sexta-feira, 27 de maio de 2022

'O Brasil quer ler e ser lido', por Bruno Meyer

 

Bienal do Livro de São Paulo | Foto: Divulgação



Evento mais importante do setor literário no ano, a Bienal do Livro teve uma procura inédita de editoras e espera ultrapassar a barreira de 600 mil visitantes


Criada em 1970, e paralisada nos últimos dois anos por conta da pandemia, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo viveu uma procura inédita recentemente: precisou criar uma fila de espera de editoras, redes de livrarias e empresas que buscavam um espaço no amplo pavilhão do Expo Center Norte, em São Paulo. É que o número de expositores bateu os 100%, mas ainda havia interessados. O tradicional grupo Ediouro — das editoras Nova Fronteira, Agir e Petra — foi o último que conseguiu fechar um espaço no evento. Sextante, Intrínseca, HarperCollins, Companhia das Letras, Record, Planeta e Melhoramentos são outras das editoras confirmadas. Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e organizador da bienal, diz que teve de reduzir outros espaços, como a sala de imprensa, para acomodar todos os interessados. O evento mais importante do setor literário no ano espera ultrapassar a barreira de 600 mil pessoas entre os dias 2 a 10 de julho.

Vitrine do livro 

O interesse que fez esgotar os espaços comercializados bem antes do previsto na próxima bienal não é apenas porque o evento é a grande vitrine da indústria do livro no Brasil, mas porque ele se transformou num polo de negócios: as edições passadas movimentaram mais de R$ 70 milhões. Em 2019, último ano do evento, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro vendeu mais de 4 milhões de exemplares e gerou 12 mil empregos diretos. A última edição foi marcada pelo episódio da determinação do então prefeito, Marcelo Crivella, de recolher o romance gráfico Vingadores, a Cruzada das Crianças, com um beijo entre dois rapazes. No dia seguinte da decisão, e com a repercussão nacional, todos os exemplares da revista foram vendidos em meia hora.

Bienal do Livro de São Paulo de 2018 | Foto: Divulgação

O bonde de Lisboa

Uma caravana de 30 escritores portugueses, entre eles Valter Hugo Mãe, vai desembarcar em São Paulo em julho para a bienal. A atual edição decidiu homenagear Portugal, para comemorar os 200 anos de Independência do Brasil. Para isso, foi reservado um espaço de 500 metros quadrados para o país, com uma réplica do bonde de Lisboa. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou a vinda ao Brasil para a abertura do evento. 

Brasil em Frankfurt

Nem o evento do porte da bienal começou, e a equipe da CBL — em parceria com a Apex, agência de promoção de exportações do governo federal — já planeja a organização do espaço que o Brasil terá na Feira de Livro de Frankfurt, maior acontecimento editorial do mundo. Para Vitor Tavares, a ideia não é conhecer autores estrangeiros — esse trabalho é muito bem feito pelas editoras nacionais, que já contam com uma estrutura de agentes que pesquisam e recrutam novos autores para seus portfólios. O objetivo é apresentar os autores brasileiros para o mundo. “A missão é fazer negócios, é que os estrangeiros comprem o passe dos nossos escritores”, diz. 

Efeito Harry Potter

Há 40 anos presente na bienal, Vitor Tavares crê que eventos literários do tipo têm um papel social de formar leitores. E o Brasil é um país que precisa: uma pesquisa recente, pilotada por Tavares, mostrou que o brasileiro lê, em média, 2,8 livros anualmente — muito longe do índice francês, por exemplo, de 6,5 livros por ano. Nos últimos tempos, uma mudança salutar: o maior público — e mais alvoroçado — é o jovem, muitos deles vindos em excursões escolares. Desde o fenômeno literário chamado Harry Potter, saga criada por J.K. Rowling que vendeu mais de 500 milhões de exemplares no mundo, esse público costuma fazer imensas filas para ver de perto seus ídolos dos livros. 

