Folha de São Paulo
As crises política e econômica que atingiram o país em 2015 e levaram à perda do selo de bom pagador junto às agências de classificação de risco e à saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda levaram o dólar a subir 49% no ano, na maior valorização anual registrada desde 2002, na primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,72% nesta quarta-feira (30), para R$ 3,955. No ano, se valorizou 49,4%. O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, registrou valorização de 1,96%, para R$ 3,950.
Em 2015, a alta foi de 48,4%. No governo Dilma, a moeda americana acumula valorização de 138% (confira abaixo).
A escalada do dólar em 2015 só não superou a sofrida pela moeda americana em 2002, ano da primeira eleição do ex-presidente Lula. Naquele ano, o dólar subiu 53,2%. Na época, a preocupação era outra: a de que um governo petista rompesse contratos firmados e causasse prejuízos aos empresários.
Já em 2015 não faltaram motivos para levar a moeda americana à casa de R$ 4. A falta de apoio do governo no Congresso para aprovar as medidas de ajuste fiscal necessárias para equilibrar as contas do país levou a agência Standard & Poor's a tirar o selo de bom pagador do país em setembro. Poucas semanas depois, o dólar atingiu a máxima do ano, ao encostar em R$ 4,25.
Este mês, foi a vez de a Fitch tomar a mesma decisão. A notícia levou Joaquim Levy a deixar o cargo de ministro da Fazenda, posto assumido por Nelson Barbosa, então ministro do Planejamento.
O nome não agradou o mercado, o que contribuiu em parte para a alta de 1,55% do dólar em dezembro. Ele é visto no mercado como um discípulo do ex-ministro Guido Mantega, ou seja, que privilegia o crescimento em detrimento do corte de gastos.
Além do cenário interno, o exterior também contribuiu para a valorização da moeda americana. Ao longo de 2015 o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deu várias sinalizações de que aumentaria os juros no país —o que acabou acontecendo em dezembro.
A expectativa em torno do aumento de juros nos EUA vinha causando ansiedade nos mercados a cada reunião do Fed nos últimos meses, sobretudo em mercados emergentes como o Brasil. A preocupação era que, com a melhor remuneração criada após o aumento dos juros, os títulos americanos atrairiam recursos aplicados nos países emergentes, de maior risco, pressionando a alta do dólar.
Outro fator que afetou a moeda americana foram as incertezas envolvendo o crescimento da China. Dados econômicos mostraram que o país estava longe da expansão robusta registrada em anos anteriores. As dúvidas provocaram fortes quedas nas Bolsas chinesas, gerando pânico nos mercados mundiais.
ÚLTIMA SESSÃO DO ANO
A alta do dólar no dia ocorreu em linha com o comportamento da moeda no exterior. A divisa americana ganhou força ante 18 das 24 principais moedas emergentes e subiu em relação a oito das dez principais moedas mundiais.
Dados do exterior ajudaram a pressionar a moeda americana. Os preços do petróleo voltaram a cair nesta sessão, após os estoques da commodity nos Estados Unidos apresentarem uma alta inesperada. O barril do petróleo Brent, negociado em Londres, teve queda de 3,73%, enquanto o WTI, dos EUA, caiu 3,51%.
E, assim como ocorreu nos últimos dias, o volume de negócios fraco afetou a cotação da moeda americana no Brasil. Além disso, no último pregão do mês ocorreu a formação da ptax (taxa média de câmbio calculada diariamente pelo Banco Central, cujo valor no último dia útil de cada mês serve como referência para contratos no mercado financeiro).
"No final do ano as saídas de dólar costumam ser mais volumosas, por causa das remessas de empresas ao exterior. Além disso, muitas empresas já estão de recesso. Não há grandes negócios que possam ser feitos neste momento", afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
Os investidores avaliaram a notícia de que o governo pagou R$ 72,4 bilhões em pedaladas fiscais, que inspiraram pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O BC realizou nesta tarde leilão de venda de US$ 1,4 bilhão com compromisso de recompra, com objetivo de rolar contratos já existentes. No entanto, não conseguiu vender os contratos. Além disso, não deu indicações sobre a rolagem dos contratos de swaps cambiais (que equivalem à venda futura de dólares) que vencem em fevereiro, totalizando US$ 10,431 bilhões.
No mercado de juros futuros, os contratos subiram na BM&FBovespa. O DI para janeiro de 2016 avançava de 14,130% para 14,135%. O DI para julho de 2016 subiu de 15,160% a 15,210%. Já o DI para janeiro de 2021 apontava taxa de 16,640%, ante 16,530% na sessão anterior.