Cristiane Jungblut - O Globo
Casa aprova apenas a urgência do projeto sobre repatriação; ministro telefonou até para parlamentares da oposição

Sem aceitar os apelos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para que o pacote do ICMS fosse votado imediatamente, o Senado adiou para agosto a votação das propostas do governo. Na sessão desta quinta-feira, foi aprovado apenas o pedido de urgência para votação em agosto do mérito do projeto que trata da repatriação de ativos brasileiros no exterior. A oposição concordou em votar o requerimento de urgência, mas exigiu que o mérito da proposta ficasse para o próximo mês.
Além do pedido de urgência, o Senado também aprovou o requerimento de apensamento do projeto que trata da repatriação a outro projeto sobre o assunto que já está em tramitação no Senado. O apensamento foi aprovado por 40 votos a favor e dois não. Já a urgência foi aproada de forma simbólica, com voto contrário do líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que havia consenso para votar os requerimentos de urgência para o projeto de repatriação - de autoria do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) - e de junção deste projeto a um outro já existente e cuja tramitação está mais adiantada.
— Vamos votar o requerimento de apensamento e o de urgência e voltaríamos em agosto para ver se há convergência (no mérito) — disse Renan.
Na quarta-feira, Levy se reuniu com o senador Romero Jucá (PMDB-RR) para discutir a estratégia para a votação. Desde a noite de quarta-feira e ao longo desta quinta-feira, Levy disparou telefonemas para senadores da base aliada e da oposição, pedindo que fosse votada a Resolução que unifica as alíquotas do ICMS em 4%.
O ministro queria a aprovação desta resolução como trunfo para a reunião do Confaz, marcada para esta sexta-feira.
O acordo foi costurado com os líderes do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), e do DEM, Ronaldo Caiado (GO).
Levy queria a aprovação de pelo menos duas propostas do pacote: o projeto de repatriação e a resolução. O governo espera obter cerca de R$ 40 bilhões num primeiro momento com a repatriação de recursos, para ajudar a fechar as contas do governo.
O chamado pacote do ICMS contém quatro propostas: A Medida Provisória editada pela presidente Dilma Rousseff e que cria o Fundo de Compensação dos Estados pelas eventuais perdas de receita com a unificação das alíquotas do ICMS em 4%; Resolução do Senado que unifica as alíquotas do ICMS em 4%, a partir de 2017; Projeto do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) que trata de regras de repatriação de recursos do exterior;
e uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) garantindo que os recursos da repatriação serão efetivamente destinados aos estados.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), fez a proposta do acordo, contando que tinha recebido telefonema de Levy.
— O ministro manifestou, em telefonema, desejo de votar a Resolução do ICMS. Mas há o consenso de que será a última medida a ser votada. Vamos deixar o mérito para a primeira semana de agosto.
— Não estaremos perdendo 15 dias e sim ganhando 15 dias — disse Cunha Lima.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), concordou com o acordo, mas votou contra as medidas.
— Somente em agosto trataremos do mérito destas questões —acrescentou o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
Levy chegou a ter um áspero diálogo com o senador Walter Pinheiro (PT-BA), na sessão de quarta-feira à noite. O petista alertou Levy que a Resolução sobre a unificação era a proposta mais difícil a ser votada e que não adiantava pedir sua aprovação imediata, irritando o ministro. O telefonema foi presenciado por outros senadores, que também foram procurados por Levy.