sábado, 31 de janeiro de 2015

Intervenção de Cerveró eleva em US$ 100 milhões preço de navios

Thiago Herdy e Renato Onofre - O Globo

Documentos da estatal relativos à compra serão anexados a processo


Recomendações feitas por Nestor Cerveró em relatórios levados à diretoria executiva da Petrobras representaram aumento de US$ 100 milhões no gasto previsto inicialmente pela Samsung Heavy Industries para a venda de navios-sonda à estatal, em 2006. Os documentos obtidos pelo GLOBO também mostram que a Petrobras já sabia, na época, que precisaria comprar dois navios. Mesmo assim, preferiu realizar duas operações de compra, do mesmo fornecedor, em vez de tentar negociar melhor preço.

A suspeita de pagamento de propina a funcionários públicos na aquisição desses equipamentos levou o Ministério Público Federal a denunciar Cerveró por corrupção e foi um dos motivos levados em conta para a decretação da prisão dele.

Documentos internos da estatal relacionados à compra serão anexados nos próximos dias ao processo, a pedido do juiz federal Sérgio Moro. No início de 2006, a Samsung apresentou sua primeira proposta para construção de um navio-sonda, ao custo de US$ 551 milhões, projetado para perfurar em águas profundas na África e na Ásia.

Nos três meses seguintes, a diretoria de Cerveró solicitou “melhorias funcionais” que elevaram o custo do projeto em US$ 35 milhões, alcançando o valor de US$ 586 milhões. Para justificar o aumento, o diretor apresentou documento anexo de duas páginas, com menção a custos extras do projeto. O anexo foge do padrão dos documentos da empresa, pois não tem a assinatura de funcionário responsável ou logotipo da Petrobras. Mesmo assim, a compra foi aprovada pela diretoria executiva em julho de 2006.

Apenas dois meses depois, a Samsung foi informada de que a Petrobras compraria um novo navio-sonda. Em dezembro de 2006, a fornecedora apresentou proposta elevando o custo do projeto em mais US$ 30 milhões, para US$ 616 milhões. Ao recomendar a compra de um navio “com idêntica especificação” em novo relatório levado à diretoria executiva, em março de 2007, Cerveró atribuiu o aumento a “melhorias introduzidas ao projeto e ao aquecimento do mercado de sondas”. No entanto, não explicou que melhorias seriam essas.

Cerveró foi denunciado juntamente com Alberto Youssef, Julio Camargo e Fernando Soares por lavagem de dinheiro, corrupção e evasão de divisas. Para o MPF, Cerveró e Fernando Soares teriam acertado o pagamento de US$ 40 milhões em propina para viabilizar os navios-sonda. Por meio do advogado Edson Ribeiro, Cerveró negou ter recebido propina. O defensor aguarda a inclusão dos documentos no processo para se pronunciar sobre o aumento do custo dos projetos. A Petrobras informou que não teria tempo hábil para responder aos questionamentos. O GLOBO não localizou representantes da Samsung Heavy Industries.