O ministro da Agricultura, Blairo Maggi e sua sucessora, Tereza Cristina, pediram nesta terça-feira a divulgação, "o mais rápido possível", da lista de 200 servidores da pasta que estariam sendo investigados por envolvimento em supostas irregularidades no processo de inspeção animal. A lista foi citada pelo empresário Wesley Batista, da JBS, em depoimento durante delação premiada feita ao Ministério Público. Segundo o empresário, a companhia pagaria servidores para trabalhar fora do expediente em suas plantas de abate animal.
De acordo com Maggi, os 600 novos veterinários contratados pelo Ministério após a série de operações de Polícia Federal e do Ministério Público vivem sob incerteza no sistema de fiscalização. Essa insegurança, segundo ele, ocorre porque os novos fiscais sanitários, 300 concursados e 300 temporários, não sabem se estariam trabalhando com investigados.
"Quanto mais rápido vier à tona a tal da lista de 300, ou de 200, que todo mundo fala, seria melhor para o sistema, para o Ministério, para todo mundo", disse. "Esses novos (veterinários) estão trabalhando com fiscais mais velhos e eles não sabem quem está ao seu lado. O grau de confiança é afetado e estou vendo esse nosso serviço com muitos problemas em função de não saber quem é quem nesse processo. Estamos passando por momentos muito difíceis", completou.
A posição foi endossada por Tereza Cristina. "A gente precisa conhecer de fato (a lista) para tomar, o mais rapidamente, as ações, porque Brasil é grande exportador de carne, as empresas e o ministério fazem o dever de casa", disse Tereza Cristina. "Precisamos ter isso exposto para poder avançar, Brasil precisa ter credibilidade, tendo credibilidade, temos muitos mercados para abrir." Também o deputado Marcos Montes (PSD-MG), indicado como futuro secretário executivo, pediu acesso à lista.
O vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto, alerta para o potencial prejuízo que a divulgação das listas da JBS e também dos funcionários envolvidos nas irregularidades investigadas pela operação Trapaça, que teve como alvo a BRF, pode trazer ao comércio de proteína animal, pela perda de credibilidade do sistema de inspeção.
“A questão direta é que as leniências da BRF e da JBS citam funcionários públicos, mas estão resolvendo só o lado privado”, disse. As investigações se focam nas empresas e os funcionários delatados ficam esquecidos, segundo avaliou. “A leniência deveria ter dois lados, o público e o privado”, defendeu. Crimes e fraudes de menor porte deveriam ser punidos com multas de pequeno valor e as irregularidades grandes, com multas elevadas. “E viramos a página dessa triste historia.”
O presidente da BRF, Pedro Parente, esteve na segunda-feira no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona o escritório de transição, para uma reunião com a futura ministra da Agricultura. Ela informou que foi uma visita de cortesia. O Estado informou na segunda-feira que a BRF está pressionando ex-executivos a colaborar num acordo de leniência, considerado peça fundamental para sua reestruturação. A empresa perdeu R$ 16 bilhões em valor de mercado em 12 meses./COLABORARAM LU AIKO OTTA, JULIA LINDNER E LUISA MARINI, ESPECIAL PARA O ESTADO
Gustavo Porto, O Estado de S.Paulo