Ex-líder do governo Dilma afirma que operador do mensalão tinha ‘trânsito violento’ no governo Lula
Na bombástica delação premiada do senador Delcídio do Amaral, o parlamentar e ex-homem de confiança do governo Dilma Rousseff relata detalhes nebulosos de como o governo do ex-presidente Lula atuou para comprar o silêncio de Marcos Valério, publicitário e operador do primeiro escândalo político da gestão petista. Em depoimento de colaboração com a Justiça, Delcídio disse que Valério tinha um “trânsito violento” com os mais altos escalões do governo Lula, inclusive com o próprio ex-presidente petista.
Delcídio relata que soube do próprio Marcos Valério as minúcias do contrato de afretamento do navio-sonda Vitoria 10000, uma transação que beneficiou irregularmente o Grupo Schahin e serviu para arrecadar propina para ex-diretores da Petrobras e para os cofres do PT. “Isto mostrava que [Valério] tinha um ‘trânsito violento’ e era ‘avalizado’ pelo governo, ou seja, detinha muita influência”, diz trecho da delação do senador.
Edição de VEJA de maio de 2015 já havia desvendado como Lula escapou do risco de ser apontado como o chefe do mensalão e de responder a um processo de impeachment durante a CPI dos Correios. O PT negociou o silêncio do empresário Marcos Valério quando ele – às vésperas da conclusão da CPI dos Correios – avisou que acusaria Lula de comandar o mensalão se não recebesse uma ajuda financeira milionária. O valor, segundo Delcídio, chegaria a 220 milhões de reais e envolveria dívidas com o próprio Valério e com o pagamento de propina a parlamentares. De acordo com Delcídio, o recado de Marcos Valério não poderia ser mais claro: “Se estas coisas não forem resolvidas, se a situação está ruim, vai ficar pior ainda”.
O senador que se tornou o delator com maior potencial destrutivo entre todos os colaboradores da Lava Jato revelou ainda que Marcos Valério era “muito próximo” do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, também condenado no mensalão, e que o ex-ministro José Dirceu, hoje preso em Curitiba por envolvimento com o petrolão, tinha pleno conhecimento dos tentáculos de Valério no governo petista. “Havia uma preocupação em conter os danos, que já eram grandes. Marcos Valério disse ao depoente [Delcídio] que não resistiria por muito tempo e que a questão deveria ser resolvida logo”, registra trecho da delação.
Como promessa de que a fatura com o operador do mensalão seria quitada, o hoje presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, foi enviado pelo PT a Belo Horizonte para confirmar o acerto. Ao final, conforme revelou VEJA, um empresário amigo foi convocado para pagar a fatura e Valério se recolheu. Em 2012, Valério contou parte de seus segredos ao Ministério Público, tentando um acordo de delação premiada, mas não conseguiu.