tempo. A única coisa que não sabemos é quanto tempo levará, e se será pacífico ou sangrento.
Foi Rubio quem falou no ouvido de Trump, desde o início da Presidência, sobre o governo de Maduro e a necessidade de os Estados Unidos assumirem a liderança na questão. E também foi Rubio, junto com o vice-presidente Mike Pence e outros, que pediu para o presidente apoiar algum líder da oposição no intuito de fazer Maduro cair.
— Ele tem sido implacável desde a eleição de Trump, trabalhando duro para ganhar a confiança do presidente nessa área — disse o ex-deputado Carlos Curbelo, um colega republicano da Flórida. — Ele conseguiu e claramente colheu os dividendos.
Os esforços do senador colocaram os Estados Unidos no meio de um turbulento confronto em Caracas que opõe Maduro e líderes militares venezuelanos a um levante popular liderado por Juan Guaidó, ativista político de 35 anos, engenheiro industrial e presidente da Assembleia Nacional eleita em 2015.
Depois que Pence ligou para prometer o apoio de Trump a esse gesto, Guaidó se autoproclamou, na quarta-feira da semana passada, presidente interino sob a Constituição da Venezuela, alegando que a eleição do ano passado, que deu a Maduro um segundo mandato, foi ilegítima. Como prometido por Pence, os Estados Unidos logo reconheceram Guaidó como o líder de direito da Venezuela, sendo seguidos por 20 países, incluindo Canadá, Brasil e Argentina.
Ainda assim, Rubio está bem ciente do tamanho da aposta que os Estados Unidos fizeram ao fazer pressão por uma troca de liderança em Caracas.
Na entrevista de sexta-feira, ele delineou quatro possíveis saídas para o impasse atual: Maduro poderia se manter no poder; ele poderia ser forçado a sair por um golpe palacionado, sendo substituído por um líder civil também ruim; ele poderia ser destituído por um militar que se instalaria no poder; ou uma revolta popular como a que Guaidó está liderando atualmente poderia forçar a mudança.
— Os interesses americanos estão refletidos em somente um desses cenários — disse Rubio.
A abordagem de Rubio tem gerado um extraordinário apoio bipartidário, inclusive dos principais democratas, como os senadores Dick Durbin, de Illinois, e Robert Menendez, de Nova Jersey. No entanto, alguns funcionários veteranos do governo e analistas demonstraram uma preocupação de que o governo tenha se precipitado ao reconhecer Guaidó como interino sem antes garantir o apoio ndos militares venezuelanos, que formam a base de Maduro.
Enquanto Rubio insiste em que ainda há planos de contingência não especificados que ele não revelará, analistas dizem que o governo de Trump não parece preparado para um Plano B no caso de Maduro desafiar a pressão e se manter no poder.
Assim como outros líderes cubano-americanos na Flórida, Rubio opõe-se há muito tempo a Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez, cujos governos se alinharam a Havana. Ele tem sido uma das principais vozes que pressionam o governo a tomar medidas duras contra a China e a Rússia, aliados tradicionais de Cuba.
A firme oposição de Rubio a Maduro irritou de tal forma de maduristas linha-dura na Venezuela que um alto funcionário em Caracas teria ordenado uma tentativa de assassinato contra o senador em 2017. Rubio respondeu com bravatas. Depois que o secretário de Estado, Mike Pompeo, impôs sanções no ano passado contra Diosdado Cabello, vice-presidente do governosta Partido Socialista Unido da Venezuela, que teria ordenado o ataque, o senador provocou o venezuelano no Twitter postando uma foto de prisioneiros em macacões laranja, sugerindo que ele pudesse acabar atrás das grades.
"Que tamanho de uniforme você usa hoje em dia, extragrande ou XX-grande?" escreveu Rubio. "Só quero ter certeza de que a sua estadia seja o mais confortável possível."
Rubio compreende que, depois de anos de desventuras no exterior, muitos americanos estão relutantes em enfrentar outra ditadura fora do país.
