MARIANA HAUBERT - Folha de São Paulo
Em rota de colisão com o Planalto desde que assumiu a Presidência da Câmara, no início do ano, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) oficializou na manhã desta sexta (17) o seu rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff.
Cunha afirmou que, a partir de agora, será oposição. Mas enfatizou que não atuará contra o governo como presidente da Casa.
Cunha responsabiliza o Planalto pelo seu envolvimento nas investigações da Operação Lava Jato. Para ele, há uma articulação do governo para jogá-lo no centro da investigação. Nesta quinta (16), ele foi acusado pelo lobista Júlio Camargo de receber US$ 5 milhões de propina. Ele nega as acusações.
"Estou oficialmente rompido com o governo a partir de hoje. [...] Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo", disse, nesta sexta.
Ele acusou o governo de ter orquestrado uma campanha contra ele no âmbito da Lava Jato e disse que há um "bando de aloprados" no Planalto, mas se negou a responder quem seriam essas pessoas.
Em entrevista à Folha, Cunha já havia declarado que iria abandonar o governo. Segundo ele, o envolvimento de seu nome nas investigações é "tudo vingança do governo". "Parece que o Executivo quer jogar a sua crise no Congresso", disse Cunha à Folha.
'LAMA'
Cunha afirmou também que não será arrastado "para a lama" em que o governo se envolveu em atos de corrupção na Petrobras. "Essa lama em que está envolvida a corrupção da Petrobras, cujos tesoureiros do PT estão presos, eu não vou aceitar estar junto dela".
O parlamentar declarou ter provas da atuação do governo contra ele e informou que a Receita Federal está fazendo uma devassa fiscal em suas constas desde 23 de junho.
"É um constrangimento a um chefe de poder", disse.
Eduardo Cunha
PMDB
O presidente da Câmara disse, ainda, que defenderá o rompimento imediato do PMDB com o governo no próximo congresso do partido, que acontecerá em setembro.
Questionado sobre como ficaria o vice-presidente da República, Michel Temer –que é presidente nacional do PMDB– com a situação, Cunha afirmou não ver problema em o partido sair do governo e ainda assim Temer continuar como vice-presidente.
Apesar de ser da base aliada, o partido tem gerado tensão para o governo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), –que não é de partir para o ataque ao Palácio do Planalto verbalmente– tem preferido retaliar a presidente Dilma Rousseff em votações e manobras na Casa. Nesta quinta, por exemplo, anunciou medidas para efetivar a criação de duas CPIs incômodas ao Planalto.
Suas críticas também estão no balanço semestral do Senado, publicado na internet nesta sexta –ele iria dar uma entrevista coletiva sobre assunto, que foi cancelada.
No documento, o senador volta a defender a rediscussão do modelo de coalizão em vigor no país. "O método atual, de aparelhamento e fisiologia, está exaurido e precisamos, sempre, qualificar programaticamente as coalizões afim de preservar a independência dos Poderes e a solidez democrática."
O peemedebista reitera, no documento, que o ajuste fiscal promovido pelo governo caminha para ser um "desajuste social" por unir a "explosiva combinação" de recessão, inflação alta, desemprego e "juros pornográficos", que somente o trabalhador "pagou a conta do ajuste" e que não há horizontes de melhorias para o país após as medidas tomadas pelo Executivo.
"Não é a política que contamina a economia. Quem alimenta a crise política é a crise econômica", afirma.
O peemedebista diz que há uma "crise recorrente" no país, sem espaço para soluções "fora da lei". A colaboração do Congresso com o governo, segundo Renan, não pode ser confundida com "submissão ou leniência".
Renan, também investigado pela Lava Jato, criticou duramente nesta terça-feira (14) uma operação da Polícia Federal que vasculhou imóveis de senadores.