quinta-feira, 27 de abril de 2017

Delator diz que ‘Santo’ em anotação de propina na Mogi-Dutra não era Alckmin

Fabio Leite - O Estado de São Paulo


Celso da Fonseca Rodrigues, ex-diretor de contratos da Odebrecht em São Paulo, esclareceu à força-tarefa da Lava Jato que codinome se refere a um ex-superintendente do Departamento de Estradas de Rodagem, já falecido


O delator Celso da Fonseca Rodrigues, ex-diretor de contratos da Odebrecht em São Paulo, disse em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que o codinome ‘Santo’ que aparece vinculado ao pagamento de propina nas obras da rodovia Mogi-Dutra em uma anotação apreendida pela Lava Jato no ano passado não é o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).
O relato do delator desmonta versões divulgadas inicialmente de que a alcunha ‘Santo’ seria uma referência ao governador.
Rodrigues prestou depoimento em dezembro de 2016 para falar sobre crimes supostamente praticados pela empreiteira em contratos do Metrô de São Paulo. Ao término da oitiva, o delator disse aos procuradores que, “no intuito de colaborar para não cometer injustiça”, queria esclarecer um fato noticiado pela imprensa envolvendo um bilhete escrito por ele ao ex-presidente da empreiteira Benedicto Júnior, o ‘BJ’, em 2002.
O manuscrito foi apreendido pela Polícia Federal em março de 2016 na casa de ‘BJ’ durante a Operação Acarajé, a 23.ª fase da Lava Jato. A anotação escrita em uma folha de caderno faz referência ao pagamento de 5% do valor de um contrato das obras da Mogi-Dutra em propina durante o governo Alckmin, em 2002.
No texto há a referência ao ‘valor da obra’, no total de R$ 68,7 milhões e, logo abaixo, a expressão “custos c/ santo = 3.436.500”. Havia antes o codinome ‘Apóstolo’, que foi rasurado e substituído por ‘Santo’.
Segundo Rodrigues, esse codinome se refere ao superintendente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) à época, Pedro Blassioli, já falecido. “O que saiu na mídia era que ‘Santo’ estava ligado a uma outra pessoa que não é essa pessoa, mas é uma pura coincidência. O ‘Santo’ aqui é o Pedro Blassioli, que era ‘Apóstolo’ e mudou para ‘Santo’ por alguma pessoa que rabiscou”, disse o delator. “Eu criei esse codinome de ‘Apóstolo’ porque o nome dele era Pedro, Pedro Blassioli. E assim ficou”.
O executivo da Odebrecht afirmou que os ‘custos’ lançados por ele na anotação ao seu superior era mesmo uma propina que o cartel de empreiteiras formado por Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão imaginava que seria necessário pagar ao superintendente do DER para dividir a obra. “Isso acabou não se concretizando. Foi um consórcio que não deu certo. As empresas não se acertaram com relação à liderança, à participação, e esse pagamento não chegou nem a ser mencionado com a pessoa (Blassioli)”, completou o delator.
Mesmo assim, ainda de acordo com Rodrigues, houve um ‘acordo de mercado’ e o contrato da duplicação da Mogi-Dutra foi definido em ‘sorteio’ entre as quatro grandes empreiteiras do País. Coube à Queiroz Galvão executar a obra com a proposta de R$ 68,6 milhões. Na abertura dos envelopes, em 2002, a Andrade Gutierrez, a OAS e a Odebrecht apresentaram propostas acima de R$ 70 milhões e foram derrotadas.
O codinome ‘Santo’ aparece em um outro material apreendido pela PF durante a Operação Omertà, 35.ª fase da Lava Jato. São e-mails trocados pelos executivos da Odebrecht com pedidos de pagamentos de porcentagens referentes a obras das linhas 2-Verde e 4-Amarela do Metrô de São Paulo.
As mensagens indicam um pedido de pagamento de R$ 500 mil, em 2004, relacionado a uma ‘ajuda de campanha com vistas a nossos interesses locais’. Uma delas, assinada pelo diretor da Odebrecht responsável pelo contrato da Linha 4, Marcio Pellegrini, e dirigida ao Setor de Operações Estruturadas, conhecido como ‘departamento de propinas’ da empreiteira, há uma referência ao codinome ‘Santo’. Alguns codinomes criados pela Odebrecht ainda são alvos de investigação da PF e do Ministério Público Federal.
O govenador Geraldo Alckmin não se manifestou sobre as declarações do delator da Odebrecht que o descolam da alcunha ‘Santo’.