BRUNO VILLAS BÔAS - Folha de São Paulo
Puxada pela alta dos preços dos alimentos e dos combustíveis, a inflação oficial brasileira acelerou forte em novembro e passou a registrar um avanço de 10,48% no acumulado em 12 meses.
Essa é a primeira vez que a inflação acumula uma taxa de dois dígitos desde novembro de 2003 (11,02%). Naquele ano, o câmbio disparou com as incertezas do mercado sobre como seria o primeiro governo do PT.
Em novembro, isoladamente, o IPCA foi de 1,01%, acima da verificado em outubro deste ano (0,82%) e do mesmo mês do ano passado (0,51%), informou o IBGE nesta quarta-feira (9).
Trata-se do índice mais alto para o mês de novembro desde 2002, quando atingiu 3,02%.
A inflação avança agora 9,62% em 2015, a maior para o período desde 2002. É um aumento bem maior que o teto da meta de inflação do governo neste ano, de 6,5% –o centro é de 4,5%, com margem de dois pontos para mais ou menos.
Pela previsão dos economistas consultados pelo Banco Central (BC), no boletim Focus, divulgado na segunda-feira, a inflação deve fechar o ano em 10,44%. No próximo ano, a expectativa é de inflação de 6,70%.
Como o IPCA acima do teto da meta, o presidente do Banco Central terá que publicar uma carta aberta ao ministro da Fazenda no início do próximo ano explicando porque falhou no cumprimento da meta.
Desde que o sistema de metas de inflação foi criado em 1999, isso ocorreu apenas três vezes: em 2001 e 2002, segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, e em 2003, primeiro ano do governo Lula.
TARIFAÇO
Os preços administrados pelo governo são os principais responsáveis pela escalada da inflação a dois dígitos nos últimos 12 meses. É o caso de produtos e serviços como energia elétrica, gasolina e gás de cozinha.
Estabelecidos direta ou indiretamente pelo governo, esses preços estavam represados nos últimos anos para evitar uma inflação ainda maior. Neste ano, foram liberados como parte do processo de ajuste da economia.
Como a energia elétrica é um item básico na planilha de custos de produtos e serviços, o alta dos preços criou um espiral inflacionário, alimentando os preços desde o condomínio do prédio ao salão de cabeleireiro.
Essa pressão dificultou ainda mais o trabalho do Banco Central (BC) de conter a alta dos preços, mesmo com a economia em recessão. O BC hoje atua para evitar que a inflação supere o teto da meta em 2016.