Submetida desde o ano passado aos rigores da dieta criada pelo médico argentino Maximo Ravenna, Dilma Rousseff teve de introduzir uma novidade no seu cardápio. Engoliu todos os sapos que Eduardo Cunha e Renan Calheiros lhe atravessaram na garganta nos últimos dias. Fez isso por absoluta necessidade, sem esboçar indigestão.
Em reunião com o núcleo de coordenação política do governo, Dilma combinou com ministros e líderes no Congresso que o governo reagirá aos ataques dos presidentes da Câmara e do Senado com humildade e moderação. Ou seja: estava completamente fora de si.
Noutros tempos, o rompimento de Cunha e as críticas de Renan à política econômica fariam Dilma entrar em erupção. Hoje, fraca e impopular, a presidente não tem musculatura para comprar brigas. Faz política. Enquanto engole batráquios, tentará restaurar o sistema de cooptação parlamentar.
Destacado para falar aos repórteres, o ministro peemedebista Eliseu Padilha (Aviação Civil), que administra o balcão de cargos e verbas em nome do articulador e vice-presidente Michel Temer, martelou a tese segundo a qual o rompimento de Cunha é pessoal e qualificou Renan como um aliado do governo.
De Nova York, onde se encontra, Michel Temer chamou os tremores que distanciam o Congresso do Planalto de “crisezinha”. Para compreender o otimismo do governo, deve-se comparar o segundo mandato de Dilma a um prédio de dez andares.
Ao reassumir a Presidência, há quase sete meses, Dilma escalou o topo. Em seguida despencou do décimo andar. No momento, está em queda livre entre o sétimo e o sexto andar. E o governo festeja: “Até aqui, tudo bem.”