quinta-feira, 13 de abril de 2017

Odebrecht diz que pagou R$ 3 milhões de propina a Bendine, ex-presidente da Petrobras no governo corrupto Lula-Dilma



Aldemir Bendine presidiu a Petrobras de fevereiro de 2015 até maio de 2016, quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo - Givaldo Barbosa / Agência O Globo


Miguel Caballero - O Globo


Duas parcelas foram pagas quando empresário já estava preso


Um dos depoimentos da delação premiada de Marcelo Odebrecht relata o pagamento de propina ao ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine. O presidente da empreiteira conta à Procuradoria-Geral da República que Bendine havia pedido R$ 17 milhões à Odebrecht quando ainda presidia o BB, o que teria sido recusado pelo empresário. Quando Bendine assumiu a Petrobras, em fevereiro de 2015, Odebrecht diz que decidiu autorizar os pagamentos a ele, porque a empresa já enfrentava problemas com investigações da Lava-Jato e por temer que, no novo cargo, Bendine pudesse criar problemas para o grupo.

Segundo o depoimento de Odebrecht, foram feitos três pagamentos de R$ 1 milhão em dinheiro a Bendine, nos dias 17 de junho, 24 de junho e 1º de julho de 2015. Ou seja, a primeira parcela foi paga dois dias antes da prisão de Marcelo Odebrecht, no dia 19 de junho de 2015, e as duas seguintes quando o empresário já estava na prisão.

Como Bendine não tem foro privilegiado, o caso foi remetido pela Procuradoria-Geral da República (PGR) à Justiça Federal do Paraná. O Ministério Público Federal (MPF) no Paraná conduzirá as investigações sobre o caso.

'Cedemos ao achaque porque era presidente da Petrobras'

A história tem início no primeiro semestre de 2014, quando a Odebrecht Agroindustrial inicia negociações para alongamento de sua dívida com o Banco do Brasil, à época em torno de R$ 1,7 bilhão. Durante seis meses, a negociação transcorreu normalmente, até que, no segundo semestre, segundo Marcelo Odebrecht, o então presidente do BB passou a cobrar propina de 1% do total da dívida (R$ 17 milhões) para ajudar na negociação.

O pedido teria sido feito por André Gustavo Vieira da Silva, emissário de Bendine, a Fernando da Cunha Santos Reis, ex-pesidente da Odebrecht Ambiental e que também fez delação premiada.

Marcelo Odebrecht diz que se recusou a pagar qualquer propina, por entender que a negociação tinha "embasamento técnico". A situação teria mudado no início de 2015, quando Bendine foi nomeado presidente da Petrobras.

— Aí a coisa mudou de figura. Nessa altura a gente já estava cheio de problemas, a Lava-Jato já tinha começado. Ele (Bendine) voltou cobrar via Fernando. Fernando me dizia "agora o cara é presidente da Petrobras, pode criar vários problemas para você". Uma coisa é saber a capacidade que ele tinha de perturbar a gente no Banco do Brasil, com um empréstimo que tinha embasamento técnico. A outra é na Petrobras — diz Odebrecht.

O empresário afirma no depoimento aos procuradores que decidiu fazer os pagamentos por causa da nova posição de Bendine.

— Estávamos cedendo ao achaque porque ele era presidente da Petrobras. Autorizei os pagamentos, foi conduzido por Fernando. Na cabeça dele, era por conta do empréstimo (da Odebrecht Agroindustrial junto ao Banco do Brasil), mas a gente estava cedendo pela posição atual dele - afirma. - Autorizei os pagamentos. Disse a Fernando para administrar com o André os pagamentos, não dos R$ 17 milhões pedidos, mas "vamos pagando". 

Parece que foram pagos R$ 3 milhões. Dos três pagamento (de R$ 1 milhão), dois aconteceram, inclusive, quando eu já estava preso.

Aldemir Bendine foi procurado nesta quinta-feira para comentar as acusações, mas ainda não foi encontrado.