Abílio Diniz | Foto: Amanda Perobelli/Estadão Conteúdo

A turma do Abílio

O novo tiktoker do pedaço é Abílio Diniz. Aos 85 anos, o empresário acaba de abrir uma conta na rede social, muito frequentada pela ala mais jovem. Ele pretende produzir conteúdo sobre liderança, gestão, qualidade de vida e um pouco de sua rotina. “Um dos meus propósitos nessa vida é aprender e compartilhar”, disse Diniz à coluna. “No TikTok, posso interagir diretamente com um público mais jovem, passando um pouco do que aprendi e aprendendo muito com o feedback da turma.”

Uwe Cremering, CEO do iF Design | Foto: Divulgação

“A criatividade no Brasil é extraordinária”

O alemão Uwe Cremering assumiu faz pouco mais de um ano o cargo de CEO do iF Design, empresa criada na cidade de Hannover para organizar, desde 1953, o maior prêmio de design do planeta. Oeste esteve na semana passada no evento em Berlim, na Alemanha, e conversou com Cremering sobre a diferença que um bom design faz para qualquer empresa que almeja ser relevante:

Qual é a importância do design para a indústria como um todo?

O design é crucial para o sucesso comercial de uma companhia. Ele tem importância imensa para a imagem da marca. O design pode produzir soluções criativas, e também é importante para serviços e processos produtivos, para reduzir custos e gerar o melhor resultado. Mais recentemente, ele também é importante para lidar com problemas ambientais e criar soluções que ajudem a reduzi-los.

Como foi a participação dos brasileiros nesta edição do prêmio?

Em 2022, recebemos 90 projetos de 50 companhias, o que nos deixou felizes.

O senhor percebe diferenças entre os trabalhos dos brasileiros e de outros países?

Posso responder essa questão com base nos projetos do nosso banco de dados. Vemos que a criatividade no Brasil é extraordinária, no nosso ponto de vista. Pode haver uma diferença na área da comunicação — design digital, marca, sites, publicidade — em relação a área de design de produtos. Na parte de comunicação, vemos muitas coisas de nível internacional, enquanto no design de produtos, só algumas marcas se destacam. 

Como foi a evolução desses projetos de design em diversos países durante os anos?

O foco do prêmio em 1953 era mais em design de produtos. Hoje, é diferente, porque aumentamos as categorias da premiação e incluímos as áreas de comunicação e user experience. Podemos dizer que, antigamente, o design era muito voltado a tornar produtos mais bonitos, mas hoje é um sistema holístico incluindo marketing, vendas, produtos e engenharia. Esse foi o desenvolvimento mais importante a respeito do design.

Essa valorização do design por parte das grandes empresas é recente ou algo mais antigo?

Se você levar o design a sério, você entende que o design é parte de uma experiência holística do usuário, que começa com desenhar um produto, mas também afeta os serviços. A Apple é um bom exemplo: não é só criar um MP3 Player, mas também como vender os arquivos em MP3. Se você dá ao design uma chance de se integrar como parte de um sistema holístico, é nesses casos que vemos mais sucesso.

Na sua opinião, qual companhia no mundo tem o melhor design?

No ano passado, nós tivemos 10,6 mil inscrições no nosso sistema. É difícil afirmar qual é a melhor. Nesse ano, eu pude observar coisas boas na área de áudio. Eu tenho experiência com áudio na minha carreira e por isso consegui mergulhar muito nos produtos da Apple. Então, posso dizer, sem dúvidas, que a Apple é muito forte em design.

Qual foi a maior surpresa dentre as inscrições nesta edição?

É muito difícil nomear um único produto. Obviamente, o impacto ambiental e social está ficando mais forte. Tivemos muitos produtos no prêmio deste ano, e também no ano passado, com o foco em meio ambiente. Acho que é a maior surpresa.

O que define um bom design?

Para mim, pessoalmente, a maior questão é: esse produto me ajuda no dia a dia? Ser útil, para mim, é o ponto principal no design.

bruno@revistaoeste.com 

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Revista Oeste