Deflagrada há um ano e um mês, a Operação Lava Jato começa a produzir suas primeias condenações. Nesta quarta-feira, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, condenou oito pessoas por desvios na Petrobras. Entre elas o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o tesoureiro Alberto Youssef. Súbito, o país descobre que a Justiça, normalmente cega, com a balança desregulada e a espada sem fio, pode aguçar o seu olfato.
Deve-se a novidade a uma ferramenta nova. O aparato de controle do Estado passou a dispor da ferramenta da delação premiada. O sujeito confessa os seus crimes e dedura os seus cúmplices. Se as informações vierem acompanhadas de provas ou de informações capazes de levar os investigadores às evidências, os delatores são beneficiados com o abrandamento das penas —como sucedeu, aliás, com Paulo Roberto e Youssef.
Alguns dos condenados poderão recorrer da sentença. Mas os delatores tiveram de abrir mão dessa prerrogativa. Afora as condenações, há um subproduto a ser festejado: o Estadojá começou a reaver parte da dinheirama obtida pilhagem. Só de Pedro Barusco, outro delator, a repatriação soma US$ 97 milhões, entesourados na Suíça.
Os advogados se queixam muito da delação. Natural. A confissão elimina a perspectiva de lucro com os recursos embromatórios. É óbvio que o suor do dedo indicador os criminosos deve ser explorado com responsabilidade. Depoimentos não substituem provas. Mas, a julgar pelo insucesso da maioria das investidas contra decisões do juiz Moro nos tribunais superiores, a Lava Jato não parece ser um exemplo de irresponsabilidade. Polícia, procuradores e juiz realizam um trabalho notável.
No Brasil, um dos principais problemas da corrupção é que o crime é perto e a Justiça mora muito longe. A delação revela-se um valioso atalho ligando a mão grande ao castigo.
