quinta-feira, 2 de junho de 2022

Aluna mineira de baixa renda é aprovada em Harvard, Yale e Stanford

 


Curiosidade e esforço. Assim a estudante Sofia Santos de Oliveira, de 18 anos, explica o fato de ter sido aprovada em Harvard, Yale e Stanford, três das mais tradicionais universidades dos Estados Unidos. Moradora de Belo Horizonte, Sofia foi selecionada neste ano em um processo de uma organização não governamental (ONG). Numa difícil decisão, a jovem que superou dificuldades financeiras escolheu Harvard, onde vai cursar Química e Ciências Sociais. Lá terá bolsa integral e uma ajuda de custo, durante quatro anos. O investimento, estimado em R$ 2 milhões, será bancado pela universidade.

“Sempre fui curiosa e procurei isso. Não apareceu ao acaso. Eu fui atrás. Não acho que sou mais inteligente do que ninguém. Se tem alguma diferença é que eu me esforço muito. Sempre gostei de estudar”, disse a jovem.

Em sua trajetória como estudante, Sofia passou por altos e baixos. Foram os momentos mais difíceis que a levaram a buscar alternativas nos estudos. “Foi um trauma. Ter que mudar de escola, ter que cancelar meu curso de inglês…”, afirmou ela, ao relembrar um período de dificuldades financeiras enfrentado pela família.

Na época, seu pai perdeu o emprego em uma siderúrgica na capital mineira. Com isso, Sofia teve de deixar a escola Hamleto Magnavacca, do Serviço Social da Indústria (Sesi), onde cursou o ensino fundamental, e precisou largar um curso particular de inglês. “Meu projeto de vida sempre foi estudar. Tive de buscar isso. Pesquisar muito. Descobri essa ONG na internet e a possibilidade de disputar uma bolsa”, disse a estudante.

No Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart), a jovem acabou conseguindo uma bolsa para o ensino médio – frequentou o Colégio Santo Antônio, um dos mais conceituados de Belo Horizonte e distante duas horas, de ônibus, de sua casa.

“Adorei o Santo Antônio. Me senti mais entrosada com os colegas. Fiz mais amigos. Não me sentia tão isolada como na (Escola Municipal) Dulce Maria Homem, embora tenha tido todo o apoio dos professores para ir para a frente.”

Autodidata

Foi também nessa época que Sofia passou a estudar idiomas sozinha. “Pegava os livros na biblioteca da escola e estudava sozinha. Virei autodidata”, disse ela. Hoje, a jovem fala e escreve fluentemente em inglês, e afirmou ter aprendido o alemão básico.

Nos últimos seis anos, a rotina de Sofia foi acordar às 5h, pegar dois ônibus para a escola, almoçar, e voltar a estudar, em grupos ou de forma individual. Às 20h, voltava para casa. “Procurar e descobrir as oportunidades. Correr atrás. Dedicar-se. Ter equilíbrio. Isso tudo é muito importante.”

Além do apreço pelos estudos, Sofia disse que gosta de música pop – ouve as bandas Capital Inicial e OneRepublic. É leitora de Paulo Freire e de Fiodor Dostoievski. Seu livro de cabeceira, contou, é o clássico Pedagogia do Oprimido, do educador brasileiro. “Como qualquer jovem”, a estudante afirmou ainda que frequenta academia de ginástica, sai com os amigos nos fins de semana e usa as redes sociais. “Faço tudo normal. Para estudar é necessário manter o equilíbrio.”

Estrutura

Segundo Sofia, o Ismart propiciou toda a estrutura necessária para que ela tivesse um bom desempenho em Harvard. Além da bolsa integral, ela terá material didático, uniforme e ajuda de custo para transporte e alimentação. “Muitos alunos, de diversas escolas municipais daqui do Barreiro (região onde mora), aprenderam a buscar oportunidades. Muitos se inscreveram no Ismart, alguns conseguiram bolsas e estão aprofundando os estudos. É lindo demais”, afirmou.

Para participar do processo de bolsas do Ismart os estudantes devem ter idade entre 12 e 15 anos e renda familiar per capita de, no máximo, dois salários mínimos. Os aprovados têm acesso a bolsas de estudos integrais em colégios particulares de excelência, em São Paulo, Belo Horizonte, Rio, Cotia (SP), São José dos Campos (SP) e Sorocaba (SP).

Um dos projetos do instituto, batizado de Alicerce, é voltado para jovens de até 13 anos, que participam do programa de desenvolvimento, com acompanhamento de uma equipe de psicólogos, além de frequentarem um cursinho preparatório durante dois anos. O objetivo é que consigam ter acesso a oportunidades de excelência no ensino médio.

Já o projeto Bolsa Talento, direcionado a estudantes de até 15 anos de idade, oferece a possibilidade de ingressar em colégios particulares para cursar o ensino médio com bolsa de estudos integral. Os aprovados recebem material escolar, transporte e alimentação, além de participarem de um programa de desenvolvimento pessoal e de orientação profissional.

Com Estadão Conteúdo

Jornal da Brasília