domingo, 5 de julho de 2015

"O valor do euro", por Caio Blinder

Com Blog do Caio Blinder - Veja

A crise grega complica o cálculo sobre o projeto europeu
A crise grega complica o cálculo sobre o projeto europeu
O euro sempre foi mais do que uma moeda. É jóia da coroa do projeto de unificação europeia depois da Segunda Guerra Mundial. A ironia é que a moeda comum de 19 países (no total a União Europeia tem 28 sócios) fundamental para cimentar o projeto corre o risco de desvalorização em caso de vitória do Não no referendo deste domingo na Grécia.
O governo cara de pau de Alex Tsipras garante que ele batalha pelo Não como ficha de barganha contra as condições de austeridade dos credores, mas no final das contas, sua vitória abrirá o caminho para a saída grega da zona do euro e eventualmente da própria União Europeia. É verdade que a perspectiva de saída da Grécia da zona do euro é indigesta para a maioria dos dirigentes e burocratas europeus, mesmo para aqueles que simplesmente não aturam mais as fanfarronadas do governo Tsipras.
Claro que o desenho da coroa europeia sempre foi mal formulado, com a jóia cambial desacompanhada da jóia fiscal e o descompasso é vital para explicar o atrito entre o norte da Europa chefiado pela Alemanha e o sul que tem a Grécia como o elo mais fraco.
Um baque agora como a crise grega não irá quebrar a coroa, mas ela ficará mais frágil, pois pela primeira vez um dos integrantes pode se desgarrar. A crise da Grécia por si tem desdobramentos, como o risco de contágio na zona do euro, e ainda por cima existe a  possibilidade de novas rupturas com o precedente aberto.
A entrada em si da frágil e desacreditada Grécia no projeto europeu já foi um equívoco. Caso especial por ser o “berço da democracia”, ela foi trazida para a União Europeia em 1981, cinco anos da Espanha e Portugal, e despejada na zona do euro em 2001.
Outros fatores desvalorizam o projeto europeu, como a crise de identidade britânica, o desafio autoritário da Hungria do primeiro-ministro Viktor Orban, o custo da longa crise econômica, o sentimento hostil contra imigrantes, mesmo dentro do bloco, e o desgaste gerado pelo alargamento do clube. No entanto, neste momento o foco é esta encruzilhada da Grécia indo ladeira abaixo.
A lógica do projeto europeu exige esticar e enrijecer a corda da integração econômica e política. Fica complicado quando alguns países resistem para transferirem recursos para parceiros que, por sua vez, se rebelam contra as condições para receberam a ajuda. A Grécia, especialmente se disser Não no referendo deste domingo, promete ser a primeira crise de muitas, com alguns sócios do clube europeus questionando o preço para manter o projeto valorizado e outros para seguir como parte dele.
Eu pessoalmente dou muito valor ao projeto europeu. Espero que os gregos votem Sim no referendo deste domingo e acredito que este será o resultado, pois os eleitores irão calcular que a depreciação será ainda maior com o Não.