TUCSON - Prisioneiro de guerra torturado por seus sequestradores no Vietnã, o senador e ex-candidato republicano à Casa Branca em 2008, John McCain, foi sempre visto como um político independente e fiel a ideais que frequentemente o colocaram contra seu próprio partido e, nos últimos meses, contra o presidente Donald Trump.
Morto neste sábado, 25, em Sedona (Arizona), McCain era considerado um "herói" de forte personalidade e um tanto dissidente, o que o levou a ter problemas durante sua época de estudante na base militar.
O senador pelo Arizona definiu a si mesmo como um "jovem sem foco e rebelde", o qual quase expulsaram em várias ocasiões da academia militar, mas que foi capaz de transformar uma vida que, reconheceu, era cheia de "erros", embora ao final tenha tentado servir sua pátria.
Esta mesma personalidade rebelde seria demonstrada ao se opor a vários presidentes, especialmente a Trump devido a seus planos para revogar a reforma da saúde do ex-presidente Barack Obama e a construção de um muro na fronteira com o México.
Em entrevistas à agência EFE, McCain nunca duvidou em ir contra seu partido e um presidente o qual criticou em várias ocasiões, ao assegurar que a segurança da fronteira dependeria mais do uso de tecnologia que de um muro que Trump transformou em slogan de campanha e mandato.
Livro
Em um antecipação de seu novo livro, as memórias políticas The Restless Wave, McCain reconhecia saber que não concorreria a um sétimo mandato no Senado lhe deu liberdade para, sem medo de "consequências" eleitorais, manifestar seu "melhor julgamento".
Esse livro veio depois que ele foi diagnosticado no ano passado com um agressivo tumor cerebral que o afastou da política.
Mas McCain já tinha demonstrado essa independência no passado ao ir contra a maioria dos líderes do seu partido, como deixou bem claro ao se unir em 2013 a um grupo bipartidário de oito senadores que impulsionou uma reforma migratória integral, a qual nunca chegou a ser considerada na Câmara dos Deputados controlada pelos republicanos.
Em outra mostra de integridade, durante um comício da sua campanha eleitoral de 2008, McCain tomou o caminho mais complicado ao defender seu rival, o que seria depois presidente, Barack Obama, das duras críticas de uma dos presentes ao ato.
Em relação a vaias e assobios de simpatizantes republicanos que assistiram ao evento, McCain foi contundente ao dizer que admirava e respeitava Obama e suas conquistas.
Poucos meses depois, pronunciou um poderoso discurso de reconhecimento da derrota eleitoral que foi além das palavras protocolares que se costumam escutar nestes casos e afirmou que Obama tinha conseguido uma "grande conquista para ele mesmo e para seu país".
Nascido em 29 de agosto de 1936 em uma base militar no Canal do Panamá, quando o local encontrava-se sob controle americano, McCain seguiu os passos do seu pai e do seu avô e se alistou nas forças navais.
Vietnã
Uma das provas mais difíceis e que marcaria para sempre sua vida começou no dia 26 de outubro de 1967 quando tinha 31 anos. Seu avião foi derrubado sobre Hanói e ele seria prisioneiro de guerra cinco anos e meio no Vietnã, onde foi submetido a fortes torturas físicas e mentais.
Por seu serviço militar, recebeu múltiplos reconhecimentos, incluindo o coração púrpura, e após retornar à vida civil em 1981 se mudou para o Arizona, onde iniciou sua carreira política.
Momentos icônicos na vida de John McCain
Um ano mais tarde foi eleito pela primeira vez como congressista e em 1986 concorreu ao Senado federal, onde sempre trabalhou a favor dos direitos dos veteranos de guerra e, graças aos seus esforços, em 1995, EUA e Vietnã normalizaram suas relações diplomáticas.
Como senador ganhou rapidamente a reputação de rebelde e sua opinião sempre era reconhecida quando eram debatidos assuntos de política internacional e defesa nacional, como quando apoiou que se publicasse um relatório da CIA sobre torturas.
Porque, como disse em entrevista ao programa The View, da emissora ABC, quando lhe perguntaram como ele gostaria que o povo o lembrasse, McCain disse que sua prioridade era ser visto como um homem "que serviu à sua pátria".
O Estado de São Paulo e EFE