domingo, 24 de setembro de 2023

Em “Bom Dia, Vietnã”, Robin Williams testa os limites como radialista na guerra', por Gabriel de Arruda Castro

 

Robin Williams encarnou um dos grandes papeis de sua carreira no filme de 1987| Foto: Reprodução YouTube


A liberdade de expressão absoluta é o ideal defendido por filósofos iluministas como John Stuart Mill, que tiveram grande influência na formação política dos Estados Unidos. Graças à primeira emenda à Constituição americana, é possível dizer as coisas mais abjetas sem ser punido por isso. Mas a primeira emenda não impede que patrões censurem seus funcionários. Especialmente quando o patrão são as Forças Armadas em um período de guerra.

Este é o tema central do clássico Bom Dia, Vietnã (1987), disponível para streaming na plataforma Star+. No filme, Robin Williams (1951-2014) interpreta Adrian Cronauer, um radialista encarregado de informar e entreter as tropas americanas no Vietnã. Ele é transferido da Grécia, onde tinha uma vida serena, para o caos do conflito no país asiático. Cronauer traz consigo seu estilo anárquico de enfileirar piadas a um ritmo estonteante, permeadas por uma ou outra notícia. Mas logo ele descobre que não pode tocar certas músicas e dizer certas coisas sem a aprovação dos superiores. As canções de Bob Dylan, por exemplo, estão na lista negra. A inofensiva Orquestra Mantovani está aprovada de antemão.

O personagem de Robin Williams, popular entre as tropas americanas no Vietnã, consegue manter o seu estilo irreverente por algum tempo, apesar da contrariedade do seu superior imediato. Mas as coisas mudam na segunda metade do filme, quando um incidente coloca à prova a sua disposição de contornar a censura militar.



https://youtu.be/KUX4hF7UM9o


Piadas e moralidade

Em tempos de guerra, manter a ordem e o moral da tropa são prioridades. Comédia salpicada com algum drama, Bom Dia, Vietnã mostra como mesmo uma democracia com as garantias da primeira emenda tem limites à liberdade de expressão quando a defesa nacional está em jogo. De forma leve, o filme explora a tensão entre ordem e criatividade. Como bônus, traz boas piadas (algumas datadas) e um debate (raso) sobre a moralidade da guerra.

Bom Dia, Vietnã é um dos filmes cujo papel principal parece ter sido talhado para Robin Williams. Difícil imaginar outro ator interpretando o caótico radialista. Em muitas das cenas, as falas de Williams fluem tão naturalmente que parecem ser improvisos. E algumas, de fato, são, conforme o diretor Barry Levinson revelaria anos depois. O filme rendeu ao ator um Globo de Ouro, uma indicação ao Oscar e um lugar entre os grandes de Hollywood.

Embora Barry Levinson e o roteirista Mitch Markowitz tenham adaptado o enredo com ampla liberdade criativa, a história do filme foi inspirada em um personagem real. O verdadeiro Adrian Cronauer, que morreu em 2018, atuou mesmo como radialista para as tropas americanas no Vietnã. Mas, na vida real, Cronauer era menos indisciplinado, mais conservador e mais dedicado. O Cronauer da vida real provavelmente não renderia uma grande atuação de Robin Williams.


Gabriel de Arruda Castro, Gazeta do Povo