Ana Paula Ribeiro - O Globo
Papéis de estatais aceleram queda após PF indiciar empreiteiros; Ibovespa volta ao patamar de março e dólar fecha a R$ 3,202, alta de 0,25%

As ações da Petrobras tiveram queda acentuada. Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) da estatal registraram recuo de 5,35%, cotados a R$ 10,79. Os ordinários recuaram 6,02%, a R$ 11,86. A queda se acentuou após a Polícia Federal indiciar o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, pelos crimes de fraude em licitação e corrupção passiva com base nas investigações da Lava Jato. Outras sete pessoas também foram indiciadas.
Já a Justiça Federal do Paraná condenou três ex-dirigentes da Camargo Corrêa investigados na operação da PF.
— O ambiente não está bom. Além da questão política e da situação da Grécia, as expectativas econômicas continuam ruins, como mostrou o boletim Focus — disse Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor, lembrando que o pregão foi de vencimentos de opções, o que adicionou volatilidade nos papéis de maior liquidez.
O ambiente político e a Lava Jato também contribuíram para a queda de outras ações de estatais. Reportagem do jornal “Valor” mostra que o escritório de advocacia americano Rosen Law Firm está preparando uma ação contra a Eletrobras. As preferenciais registraram queda de 1,62% e os as ordinárias recuaram 2,40%. Já as ações da Braskem, que tem como sócios controladores a Petrobras e a Odebrecht, recuaram 5,18%.
TAM AJUDA NA QUEDA DA GOL
Os bancos, que possuem o maior peso na composição do Ibovespa, também operaram em queda. As ações do Itaú e do Bradesco registram recuo de, respectivamente, 0,60% e 1,81%. Já os papéis do Banco do Brasil tiveram queda de 2,52%.
No caso da Gol, a queda foi de 7,23%, uma das maiores do índice. Segundo analistas, os investidores aproveitaram a notícia de que a TAM vai reduzir as operações no mercado local devido ao cenário de recessão para iniciar um movimento de venda nas ações da Gol, que subiram forte na semana passada. Os recibos de ações (ADRs) da Latam negociados em Nova York operam com desvalorização de 2,79%. A alta do dólar é outro fator que afeta o resultado das companhias aéreas.
— A situação não está boa para a Gol, que possui um alto endividamento em dólar. Além disso, se a Tam está fazendo ajustes, a Gol também deve fazer. E na semana passada o papel da Gol já subiu muito com o anúncio de acordo com a Delta. Agora tudo é motivo para devolver essa alta por conta do cenário macroeconômico — avaliou Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora.
No mercado acionário externo, os principais indicadores fecharam em terreno positivo. Nos Estados Unidos, Dow Jones e S&P 500 tiveram leve alta de 0,08%. O DAX, de Frankfurt, subiu 0,53% nesta segunda-feira e o CAC 40, da Bolsa de Paris, teve valorização de 0,35%. Em Londres, o FTSE 100 fechou em alta de 0,20%.
DÓLAR ROMPE FAIXA DOS R$ 3,20
A moeda americana vem sendo negociada na faixa entre R$ 3,10 e R$ 3,20. Subindo quando atinge esse piso e recuando quando bate nos R$ 3,20. No entanto, com os dados fracos da economia, possibilidade de aumento de juros nos Estados Unidos e o acirramento da tensão política no Brasil, a divisa dá sinais de que pode buscar um novo patamar, mesmo que a alta não seja acentuada. Nesta segunda-feira, a divisa chegou a atingir R$ 3,225, mas perdeu força.
— O dólar subiu pela manhã com o cenário econômico negativo e o temor de novas notícias na área política, mas depois o mercado perdeu força, até porque o Congresso Nacional entrou em recesso — disse João Medeiros, diretor da Pionner Corretora.
Segundo analistas, é forte a preocupação de que a queda de braço entre o governo e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), possa dificultar ainda mais a aprovação das medidas de ajuste fiscal. Além disso, é esperado que o Congresso Nacional passe a aprovar ainda mais medidas contrárias ao governo Dilma Rousseff. “O pacote de retaliações ao governo deve se estender à CPI da Petrobras, sob controle de um deputado da tropa de choque de Cunha. Nesse cenário de extrema gravidade não há como pretender calmaria nos mercados locais para os próximos dias e semanas. A pressão sobre o dólar deverá ter continuidade em detrimento ao mercado acionário”, afirmou, em relatório, o analista Ricardo Gomes da Silva, da Correparti Corretora de Câmbio.
Com o dólar perdendo força ante o real, o comportamento do mercado de câmbio no Brasil passou a ficar em linha com o exterior, onde o “dollar index”, calculado pela Bloomberg e que leva em conta o comportamento do dólar ante uma cesta de dez moedas, registra variação positiva de 0,14% no momento do encerramento dos negócios no Brasil. Os investidores estão atentos a novas dados da economia dos Estados Unidos e da China que devem ser divulgados ao longo da semana.
— A agenda lá fora está relativamente esvaziada e adicionalmente a Grécia volta a viver um período de normalidade bancária e a China vem com o terceiro pregão de alta diante das ações do governo para conter o pânico no mercado acionário — avaliou Marco Aurélio Barbosa, estrategista da CM Capital Markets.