segunda-feira, 27 de junho de 2022

Samuel L. Jackson usa suposto termo racista para criticar juiz sobre aborto

 Ator criticou voto do magistrado negro Clarence Thomas em mudança federal sobre legalidade de interrupção da gravidez

Samuel L. Jackson foi uma das celebridades críticas à mudança no aborto na Suprema Corte
Samuel L. Jackson foi uma das celebridades críticas à mudança no aborto na Suprema Corte | Foto: Flickr

reversão de interpretação da Suprema Corte dos EUA sobre o direito ao aborto deflagrou debate quente no país desde a sexta-feira 24. Uma série de celebridades se manifestou publicamente a respeito do novo entendimento, que agora cede a decisão sobre a legalidade da prática aos Estados.

Um dos comentários mais polêmicos foi registrado pelo veterano ator Samuel L. Jackson. A estrela de Pulp Fiction e de filmes da Marvel atacou em particular o juiz Clarence Thomas, supostamente usando um controverso termo racista para se referir ao magistrado, negro.

No Twitter, Samuel L. Jackson criticou o voto de Thomas a favor da reversão da lei conhecida como Roe vs. Wade, de 1973.

Em seu voto, Thomas escreveu que o mesmo argumento usado para derrubar o aborto legal poderia ser empregado para derrubar decisões que concedem direitos à contracepção e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Jackson então foi às redes sociais e mencionou a lei que trata do casamento interracial, de 1967, pelo fato de o juiz ser casado com uma mulher branca. Em seu tuíte, o ator faz uma aparente referência ao personagem-título de Uncle Tom’s Cabin (“A Cabana do Tio Tom”, em tradução livre), romance que critica a escravidão nos EUA, escrito em 1852, por Harriet Beecher Stowe.

Desde o século 19, o termo “Tio Tom” passou a se referir ironicamente a uma pessoa negra percebida como excessivamente subserviente a figuras de autoridade brancas — algo com significado parecido com “capitão do mato” na História brasileira.

“Como o tio Clarence está se sentindo sobre derrubar Loving vs Virginia (a lei do casamento interracial)?”, escreveu Samuel L. Jackson.

A mensagem foi respondida por uma série de pessoas, como Ted Cruz, senador republicano do Texas: “A intolerância odiosa da esquerda não conhece limites”.

Mas Samuel L. Jackson não foi a única personalidade negra a criticar Clarence Thomas. No sábado, a prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, se manifestou contra o magistrado da Suprema Corte durante a Parada Gay da cidade. Homossexual, a política usou o microfone para xingar o juiz, usando termos fortes.

Como fica o aborto nos EUA

Suprema Corte dos EUA decidiu reverter a legislação do país referente ao direito ao aborto em âmbito federal. O principal tribunal do país endossou uma lei do Estado do Mississippi que proíbe o aborto depois de 15 semanas de gravidez, impactando o cenário de saúde reprodutiva do país.

Com a anulação da lei de 1973, conhecida como Roe vs. Wade, agora a legalidade do aborto vai ficar sob responsabilidade dos Estados, que já vinham se preparando nas últimas semanas para adaptar a questão conforme entendimento local.

A revisão da lei acontece em um raro momento de maioria conservadora na composição da Suprema Corte, depois que o ex-presidente Donald Trump indiciou três membros para o tribunal durante o seu mandato. Dois deles sucederam a juízes publicamente simpáticos ao direito ao aborto.

A intenção de revisão da lei sobre o direito ao aborto vazou da Suprema Corte no começo de maio. Desde então, o debate esquentou no país, com constantes protestos nas ruas, envolvendo simpatizantes das duas partes.

LEIA TAMBÉM:


Lei Também: Um homem brilhante, artigo de Ana Paula Henkel sobre o juiz Clarence Thomas, publicado na Edição 118 da Revista Oeste.

Bruno Freitas, Revista Oeste