Segunda maior economia do planeta e maior parceira comercial do Brasil, a China viu, na segunda (27), o mercado de ações de Xangai cair 8,5%, maior queda em oito anos. E isso a despeito de intervenção maciça pelas autoridades chinesas depois da queda de 30% no valor das ações em três semanas. Milhões de pequenos investidores especulativos chineses foram seriamente prejudicados por esse colapso, e a ironia é que isso aconteceu exatamente por conta da maneira pela qual o capitalismo de Estado chinês está funcionando, e pelo fracasso de Pequim em seus esforços para escorar o mercado nacional de ações.
A culpa cabe em parte à desaceleração na economia chinesa. O crescimento foi de 7,5% no ano passado, o mais lento em 24 anos, e muitos analistas antecipam que a China terá dificuldade para atingir 7% de crescimento neste ano. Muita gente se preocupa com a possibilidade de a China passar por uma rápida virada para crescimento lento. De qualquer forma, a notícia é muito ruim para o Brasil e afetará as exportações brasileiras de petróleo, soja e de uma vasta gama de matérias-primas brasileiras vendidas à China.
Além disso, as grandes companhias mundiais de petróleo agora postergaram US$ 200 bilhões em gastos em 46 grandes projetos de petróleo e gás natural, como resultado da queda nos preços do petróleo cru. Já que as plataformas de perfuração de petróleo em águas profundas custam centenas de milhares de dólares por dia de operação, as petroleiras planejam economizar milhões ao adiar projetos dispendiosos.
A produção de petróleo de xisto betuminoso nos Estados Unidos, alvo da política saudita de manter o atual nível de produção, provou ser muito mais resistente do que o esperado. A produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) cresceu. E agora o Irã se prepara para reentrar no mercado. Os cálculos de preços futuros hoje preveem recuperação lenta, que talvez os reconduzam aos US$ 60 por barril. Mas isso também é má notícia para o Brasil, onde a exploração de petróleo em águas profundas é muito cara, e onde a Petrobras afirma que o petróleo e o gás natural contribuem com até 13% do Produto Interno Bruto (PIB).
O economista Nouriel Roubini, que previu que o boom imobiliário nos EUA resultaria em crise financeira mundial, jamais foi fã dos BRICS. Ele disse ao "Financial Times" nesta semana que "Brasil e Rússia estão em recessão, a África do Sul sofre problemas estruturais sistêmicos e a China está em desaceleração estrutural. São todos países muito diferentes entre si". Mas é precisamente a esses parceiros que o Brasil atrelou sua carroça. E tudo isso, somado aos dilemas políticos e econômicos já graves do país, ameaça causar a tempestade perfeita.