quarta-feira, 19 de abril de 2017

Delações da Odebrecht agravam situação de Lula em relação a sítio

Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Luiz Vassallo e Julia Affonso - O Estado de São Paulo


Segundo depoimentos da Odebrecht, imóvel foi reformado para o ex-presidente usar; engenheiro diz ter comprado cofre para guardar dinheiro usado na obra


FOTO AEREA SITIO LAUDO
Detalhes narrados pelos delatores da Odebrecht sobre a participação da construtora na reforma de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, reforçam a suspeita de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o real proprietário do imóvel. Em inquérito aberto na Justiça Federal do Paraná, a força-tarefa da Operação Lava Jato investiga se obras no local serviram de contrapartida da empreiteira pela atuação do petista em favor do grupo na época em que foi presidente.
Os depoimentos e documentos entregues por executivos e ex-executivos da empresa foram remetidos para os investigadores em Curitiba. O inquérito sobre a compra e reforma do Sítio Santa Bárbara foi prorrogado em janeiro deste ano e está em fase final.
atibaia
O principal argumento da defesa de Lula é de que a propriedade não está em seu nome, mas no de Fernando Bittar e de Jonas Suassuna – ambos sócios de um dos filhos de Lula. A defesa admite, porém, que o ex-presidente esteve no imóvel algumas vezes com a família.
Para investigadores, as suspeitas são de que o registro em nome de outras pessoas seria uma forma de Lula ocultar o patrimônio.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
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Emílio contou aos procuradores da Lava Jato que, no encontro, o petista não teria ficado “surpreso” com a informação. “Eu disse: olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio.” Anotações e e-mails foram entregues pelo delator como forma de comprovar a reunião.
FOTO COM LULA
Um dos principais interlocutores da Odebrecht com Lula, o ex-diretor de Relações Institucionais Alexandrino Alencar afirmou que o pedido para a reforma no sítio foi feito pela então primeira-dama, Marisa Letícia, que morreu em fevereiro. “Ela me falou sobre um sítio e me perguntou se a companhia poderia ajudá-los a finalizar obras e reformas que estariam atrasadas, porque a equipe que fazia o trabalho estava com desempenho medíocre”, disse Alexandrino no depoimento. Segundo o delator, Marisa disse que ela e o ex-presidente pretendiam frequentar o imóvel a partir de janeiro do ano seguinte.
Além dos depoimentos nos quais relata sua relação com Lula, Alexandrino entregou aos procuradores da Lava Jato uma relação de nove episódios em que a empreiteira atendeu a pedidos do ex-presidente. Segundo ele, eram “contrapartida ao apoio e a influência política recebidos ao longo do tempo pelo atendimento das questões de interesse da companhia”. Na lista consta, além do sítio em Atibaia, itens como a construção do estádio do Corinthians e uma mesada para Frei Chico, irmão de Lula.
Alexandrino também afirmou que, em 2011, procurou o advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula, para combinar uma maneira de “formalizar” as obras. Na ocasião, segundo o delator, eles combinaram de forjar notas de outras obras para que pudessem justificar os gastos na reforma. “Ele estava preocupado, digamos, como é que poderia aparecer essa obra sem um vínculo com os proprietários do sítio. Então nós marcamos uma reunião uma semana depois”, disse o ex-diretor. Ao todo, segundo ele, a Odebrecht gastou R$ 1 milhão na obra.
ESQUEMA ROBERTO TEIXEIRA
Cofre. Destacado pela empresa para acompanhar a reforma, o engenheiro Emyr Diniz Costa Junior disse em sua delação que ajudou a elaborar um contrato falso para esconder a participação da Odebrecht. Ele afirmou ainda que comprou um cofre para guardar R$ 500 mil repassados, em espécie, pela empreiteira para executar a obra.
De acordo com o engenheiro, o dinheiro saía do Setor de Operações Estruturadas, o chamado “departamento da propina”. “Eu liguei para ela (secretária do setor) e pedi os R$ 500 mil. Como eu nunca tinha manejado, em uma obra, uma soma dessa natureza, eu comprei um cofre especificamente e coloquei dentro de um armário na minha sala, dentro do meu escritório”, disse.
Segundo Costa, o pedido feito pelo então ajudante de ordem da Presidência Rogério Aurélio Pimentel era para construir uma “pequena casa para alojamento dos seguranças do presidente”, “um campo de futebol”, “uma edícula de quatro suítes atrás da casa principal do sítio”, “uma adega para os vinhos de Lula”, além da construção de uma sauna. “Ele pediu para que fosse feito em 30 dias para que quando o presidente saísse da Presidência ele pudesse usar esse sítio”, disse.
COM A PALAVRA, O ADVOGADO ROBERTO TEIXEIRA
“Jamais propus, orientei ou executei qualquer ato ilegal na minha trajetória de 47 anos ininterruptos de exercício da advocacia.
A delação premiada de Alenxandrino Alencar tem sido utilizada por alguns veículos de imprensa para atribuir a mim participação em afirmada emissão de documentos falsos relativos a obras realizadas em um sítio em Atibaia, de propriedade do meu cliente Fernando Bittar.
A verdade é que o próprio Alexandrino Alencar afirmou em sua delação o que eu mesmo sempre deixei claro: “que o sítio é do Fernando Bittar” e que minha atuação, enquanto seu advogado, era a de formalizar as obras realizadas como condição para que Fernando Bittar, meu cliente, fizesse o pagamento do valor devido pelos serviços.
Reafirmo que minha atuação na advocacia sempre foi pautada pela ética e pela observância às leis.
Roberto Teixeira”
COM A PALAVRA, A DEFESA DO EX-PRESIDENTE LULA
“Os procuradores da Lava Jato sabem, há mais de um ano, que o sítio frequentado pelo ex-presidente Lula em Atibaia não pertence e nunca pertenceu a ele. Os donos comprovaram a propriedade e a origem dos recursos. Sabem também que Lula não pediu nem autorizou ninguém a pedir que fossem feitas reformas no imóvel. Lula não tem nada a esconder, porque não fez nada de ilegal”.