Desconhecido dos mais moços, o empresário Mario Amato, ex-presidente da Fiesp, escandalizou o Brasil com suas frases. “Somos todos corruptos”, disse, por exemplo, em 1997. Ele sustentava a tese segundo a qual o Brasil tolerava toda sorte de irregularidades —da sonegação de tributos às propinas arrancadas da plutocracia pelo caixa de Fernando Collor, o PC Farias.
Decorridos 18 anos de tolerância com as falcatruas, o brasileiro é arrancado do seu sonambulismo pela Operação Lava Jato. Em menos de 48 horas, o juiz Sérgio Moro enviou ao banco dos réus os presidentes das duas maiores construtoras do país —Marcelo Odebrecht, da Norberto Ordebrecht, e Otávio de Azevedo, da Andrade Gutierrez. Ambos estão em cana esde 19 de junho.
Simultaneamente, escorando-se em tabalho minucioso da PF e da Procuradoria, o doutor Moro começou a forçar a porta do setor elétrico, ordenando as primeiras prisões e batidas de busca e apreensão. Não se sabe quem sobreviverá à Lava Jato. Mas, considerando-se a quantidade de pontas disponíveis no novelo, a operação sobreviverá à sucessão de 2018.
Noutra de suas frases célebres, Mario Amato declarou, em 1989, que 800 mil empresários deixariam o país se Lula virasse presidente da República. Nessa época, Lula era o “sapo barbudo”. Imaginava-se que, guindado ao Planalto, restauraria a ética. Venceu Fernando Collor.
Lula teve de esperar mais 13 anos, um impeachment e vários escândalos para se eleger presidente da República, em 2002. Antes, beijou a cruz. Barba aparada, ternos bem cortados, o ex-sapo assinou a Carta aos Brasileiros. Com modos de príncipe, comprometeu-se a manter os contratos e a estabilidade econômica. Acabou Mantendo muito mais do que isso. Preservou a ilicitocracia.
Os 800 mil empresários de que falava Mario Amato não fugiram para o estrangeiro. Quem fazia negócios sob a mesa acertou-se com o PT e com todos os esquemas que escalaram o Planalto junto com Lula. Até Fernando Collor se ajeitou. Num primeiro estágio, deu em mensalão. Depois, petrolão. Agora, eletrolão. Vem aí o…
A Lava Jato oferece ao Brasil uma rara oportunidade para provar a si mesmo que não é um país de corruptos.