O que existe em comum entre Donald Trump e Alexis Tsipras, além de sobrenome que começa com a letra T? Um bom sacador global, Moisés Naím, conseguiu construir a ponte entre as fantasias do magnata americano que ambiciona a Casa Branca e as do primeiro-ministro grego que ambiciona ao menos permanecer no poder.
Trump é uma marca do capitalismo brega e gosta de ostentar riqueza. Tsipras tem uma vida pessoal modesta e gosta de ostentar sua retórica contra o capitalismo. Nos últimos tempos, estes dois personagens fulgurantes (eu prefiro o cabelo de Tsipras) estão no centro do palanque.
O primeiro-ministro armou as maiores encrencas em seis meses de poder à frente de uma coalizão de extrema esquerda em aliança com um partido de extrema direita. Ele blefou como pôde para reverter a austeridade, mas acabou se curvando à União Europeia depois da palhaçada de um referendo em que os gregos disseram Não ao aperto. Situação está em um sufoco tão grande que até o FMI, que costumava ser achincalhado por esquerdistas como Tsipras, acha que é preciso dosar a pílula da amargura para os gregos.
Os líderes republicanos, assim como a maioria dos candidatos presidenciais do partido, engoliram a pílula Trump até onde deu (para apaziguar parte da base conservadora), mas o bufão passou dos limites com os insultos disparados contra o venerável senador John McCcain (ex-prisioneiro de guerra no Viet nã, fazendo pouco do seu heroísmo e patriotismo).
Autopromocional, bufão e demagogo crônico, Trump já criara encrenca ao hostilizar a comunidade latina nos EUA (e a América Latina em geral) ao apontar os tantos “estupradores e criminosos” entre imigrantes ilegais (embora tenha dito que conhece alguns mexicanos de bem).
A grande maioria dos líderes europeus veem Tsipras com horror e ele perdeu o capital de confiança com seus rompantes e demagogia (isto antes de se curvar à realidade). Líderes republicanos estão horrorizados face aos danos que Trump pode causar à credibilidade de um partido empenhado em impedir que os democratas ganhem um terceiro mandato consecutivo na Casa Branca com Hillary Clinton nas eleições de 2016.
O ponto essencial de Moisés Naim é que Alexis Tsipras e Donald Trump estão no centro dos debates sobre duas questões cruciais para a humanidade: “Como resgatar uma economia que está fora dos trilhos e como lidar com o desafio da imigração”. São problemas complexos e quando no meio do caminho surgem bufões e demagogos a busca de soluções viáveis torna-se ainda mais difícil.
O consolo é que Trump nunca será presidente dos EUA. No caso grego, há o desconsolo de um país que se mostra inviável, com ou sem Tsipras. O fato é que, como arremata Moisés Naím, “Tsipras e Trump “ficarão marcados como os protagonistas de duas farsas imperdoáveis”.