— Por que isso deveria importar para nós? — perguntou ele no plenário do Senado na quinta-feira. — Por que os Estados Unidos deveriam estar envolvidos nisso?
Ele passou a descrever a "repressão total" e a corrupção do governo de Maduro que levaram seu país rico em petróleo às profundezas do desespero econômico, levando 3 milhões de venezuelanos a fugir.
O verdadeiro alvo de Rubio, no entanto, tem sido a audiência de uma pessoa em particular, um homem que durante a sua batalha pela indicação republicana em 2016 o ridicularizou como "Pequeno Marco" .
Ele esperou menos de um mês depois que Trump assumiu em janeiro de 2017 para iniciar um esforço persistente de chamar a atenção do presidente para a Venezuela. Em fevereiro de 2017, Rubio, juntamente com Pence, ajudou a conduzir Lilian Tintori, uma ativista política venezuelana e estrela de televisão, ao Salão Oval para conhecer Trump. Ela contou ao presidente sobre seu marido, Leopoldo López, líder da oposição em prisão domiciliar.
Trump depois tuitou uma foto de si mesmo dando um joinha ao lado de Tintori, com Rubio e Pence do outro lado. No tuíte, o presidente pediu à Venezuela que liberasse Leopoldo López imediatamente.
— O presidente realmente responde ao lado humano das questões — disse Rubio nesta sexta-feira.— Se você pode humanizar ou personalizar uma questão, isso é importante. Quando ele a conheceu e pôde ouvi-la, ficou impressionado.
Desde então, Rubio disse que conversou com Trump a respeito da Venezuela pelo menos uma vez por mês. Pence já via a questão da mesma forma e os dois ganharam aliados com a chegada de Pompeo e John Bolton, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, ambos nomeados pelo presidente no ano passado.
Rubio também ajudou a colocar outra figura política cubano-americana da Flórida, Mauricio Claver-Carone, como diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional.
— Depois que o Mauricio entrou, a política ganhou velocidade — disse Rubio. — Ele está ciente desses problemas.
Ainda assim, alguns envolvidos na questão disseram que a influência de Rubio foi exagerada e que, por mais importante que tenha sido, Trump precisou de pouca persuasão. Quando Guaidó foi brevemente preso e libertado este mês, Pence liigou para o líder da oposição para transmitir o apoio do presidente.
Na última terça-feira, um dia antes dos protestos em massa contra Maduro, Trump se encontrou com Pence e Bolton. De acordo com um funcionário da Casa Branca, o vice-presidente apresentou um memorando com opções e encorajou Trump a reconhecer formalmente Guaidó como o líder do país se ele reivindicasse a Presidência. O presidente concordou.
Mais tarde naquele dia, Trump e sua equipe encontraram Rubio na Casa Branca com mais outros três republicanos da Flórida: o governador Ron DeSantis, o senador Rick Scott e o deputado Mario Diaz-Balart. Rubio também abraçou a ideia de reconhecer Guaidó.
Pence ligou para Guaidó depois e disse que os Estados Unidos o apoiariam se ele reivindicasse a Presidência. O vice-presidente americano também postou no Twitter um vídeo em que incentivou os manifestantes.
No dia seguinte, Guaidó proclamou sua liderança e Trump o apoiou.
Rubio também pressionou o governo para aumentar a ajuda aos venezuelanos, que sofreram durante anos com uma economia em colapso. Pompeo anunciou na quinta-feira US$ 20 milhões em ajuda alimentar e médica para os venezuelanos.
Mas a preocupação real em Washington é se a situação em Caracas tomar rumos violentos. Rubio tem falado com funcionários do governo sobre as opções caso esse cenário se concretize — e fala com autoridade como se fosse ele quem decidisse.
— Se Maduro se tornar violento, seja contra Guaidó, contra a Assembleia, contra o povo ou, Deus queira que não, contra nossa embaixada, as consequências serão rápidas e severas — disse ele. — Eu posso te dizer sinceramente que não será uma nota de condenação.