Não. Nos meses à frente, a economia não reagirá e o desemprego subirá. Mas o ano não será perdido, se for plantada a semente de um 2016 melhor
A importância de 2015 na vida do brasileiro será medida mais por sentimentos que por números. Não se deve esperar que o ano produza bons indicadores de emprego, salários ou produção. Nesses quesitos, o período à frente será ruim, com possibilidade de se tornar péssimo, a depender do cenário internacional. “Para 2015, vejo sangue, suor e lágrimas”, diz o economista Celso Toledo, da consultoria LCA. Isso porque o país precisa ajustar as contas públicas e conter a inflação – dois tipos de mudança que, se não vierem, acarretarão um futuro muito ruim. Se vierem, como se espera no momento, abrirão condições para o crescimento futuro – mas com custos no curto prazo. O mercado de trabalho deverá se retrair. “O remédio que a economia precisa terá um efeito ruim antes de mostrar os efeitos bons”, afirma Toledo. O que 2015 poderá oferecer de melhor são boas expectativas para 2016. Se essas boas projeções surgirem, já será um resultado ótimo.
Esperar pouco da economia nos próximos meses não revela pessimismo, e sim compreensão da realidade. Numa medida saudável, o governo federal passou a trabalhar com uma expectativa de crescimento parecida com a do mercado financeiro, de apenas 0,8%. Uma expansão dessa ordem bastará apenas para afastar palavrões como “recessão” ou “crise”. Mas fica longe de criar empregos no mesmo ritmo em que cresce a população adulta do país, cerca de 2%. Muito menos de oferecer o dinamismo necessário à redução da pobreza. Não se cumpre no Brasil, no momento, nenhuma das condições fundamentais para que um país cresça e possa oferecer oportunidades em abundância.
O crescimento precisa ser impulsionado por quem oferece produtos e serviços (o empresário) ou por quem os procura (o consumidor). Nos últimos anos, a expansão da economia foi dada pela voracidade com que o brasileiro foi às compras e usou seu crédito. Em 2014, o consumidor bateu em seu limite de endividamento e tornou-se menos confiante. Devido ao receio diante da inflação alta, dos juros elevados e do desaparecimento das novas vagas de trabalho, o brasileiro mostra menos disposição para comprar e contrair empréstimos do que exibia em dezembro de 2013.
Ocorre o mesmo na outra ponta dos negócios. O nível de confiança dos empresários mostra a pouca disposição deles para contratar mais ou investir na expansão de sua capacidade de produzir e vender. Esse indicador até melhorou um pouco, após outubro, na indústria e na construção. Mas, nesses dois setores, a confiança está no chão, após um longo recuo desde 2010. Neste fim de ano, ela apenas deu um sinal de vida – nada que permita vislumbrar empolgação com 2015. Estão em baixa também a confiança do comércio e dos serviços, que contribuíram com o crescimento nos últimos anos. O cenário de letargia se repete em outros indicadores mais concretos – contratação de energia, transporte e embalagens –, que antecedem a produção.
O Brasil deverá exportar mais em 2015, principalmente por causa da desvalorização do real em relação ao dólar, que barateia a produção local. Setores em que o Brasil é competitivo, como agronegócio e mineração, poderão exportar mais ainda. Parte da vantagem cambial será eliminada porque vêm caindo, globalmente, as cotações de produtos que o Brasil exporta bem, como soja e minério de ferro.
O desempenho morno da atividade brasileira depende também de não haver grandes sacolejos na economia global. Isso poderá ocorrer caso o crescimento em grandes países desenvolvidos, como Alemanha ou Japão, fique aquém das expectativas (já baixas). Os tremores poderão vir também de grandes países emergentes, como a Rússia, que entrou em dezembro em meio a uma crise cambial. Se ocorrerem apenas os fatores ruins já esperados, sem terremotos na economia global, o brasileiro arcará com um pouco mais de desemprego. O Itaú BBA prevê que ele avance dos atuais 4,8% para 5,7% no fim de 2015.
Para que boas expectativas nasçam em 2015, há várias condições a cumprir. Uma delas, indispensável, é que o indicado como ministro da Fazenda, Joaquim Levy, recoloque nos trilhos as contas públicas e a evolução da dívida pública. Mas isso não basta. “Precisamos de um ambiente mais favorável ao investimento privado, de contas públicas que permitam o investimento do governo e de medidas em educação e treinamento que tornem o brasileiro mais produtivo”, afirma o especialista em produtividade João Sabóia, professor de economia na UFRJ. Há uma extensa agenda de mudanças favoráveis aos negócios e ao trabalho que não exigem gasto público. Entre elas, estão facilitar a abertura e o fechamento de empresas e simplificar o sistema tributário. Se os governos tomarem o rumo certo, 2016 poderá ser um ano de colheita.
Para que boas expectativas nasçam em 2015, há várias condições a cumprir. Uma delas, indispensável, é que o indicado como ministro da Fazenda, Joaquim Levy, recoloque nos trilhos as contas públicas e a evolução da dívida pública. Mas isso não basta. “Precisamos de um ambiente mais favorável ao investimento privado, de contas públicas que permitam o investimento do governo e de medidas em educação e treinamento que tornem o brasileiro mais produtivo”, afirma o especialista em produtividade João Sabóia, professor de economia na UFRJ. Há uma extensa agenda de mudanças favoráveis aos negócios e ao trabalho que não exigem gasto público. Entre elas, estão facilitar a abertura e o fechamento de empresas e simplificar o sistema tributário. Se os governos tomarem o rumo certo, 2016 poderá ser um ano de colheita.