quinta-feira, 13 de abril de 2017

Odebrecht detalha esquema de pagamento à campanha de Dilma. R$ 100 milhões por aprovação de MP que ajudou Braskem



O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, é quem teria solicitado o valor - Fernando Donasci 08/05/2016 / Agência O Globo

Letícia Fernandes - O Globo




Em depoimento divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Marcelo Odebrecht detalha suposto pagamento de R$ 100 milhões para a campanha de 2014 da ex-presidente Dilma Rousseff, repasse pedido pelo então ministro Guido Mantega. O pagamento teria sido combinado com a aprovação da Medida Provisória 613, que ajudou a Braskem, braço da Odebrecht, e tratava do Regime Especial da Indústria Química (Reiq), com incentivos fiscais à produção de etanol e à indústria química.

O ex-executivo diz que essa não foi uma troca direta de favores como foi, conta, a negociação dos R$ 50 milhões repassados ao governo pela criação do Refis da Crise para solucionar a crise causada pelo IPI zero. Mas que o então ministro sabia que estava falando com "alguém que dava dinheiro para João Santana".


— Fora a questão do Refis da Crise, eu nunca mais acertei nenhuma contrapartida com Guido, mas é aquela história: eu tinha acesso a ele, e quando pedia para ele aprovar o Reiq, ele sabia que estava falando com um grande doador, ele sabia que falava com alguém que dava dinheiro a João Santana — disse Marcelo Odebrecht.

O ex-executivo contou que se reunia frequentemente com Mantega e que ambos levavam seus pleitos aos encontros. Segundo ele, o ex-ministro já chegou a pedir que o executivo "resolvesse assuntos" pendentes com o publicitário João Santana e o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

— Minha agenda com Guido nunca foi 'isso em troca disso', fora a questão do Refis da Crise. Eu tinha agenda e levava os pleitos dos meus negócios, aí na mesma agenda ele dizia assim: 'ó Marcelo, resolva esse assunto aí para João Santana ou para Vaccari' — contou.

'ACESSO AO REI'

Ao falar sobre a aprovação da MP, Marcelo Odebrecht faz uma reflexão sobre o fato de ter "acesso ao rei", o que facilita o andamento de projetos de interesse do grupo. Ele diz que a MP tinha toda a base técnica para ser aprovada, mas afirma que isso é algo que também acontece com muitos projetos que não vão adiante:

— Tinha embasamento técnico, tinha legitimidade, mas é aquela história, você tem vários projetos no Brasil que têm legitimidade, embasamento técnico, mas se você não tem acesso ao rei você não consegue aprovar. Você acaba não sabendo se você teve aquilo aprovado porque tinha legitimidade ou porque você tinha acesso ao poder.

JUCÁ

No vídeo, Marcelo conta ainda da relação com o Congresso para a aprovação do texto. Ele confirma que Cláudio Melo era o responsável por "assumir compromissos", uma senha para pagamento de parlamentares que facilitariam o andamento dos projetos de interesse da Odebrecht. Ele conta que Melo dizia que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) era quem "coordenava" os pedidos no Senado, citando ainda suposto pagamento de R$ 4 milhões ao peemedebista pela aprovação dessa matéria. E que, sempre que os políticos viam chegar ao Congresso projetos de interesse da empresa, "criavam expectativa" de receber algo para ajudar. Com exceção de Jucá, o executivo não cita outros nomes que participavam dos esquemas.

— Ele (Cláudio Melo) nunca me detalhou que tipo de compromisso, mas ficava claro que quanto mais você pedia a determinados congressistas, e no caso, como Cláudio sempre dizia, no Senado quem coordenava era o Jucá, mas era claro que ele dizia: 'tinha que assumir compromissos' — disse.

Ele relatou que pedia "cuidado" a Melo no pagamento de políticos para evitar que viessem a pedir quantias absurdas no futuro.

— Eu dizia sempre para o Cláudio: 'cuidado porque você começa a usar por exemplo para o Jucá, e mesmo que não acerte que é 4 milhões por conta dessa medida provisória, lá na frente ele vai pedir um valor absurdo para campanha e não vai aparecer ninguém para pagar'.