Anielle Franco a bordo do jatinho da FAB para ver o Flamengo se dar mal: “Ops, mentira! Ato falho!”.| Foto: Reprodução/ Twitter
Flagrada a bordo de um jatinho da Força Aérea Brasileira rumo ao estádio do Morumbi, onde seria (e foi) realizada a final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo, a ministra flamenguista e especialista em metalurgia Anielle Franco não pediu desculpas, não se retratou nem prometeu devolver o dinheiro da viagem. Pelo contrário! Ela respondeu com vitimismo e ameaças feitas com o dedinho virtual em riste. Eu, hein?
“É inacreditável que uma ministra seja questionada por ir fazer o seu trabalho de combate ao racismo e cumprir o seu dever”, escreveu ela numa série de quatro tuítes – que é como os primitivos e os velhos ainda chamam as publicações no X. Sinal dos tempos! Questionar o privilégio aéreo da madame agora é “inacreditável” e tratado como uma agressão à moça. Que, tadinha, só queria “ir fazer” (sic) seu trabalho de promover a ideia de que existe racismo estrutural no Brasil, fomentando o ressentimento histórico e o desejo de vingança em muitos brasileiros.
Aí ela continua dizendo que “vemos que as noções estão invertidas”. E aí sou obrigado a concordar com a irmã da Marielle. Mas o que é que se pode fazer quando se tem um ex-presidiário condenado por corrupção e lavagem de dinheiro ocupando a Presidência? Como dizer a um filho ou até mesmo para a sra. Anielle o que é certo e o que é errado, muito errado, neste país onde honra não significa nada e o temor a Deus é tratado com escárnio, como se fosse “papo de fanático”?
Mas interrompi a moça enquanto ela falava. Peço desculpas. Pode continuar, ministra. “Vemos que as noções estão invertidas quando avançamos em um acordo histórico de enfrentamento ao racismo e somos criticados por isso”, escreve ela. E aqui sou obrigado a levantar a mão novamente para questionar: acordo histórico?! Quer dizer que, além da humilhação do multimilionário Flamengo, houve ontem no Morumbi algum outro evento do qual as gerações futuras se lembrarão? Acabou o racismo estrutural do Brasil e não me avisaram? Bom, então talvez valha a pena avisar também o ministro Silvio Almeida.
Este primeiro tuíte termina com a pergunta “O que de fato incomoda?”. O voo, moça! O voo e somente o voo. O privilégio de viajar num jatinho da FAB em vez de ter de se espremer num avião de carreira, em contato com o (argh!) povo. Um voo que seguramente não custou menos de R$50 mil aos cofres públicos. O que incomoda é também a desfaçatez com que o grupo por ora no poder trata os bens, ou melhor, os luxos públicos: como se lhes pertencessem. Como se lhes fossem de direito.
Um ser humano como qualquer outro
Não satisfeita em passar vergonha com um único tuíte, Anielle Franco partiu para o vitimismo. “Inclusive, precisei abrir mão de estar com a minha família e minhas duas filhas em um domingo para ir trabalhar. Quem tem filhas pequenas consegue entender o peso disso”, escreveu, apelando para o sentimentalismo. Vai que cola, né? Anielle trata a viagem para torcer para o Mengão (ou menguinho, se você for são-paulino ou antiflamenguista) como um grande fardo. Um sacrifício. Será que tem gente que acredita nisso?!
Como o sentimentalismo talvez não desse certo, Anielle Franco ou sua assessoria incorporaram o espírito totalitário do governo e partiram para o contra-ataque. “Importante reconhecer que práticas de desinformação, manipulação da verdade e a divulgação de notícias falsas configuraram...” TCHAN-TCHAN-TCHAN-TCHAN! “...violência política de Gênero e Raça, na tentativa de impedir o nosso trabalho”.
Neste ponto, vale notar não só o uso desonesto – sim, desonesto! – do conceito igualmente desonesto de “violência política de gênero e raça”, mas principalmente a mentalidade cheia de autoimportância de alguém que se considera vítima de um grande complô para tentar “impedir o nosso trabalho”. E aí Anielle Franco termina com o mais puro suco de demagogia, não!, uma verdadeira redução de demagogia: “Não são ataques à este [sic; brasileiro não pode ver um "a" solitário que vai logo tascando uma crase nele] ministério ou a mim, mas ao povo brasileiro”.
O último tuíte (xiste?) é um monte de lero-lero que começa com “Não chegamos ontem. Estamos há muitos anos nessa caminhada”. A gente sabe, ministra. A gente sabe que a esquerda está infiltrada no Estado, promovendo todos os tipos de absurdos em nome de conceitos abstratos e objetivos inatingíveis como a tal da igualdade e o combate ao já citado racismo estrutural.
E pensar que este país já teve gente indecente que, no entanto, era muito mais decente do que a aeroministra. Como, por exemplo, o folclórico ministro do Trabalho Rogério Magri, dono da cadela Orca e que foi demitido por Collor ao ser flagrado usando um carro oficial para levar o caninocetáceo ao veterinário. “A cachorra é um ser humano como qualquer outro”, disse, na época, o ex-ministro do inesquecível “imexível”. Tanta semelhanças; mas quanta diferença.
Paulo Polzonoff Jr., Gazeta do Povo