A guerra de preços no mercado de petróleo continua. A Opep, organização que reúne grandes produtores, reafirmou na semana passada sua política, vigente desde meados do ano passado, de não restringir a oferta do óleo no intuito de sustentar o preço.
O impacto foi imediato. O barril, que custava US$ 100 em setembro de 2014, foi negociado a US$ 36 na semana passada, o menor patamar em uma década.
A Opep busca derrubar o preço para expulsar do mercado competidores que têm utilizado novas tecnologias de custo mais elevado. Entre os alvos principais estão produtores independentes dos EUA, cuja produção ganhou impulso com a extração do óleo de xisto.
Trata-se de estratégia bastante arriscada. Com a diminuição de preços, os países da Opep perdem muito no curto prazo –calcula-se retração de US$ 360 bilhões nas receitas de exportação desde meados de 2014. Até a Arábia Saudita precisará lançar mão de suas reservas para sustentar os gastos públicos.
No médio prazo viria a recompensa, com maior domínio de mercado e preços crescentes.
Por ora, há sinais de que a oferta ainda é excessiva. A produção norte-americana quase não caiu; em breve o petróleo do Irã também entrará em cena, com a redução das sanções comerciais.
Estima-se um preço próximo a US$ 40 ao longo de 2016 para que a oferta comece a se alinhar à demanda. Um retorno para o patamar acima de US$ 60 ocorreria somente a partir de 2017, ou mesmo depois –o ritmo desse ajuste depende da restrição na produção decorrente dos cortes de investimentos.
Em qualquer hipótese, o cenário será totalmente diferente daquele visto há poucos anos, quando o Brasil tomou a decisão de apostar no pré-sal. A Petrobras diz que o projeto continua viável mesmo com os novos preços e que o custo de extração vem caindo rapidamente. Além disso, a redução global de investimentos barateia toda a cadeia de suprimentos.
Pode ser, mas o quadro é obviamente difícil, pois grande parte das dívidas da empresa, hoje em torno de US$ 100 bilhões, foi contraída para financiar uma empreitada que agora se mostra menos rentável, talvez promotora de prejuízos.
A permanência do preço baixo por mais tempo não deve ser descartada. Nesse caso, a Petrobras precisar realizar revisão ainda mais ampla de custos e planos.
Na área financeira, a empresa registra progressos. Conseguiu alongar prazos de empréstimos e, no terceiro trimestre, ter saldo positivo nas suas operações. É preciso ação muito mais ambiciosa, porém, para adequar a estrutura administrativa da empresa à nova realidade.