Ator criticou voto do magistrado negro Clarence Thomas em mudança federal sobre legalidade de interrupção da gravidez
A reversão de interpretação da Suprema Corte dos EUA sobre o direito ao aborto deflagrou debate quente no país desde a sexta-feira 24. Uma série de celebridades se manifestou publicamente a respeito do novo entendimento, que agora cede a decisão sobre a legalidade da prática aos Estados.
Um dos comentários mais polêmicos foi registrado pelo veterano ator Samuel L. Jackson. A estrela de Pulp Fiction e de filmes da Marvel atacou em particular o juiz Clarence Thomas, supostamente usando um controverso termo racista para se referir ao magistrado, negro.
No Twitter, Samuel L. Jackson criticou o voto de Thomas a favor da reversão da lei conhecida como Roe vs. Wade, de 1973.
Em seu voto, Thomas escreveu que o mesmo argumento usado para derrubar o aborto legal poderia ser empregado para derrubar decisões que concedem direitos à contracepção e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Jackson então foi às redes sociais e mencionou a lei que trata do casamento interracial, de 1967, pelo fato de o juiz ser casado com uma mulher branca. Em seu tuíte, o ator faz uma aparente referência ao personagem-título de Uncle Tom’s Cabin (“A Cabana do Tio Tom”, em tradução livre), romance que critica a escravidão nos EUA, escrito em 1852, por Harriet Beecher Stowe.
Desde o século 19, o termo “Tio Tom” passou a se referir ironicamente a uma pessoa negra percebida como excessivamente subserviente a figuras de autoridade brancas — algo com significado parecido com “capitão do mato” na História brasileira.
“Como o tio Clarence está se sentindo sobre derrubar Loving vs Virginia (a lei do casamento interracial)?”, escreveu Samuel L. Jackson.
A mensagem foi respondida por uma série de pessoas, como Ted Cruz, senador republicano do Texas: “A intolerância odiosa da esquerda não conhece limites”.
Mas Samuel L. Jackson não foi a única personalidade negra a criticar Clarence Thomas. No sábado, a prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, se manifestou contra o magistrado da Suprema Corte durante a Parada Gay da cidade. Homossexual, a política usou o microfone para xingar o juiz, usando termos fortes.
Como fica o aborto nos EUA
A Suprema Corte dos EUA decidiu reverter a legislação do país referente ao direito ao aborto em âmbito federal. O principal tribunal do país endossou uma lei do Estado do Mississippi que proíbe o aborto depois de 15 semanas de gravidez, impactando o cenário de saúde reprodutiva do país.
Com a anulação da lei de 1973, conhecida como Roe vs. Wade, agora a legalidade do aborto vai ficar sob responsabilidade dos Estados, que já vinham se preparando nas últimas semanas para adaptar a questão conforme entendimento local.
A revisão da lei acontece em um raro momento de maioria conservadora na composição da Suprema Corte, depois que o ex-presidente Donald Trump indiciou três membros para o tribunal durante o seu mandato. Dois deles sucederam a juízes publicamente simpáticos ao direito ao aborto.
A intenção de revisão da lei sobre o direito ao aborto vazou da Suprema Corte no começo de maio. Desde então, o debate esquentou no país, com constantes protestos nas ruas, envolvendo simpatizantes das duas partes.
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Lei Também: Um homem brilhante, artigo de Ana Paula Henkel sobre o juiz Clarence Thomas, publicado na Edição 118 da Revista Oeste.
Bruno Freitas, Revista Oeste