sexta-feira, 31 de março de 2017

Conivência de instituições regionais contribuiu para 'atropelo' na Venezuela, diz Henrique Capriles, líder opositor

Cláudia Trevisan - O Estado de S. Paulo

Ele se reuniu com o secretário-geral da OEA e pediu que organização se pronuncie sobre situação após Justiça tomar poder do Congresso

WASHINGTON - Governador do Estado de Miranda e um dos principais líderes de oposição na Venezuela, Henrique Capriles acusou nesta sexta-feira, 31, instituições regionais como o Mercosul, a Unasul e a Organização dos Estados Americanos (OEA) de terem sido coniventes no passado com o "atropelo" promovido pelo chavismo. Agora, ele espera que os governos do continente condenem de maneira contundente a usurpação de poderes da Assembleia Nacional pelo Tribunal Supremo de Justiça, controlado por Nicolás Maduro.
Foto: AFP PHOTO / NICHOLAS KAMM
Henrique Capriles
Líder opositor venezuelano se encontra com secretário-geral da OEA e cobra posicionamento diante da situação na Venezuela 
"As instâncias internacionais têm de se pronunciar, porque as instâncias internacionais no passado foram refúgio para o atropelo do oficialismo em meu país", disse Capriles na sede da OEA, em Washington. "Houve uma ruptura da ordem constitucional, houve um golpe de Estado e a OEA tem de se pronunciar a respeito."
Na próxima segunda-feira, o Conselho Permanente da entidade se reunirá para debater a situação na Venezuela. "Há quatro anos, nós tínhamos três votos para discutir a situação do meu país. Agora nós temos 20", observou o governador, fazendo referência à votação do Conselho Permanente da terça-feira 28, na qual 20 países votaram a favor de analisar a crise venezuelana, apesar da oposição de Caracas.
Segundo Capriles, se a OEA tivesse tido uma postura menos tolerante em relação à Venezuela há quatro anos, o país não estaria mergulhado na atual turbulência institucional. Perguntado se era favorável à expulsão da Venezuela do Mercosul, ele disse que todas as organizações regionais têm cláusulas que devem ser cumpridas por seus membros. "Se o governo venezuelano não as cumpre, que venham as sanções, as consequências."
Na opinião do líder opositor, a crise na Venezuela colocou os países do continente diante de um momento decisivo, que revelará "os que estão a favor da democracia" e os que estão ao lado do "ditador e seus interesses". 

Após decisão da Justiça, venezuelanos saem às ruas para protestar

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Capriles deu as declarações depois de se reunir com o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, que no dia 14 de março defendeu a suspensão da Venezuela da organização, caso não fossem convocadas eleições no prazo de 30 dias. Na quinta-feira, Almagro anunciou a convocação urgente de uma reunião extraordinária do Conselho Permanente, que será realizada na segunda-feira. 
A expectativa da oposição venezuelana é que o encontro termine com uma "posição firme" em defesa do restabelecimento da ordem constitucional, disse Capriles. "Quanto tempo Maduro pode durar se decidir se isolar do mundo e da comunidade internacional?" O governador também espera que o Conselho Permanente dê os passos para a aplicação da Carta Democrática à Venezuela, um procedimento que envolve diferentes etapas e pode terminar com a suspensão do país da organização.
O líder opositor não vê possibilidade de avanço no âmbito do diálogo promovido por três ex-líderes de governo, entre eles o espanhol José Luis Rodríguez Zapatero. As conversas não produziram nenhum resultado e estão paralisadas desde o ano passado. "Nós não temos muito tempo", afirmou. "Com Maduro, é possível o diálogo? Dizem que não existe impossível. Isso é o mais próximo do impossível."