quarta-feira, 19 de abril de 2017

‘Tinha cofre com R$ 500 mil no meu escritório”, afirma engenheiro da obra no sítio de Atibaia

Luiz Vassallo - O Estado de São Paulo

Emyr Diniz Costa Junior, delator da Odebrecht na Lava Jato, contou aos investigadores que empreiteira repassou dinheiro para 'custear as despesas da reforma do imóvel'


Lula. Foto: Eraldo Peres/AP
Lula. Foto: Eraldo Peres/AP

O engenheiro da Odebrecht Emyr Diniz Costa Junior, responsável pelas obras do sítio em Atibaia, atribuído pelo Ministério Público ao ex-presidente Lula, revelou ter recebido um valor inicial de R$ 500 mil para custear as despesas da reforma do imóvel. O delator ainda alegou ter recebido ordens do superior dentro da empreiteira para ‘destacar’ um engenheiro que ficasse responsável pelas obras. Na conversa, ele diz ter sido informado de que o beneficiário seria o petista.
De acordo com o engenheiro, os custos para bancar as obras do Sítio de Atibaia eram bancados pelo departamento de propinas da Odebrecht. Ele afirmou que, para solicitar R$ 500 mil para bancar a reforma, mantinha contato com a funcionária do setor de operações estruturadas, Maria Lúcia Tavares. A secretária passava a Emyr Diniz uma senha que deveria ser dita ao entregador do dinheiro.
atibaia
“Eu liguei para ela e pedi os 500 mil. Como eu nunca tinha manejado em uma obra uma soma dessa natureza, eu comprei um cofre especificamente e coloquei dentro de um armário na minha sala, dentro do meu escritório”, relatou.
A Lava Jato sustenta que o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, é patrimônio oculto do ex-presidente Lula, registrado em nome de dois sócios de seus filhos. Lula nega.
Segundo o depoimento de Alexandrino Alencar, que seria a ponte entre Emílio e Lula, a ex-primeira dama teria pedido, durante um evento de celebração do aniversário de Lula, em 2010, que a construtora ajudasse a terminar as reformas do sítio de Atibaia.
O diretor da Odebrecht Emyr Diniz Costa Junior diz ter sido procurado pelo seu ‘superior hierárquico’ Carlos Armando Paschoal para ‘tratar da reforma de um sítio, tendo me explicado que o sítio seria futuramente utilizado pelo então presidente Lula’, no fim de 2010. Ele alega ter recebido a orientação para destacar um engenheiro que ficasse responsável pela obra. O assunto deveria ser tratado com o ‘ajudante de ordem da Presidência da República Rogério Aurélio Pimentel’. O indicado teria sido o engenheiro Frederico Barbosa.
Segundo o delator, Rogério Aurélio Pimentel pediu que a reforma fosse feita em 30 dias e detalhou que deveria ser construída uma ‘pequena casa para alojamento dos seguranças do presidente’, ‘um campo de futebol’, uma edícula de 4 suítes atrás da casa principal do sítio’, ‘uma adega para os vinhos de Lula’, além da construção de uma sauna.
“Ele pediu para que fosse feito em 30 dias para que quando o presidente saísse da presidência ele pudesse usar esse sítio”, lembrou.
Ao orçar, inicialmente, a reforma em R$ 500 mil reais, Emyr Diniz, da Odebrecht, diz ter sido orientado pelo superior dentro da empresa a utilizar dinheiro em espécie, que seria disponibilizado pelo departamento de propinas. “O emissário entregou pra mim e eu coloquei tudinho dentro desse cofre. Eu nem vi o carro que eles foram. Essa senhora Lúcia me deu uma senha para que quando o cara chegasse eu diria a senha e ele entregaria o dinheiro. Ela me falou por telefone qual seria a senha”.
“Semanalmente eu separava 100 mil e colocava em um envelope fechado, entregava a Frederico, que entregava a seu Aurélio, para que o senhor Aurélio fizesse os pagamentos lá no meu escritório”, detalhou.
Faltando duas semanas para entregar a obra, o delator diz ter sido procurado pelo engenheiro responsável, que o informou sobre a necessidade de mais R$ 200 mil para encerrar a obra. “Reportei ao Carlos Armando que precisava de mais 200 mil. Liguei para a Lúcia, pedi os 200 mil, foi um outro camarada, do mesmo jeito, teve senha também, e eu recebi o dinheiro, coloquei no cofre e na medida que era necessário eu enviava ao sr. Aurélio”
COM A PALAVRA, A DEFESA DO EX-PRESIDENTE LULA
“Os procuradores da Lava Jato sabem, há mais de um ano, que o sítio frequentado pelo ex-presidente Lula em Atibaia não pertence e nunca pertenceu a ele. Os donos comprovaram a propriedade e a origem dos recursos. Sabem também que Lula não pediu nem autorizou ninguém a pedir que fossem feitas reformas no imóvel. Lula não tem nada a esconder, porque não fez nada de ilegal”.