quinta-feira, 13 de abril de 2017

Dilma 'trambique', e Graça, a cúmplice, sabiam de propina na Petrobras, diz Marcelo Odebrecht

Mário Cesar Carvalho - Folha de São Paulo



O ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht diz em vídeo que integra o seu acordo de delação que a ex-presidente Dilma Rousseff e a ex-presidente da Petrobras Graça Foster sabiam que a empresa pagava propina ao PT e PMDB em contratos da estatal de petróleo.

"Tudo que eu contei para Graça eu contei para ela", afirma Marcelo, referindo-se a Dilma.

Sem mencionar datas de encontros, Marcelo afirma que contou a Graça inicialmente que a empresa pagara propina ao PMDB e ao PT no caso de um contrato de US$ 840 milhões que foi acertado com a diretoria internacional da Petrobras em 2010, controlada por peemedebistas à época.

Ele diz que Márcio Faria, ex-diretor da Odebrecht, fez o acerto com dois líderes do PMDB: o Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. Em sua delação, Faria afirma Michel Temer, deputado federal à época, participou da reunião com Cunha e Alves na qual foi acertada a propina. Temer, no entanto, não pode ser processado enquanto estiver no exercício da Presidência, segundo a Procuradoria-Geral da República.


O contrato, assinado no final da gestão de Sérgio Gabrielli, em 2010, era para prestação de serviços ambientais em dez países. Como havia uma desconfiança do PT de que o PMDB levara propina nesse negócio, Graça mandou uma comissão interna da Petrobras investigar o contrato.

A comissão determinou que o valor do contrato fosse reduzido para US$ 480 milhões, o equivalente a 43% do montante original. A Petrobras também mandou o resultado da investigação ao Ministério Público, e um diretor da Odebrecht começou a ser investigado, o que enfureceu Marcelo.

Ele diz que estava em Angola quando recebeu uma ligação de Graça. "Que história é essa do PAC?", ela teria dito, citando a sigla que designa o contrato (PAC SMS). "A gente sabe que teve pagamento para o PMDB".

O então presidente do grupo disse ter procurado Márcio Faria com a seguinte dúvida: "Foi só o PMDB? Porque eu vou ter problema com a Graça".

Segundo Marcelo, Faria respondeu: "O PT sabia e também recebeu". Marcelo afirma que teve uma reunião com Graça no hotel Transamérica, em São Paulo, e disse a ela: "Não vou mentir para você. O PT sabia. Márcio me disse que Vaccari sabia e também recebeu uma parte", citando o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

Foi a partir desse episódio, segundo Marcelo, que "começou o meu desgaste com Graça". Houve uma troca de e-mails "pesadíssima" entre os dois, conta Marcelo, e essa correspondência chegou a Dilma. "Eu peguei esses e-mails e mandei para a presidente".

Dilma marcou uma reunião na biblioteca do Palácio do Planalto para resolver o conflito, de acordo com Marcelo. Foi quando ele contou a Dilma o que relatara a Graça. Dilma, segundo Marcelo, estava desconfiada que Michel Temer, seu vice, estivesse envolvido com a propina. "Ela queria saber se Michel estava envolvido" e mandou ele resolver o conflito com Graça.

Marcelo escalou um diretor da Odebrecht que cuidava da relação com políticos em Brasília, Claudio Mello Filho, para avisar Temer da desconfiança de Dilma. Numa reunião com Edison Lobão, ministro de Minas e Energia de Dilma, Marcelo diz ter contado sobre a desconfiança de Dilma em relação a Temer.

O ex-presidente da empreiteira diz não saber em detalhes os valores do suborno ao PMDB, mas fala que os "valores envolvidos eram relevantes, R$ 10,2 milhões".
Procurada, a assessoria de imprensa de Dilma não quis comentar o depoimento. Graça Foster não quis se pronunciar.

Representantes de Cunha não se pronunciaram até a publicação desta nota sobre o teor do vídeo.

O advogado de Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirma que o senador está "tranquilo" em relação à divulgação dos depoimentos e defende o fim do sigilo das delações.

A defesa de Henrique Eduardo Alves afirma que as acusações são falsas e mentirosas e que isso será demonstrado no decorrer do processo.


INVESTIGAÇÃO

O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.

OPERAÇÃO LAVA JATO
Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).

No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

Os inquéritos iniciam longo trâmite. 

Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.


Chamada - A lista de Fachin